Hoje assisti a 9ª Sinfonia de Beethoven com a Orquestra Sinfonica de Santo André e o Coral de Santo André, depois de um booomm tempinho desde que ouvi pela primeira vez. De lá para cá eu ouvi ela inúmeras vezes, em especial o 3º movimento, em que se tornou muitas vezes a minha música de nanar numa sexta. Além de ter ouvido diversas interpretações.
Das várias que ouvi, minhas prediletas são as de Fricsay de 1958, a de Furtwangler de 1954, a de Toscanini acho que é de 1950 e a de Karajan de 1977. Cada um tem suas peculiaridades, que as tornam únicas. Por exemplo, o 2º movimento de Toscanini é imbatível, ele faz uns crescendo absurdos! Inacreditáveis! Perfeitos! Já o 3º movimento, detestei, é rápido e até mesmo meio que sem alma, como que tocada por um ateu, num movimento muito cristão. A de Futwangler tem tudo de bom, é realmente extraordinário, todos os movimentos são impecáveis; mas não teve um segundo movimento tão extraordinário quanto o de Toscanini; mas tem, em certos aspectos, o melhor 3º movimento que já ouvi, sobretudo, sem dúvidas, a melhor interpretação daqueles clarins dos metais; pois em geral; é um dos únicos que realmente parece se encaixar com o que vem acontecendo no movimento. A do Karajan de 77 também é incrivelmente boa, sobretudo o 3º movimento, apenas os clarins dos metais neste não ficaram tão mesclados quanto a do Futwangler; e é um movimento que transborda alma; mas no quarto movimento parece não ter drama, o final parece chegar repentinamente. (Já acabou?!) E a do Fricsay é a mais equilibrada no todo mas nada que se destaca muito.
Bem, depois de ouvir todos esses monumentos. Em certos aspectos é difícil ouvir novamente a obra, sem que seja algo monumental. Há momentos que simplesmente me parece que os brasileiros, ou pelo menos a orquestra, os músicos, apenas tocam notas com suas devidas dinâmicas, mas não interpretam. Bem, o primeiro movimento, ao meu ver faltou energia, e uma crescente idéia clara do tema no decorrer; também faltou um pouco de acustica, o som dos contra-baixos estavam pesados demais, meio que tampando, de algum modo os demais nipes, as madeiras ficaram meio que com um som apagado, os cellos, sumidos, já a trompa mandou muito bem mesmo, acho que excepcional em todos os movimentos. Ficou no geral parecendo um discurso mal discursado, em que se chegou repentinamente no ponto final.
No segundo movimento, o que, segundo o regente, Carlos Moreno, era para soar como uma guerra, algo militar, uma luta; creio que perdeu essa energia e marcação e se tornou redundante por demais. Acabou se tornando 'um movimento longo', novamente, voltava a expor o mesmo tema quase como se não tivesse mais nada a propor, nenhuma expectativa a mais a nos dar. Alguns crescendendos ficou claramente do modo escada, ao invés de modo tão 'gradiente' como Toscanini fez. A guerra mesmo não se viu. Acho que faltou interpretação, talvez por parte dos musicos. Aliás, que guerra é essa? Depois de muito ouvir, é uma guerra contra a própria alma do homem, no sentido de contra a tudo aquilo que é fútil, ruim, paixões, a luta interior, e algum tipo de declaração contra a pobreza dos homens, no sentido espiritual, dos homens que não tem uma alma, dos homens que correm futilmente pela vida, dos homens que não buscam a verdadeira fraternidade, amor entre os próximos (como é escancarado no quarto movimento). É quase como a angustia de arrependimento. É essa luta, que acho que deve ficar evidente neste movimento. Mas isso se perdeu, ao meu ver, ficou parecendo apenas uma exposição do tema, repentinas vezes, de modo cansativo e sem energia.
O terceiro movimento, a oração. Bem, sabe quando as vezes as pessoas ou nós mesmos fazemos uma oração do tipo "rapisódia". Só para dizer que orou, rapidamente. Este movimento tem que abrir o coração para Deus, tem que ser profundo, tem que esquecer o tempo até se perder nele, é está a impressão que as de Karajan e Futwangler dão, você esquece do 'relógio', das horas passando, é como se o tempo congelasse ali, e ali você fica indeterminado, e tipo, você não quer sair, não quer que acabe nunca. É uma oração que cada vez você se expõe e abre mais para Deus, vai se elevando cada vez mais ao sublime (faltou muito essa 'elevação'); é quando o 'homem arrependido' do segundo movimento se entrega totalmente na mão de Deus e começa a receber a dádiva, a benção, e a mensagem dEle (o 4º movimento). Este movimento tem que preparar a alma para o 4º movimento. Eu sempre o escuto de olhos fechados, parece não fazer sentido algum de outro modo, talvez por estar acostumado a orar de olhos fechados. Bem, aí o canglor dos metais também ficou tão estranho com o todo quanto a do Toscanini, apesar que o segundo até que ficou melhor. Além de alguem das paletas ter dado 2 'apitadas' que simplesmente não se espera de um músico profissional, que foram tão grotescos quanto alguem na platéia soltando um berro.
O quarto movimento. Bem, até agora não ouvi nenhuma versão que me agradou totalmente no quarto. Talvez a de Fricsay seja a mais coerente no todo e a do Futwangler em diversos outros aspectos, porém energético demais, até quando não deveria ser. Mas a impressão que tive com a OSSA foi que correu com os primeiros movimentos para chegar logo neste 4º. Foi o movimento melhor trabalhado nas dinamicas entre outros. Talvez, no inicio o Carlos Moreno até exagerou no drama para expor o tema principal. Acho que não faltou energia, mas faltou uma energia mais coerente, focalizada num objetivo, parece ter sido uma energia que ficou muito dispersa. Ficou muito martelado e marcado o movimento, o coral cantou muito intensamente, parece que cada sílaba era um acento marcado, e sempre com muita potencia de voz (parecia até que queriam exibir a capacidade vocal... muito mais do que 'criar' um poema). O quarteto foram ótimos, o baixo principalmente, uol!, incrivel! Já o tenor começou um pouco afobado mas foi melhorando muito no decorrer, as mulheres foram boas, mas de algum modo, parece ter faltado voz nelas, para nivelar com os demais, sobretudo no contra-alto. Mas foi bom, foi bem energético, no sentido de alegre; o tema foi bem expostos sobre diversas cores e tons diferentes. Se percebia claramente que todos sairam embedecidos de alegria e animo, como é a proposta de Beethoven. (que diferença do final da Sagração da Primavera de Stravinsky, onde se parecia ter saido de uma cena de terror).
Outra coisa que faltou, bem, segundo o Carlos Moreno, para Beethoven não existia meio-termo, ou era claro ou era escuro. E acho que isso ficou faltando. Justamente esta evidencia do som escuro, e do som claro. Do inicio em ré menor, e do final em ré maior. Dando muitos tons intermediários, como o cinza. Até mesmo no quarto movimento, poucos foram os verdadeiros 'clarões'; e no terceiro, faltou o tom puro, o famoso "branco como a alva" que torna o mov. celestial. Já, na minha vaga memória do que lembro do concerto de 2009, este aspecto tinha sido muito bem trabalhado.
Outra coisa que faltou, bem, segundo o Carlos Moreno, para Beethoven não existia meio-termo, ou era claro ou era escuro. E acho que isso ficou faltando. Justamente esta evidencia do som escuro, e do som claro. Do inicio em ré menor, e do final em ré maior. Dando muitos tons intermediários, como o cinza. Até mesmo no quarto movimento, poucos foram os verdadeiros 'clarões'; e no terceiro, faltou o tom puro, o famoso "branco como a alva" que torna o mov. celestial. Já, na minha vaga memória do que lembro do concerto de 2009, este aspecto tinha sido muito bem trabalhado.
Não sei se foi isso, mas acho que houve um toque/foco popular. Sobretudo por ter meio que 'corrido' nos 3 primeiros movimentos, para chegar logo no mais popular, o 4º. E enfatizar muito a marcação e a energia, que em geral, é que mais 'comove' o comum brasileiro. Talvez isso foi até bom, levei muita garotada, alguns, primeira viagem na 9ª sinfonia e tals... e isso ficou bem mais agradavel para eles, se percebia o tédio bem exposto na cara deles, nos primeiros movimenots, no terceiro nem vi, fiquei de olhos fechados, mas não acho ter sido diferente; talvez os que mais se desligaram da música, mas no 4º movimento ficaram eufóricos. Ou seja, talvez um modo de 'atrair os novos', e buscar popularizar a música de Beethoven e erudita; se formos pensar a longo prazo.
Mas eles gravaram. Não creio que irão lançar um CD com esta gravação - eu não compraria, isto que admiro a OSSA. Acho que falta muito ainda para explorar mais a obra num sentido artístico, uma interpretação 'almatica'. Talvez até mesmo a necessidade maior de uma experiencia religiosa. Fico imaginando como pode um cara que nunca teve uma 'oração para valer' na vida, pode conseguir tocar o 3º movimento de modo a soar além do que a partitura e regência mandam. Acho que está 'falta de alma' fica exposto na OSSA por ter muita dificuldade em interpretar movimentos largos, acho que o único que ficou bom até hoje foi o da 5ª de Mahler - dos que ouvi; nos demais, a música tende a morrer. Mas em geral, os brasileiros são assim, talvez seja uma questão cultural essa dificuldade do brasileiro de interpretar 'o inverno' europeu e de ter tanta introspecção quanto se vê na História da Europa; do mesmo modo, como dizem faltar 'rebolado' e 'a energia de brasileiro' quando uma orquestra européia toca obras brasileiras, como O Guarani de Carlos Gomes, ou mesmo Santoro e Villa-Lobos.
Por que isso? O que falta para haver mais introspecção na cultura do brasileiro?!
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