11 fevereiro 2011

Cronicas de Nárnia - O Final - A Última Batalha

O último conto, a Última Batalha, do Crônicas de Nárnia de C. S. Lewis, é o melhor de todos em muitos aspectos, sobretudo no do drama que chega até soar suspense. E de todos, é de um cunho teológico e cristão ainda muito maior.

Fé entre a verdade e a mentira
De inicio, o primeiro grande conflito e batalha é travado no ambito da crença. Manhoso, o macaco egoista e mau-intencionado, cobre o burro Confuso com uma pele de leão, fazendo-o passar por Aslam. Enganando assim todos os narnianos, os quais nunca viram Aslam pessoalmente, mas que o respeitavam, temiam, sabiam que era como um leão falante, e estavam dispostos a morrer por ele. Menos Passofirme, o centauro que observara atentamente as estrelas e percebera que algo horrível estava para acontecer em Narnia, e que não havia profecia nas estrelas que Aslam apareceria em Narnia. E desde modo, Manhoso, o macaco, consegue dominar Narnia na palma da mão, fazendo acordo com os calormanos, fazem dos narnianos escravos, causando mal, dor, trabalhosos forçados, matando criaturas, e derrubando as arvores das dríades. Estavam destruindo o mundo de Nárnia, estavam destruindo os próprios narnianos. Mas ninguem levantava um "a" de rebelião, ou o faziam, até que então viam Aslam, ou melhor, Manhoso. Acreditavam - na audácia do macaco - que fizeram grande mal, que haviam pisado muito na bola com o Leão, e por isso estavam sendo castigados.

Mais adiante, Tirian, Jill e Eustáquio descobrem toda a farsa e o trama feito entre o macaco e o carlomano Rishda Tarcaã, e que o Leão, era na verdade um jegue com pele de leão. E no meio disso, eles conseguem libertar vários anões que estavam sendo levados para trabalharem de escravos nas minas de Tirosc pelos calormanos. Contam a eles então "a verdade", mas a resposta que receberam foi:

"- Escutem aqui, meus chapas - disse o anão negro, cujo nome era Grifo -, não sei quanto a vocês, mas já estou cheio dessa história de Aslam. Já escutei sobre ele mais do que gostaria de ouvir para o resto da vida.
...
- Vocês devem estar pensando que somos fracos da bola, isso, sim - disse Grifo - Já fomos enrolados uma vez e agora querem nos enganar de novo. Não queremos mais saber de conversa sobre Aslam. Vejam só! Olhem para ele! Um burro velho de orelhas compridas!
...
- E, pelo jeito, você conseguiu uma imitação ainda melhor! - retrucou Grifo - Não, muito obrigado. Já nos fizeram de bobos uma vez e ninguém vai nos enganar de novo."


Neste ponto vemos um ponto muito especial abordado por C. S. Lewis, e praticamente, muito aplicavel ao nosso mundo hoje. É praticamente um paralelo feito para o que aconteceu basicamente com a Igreja Católica na Idade Média, e outras religiões, sobretudo pagãs, que houveram no mundo, que propagaram uma "fé enganosa", através de ousados "MACACOS", usando de crenças (talvez até verdadeiras) das pessoas, para dominá-las, enriquecer os próprios bolsos, e se dar muita comodidade com nozes e bananas, enquanto os demais, passavam miséria, ou trabalhos forçados entre outros. E sempre tentavam controlá-los a partir do medo.

Além disso, quando fizeram acordo com os calormanos, tiveram que tambem aceitar e fazer acordo com a crença dos calormanos no seu deus Tash. O qual era o oposto de Aslam (certamente, descrito como se fosse uma representação do diabo, ou Satanás). E assim, começaram a enrolar os narnianos, mudando as crenças, e dizendo que Aslam e Tash eram o mesmo, apenas nome diferentes, ou quando Aslam ficava bravo. E entrava num mar de contradições, que quando complicava muito, lançava o medo sobre os acovardados, ignorantes e ingênuos. E mais, e nisso, o Macaco se dizia ser o unico mediador entre Aslam e os narnianos. Só ele podia falar pessoalmente com Aslam. Pois, ele não queria que ninguem descobrisse que ali, na verdade, Aslam não estava, e que era Manhoso, logo, um engano. Isso, também foi o que aconteceu, sobretudo na Igreja Católica, quando passou a fazer acordos e alianças com o Estado Romano, e com povos pagãos, acabou tendo que adquirir para si costumes pagãos, tiveram que mudar os tempos e a Lei, mudaram coisas na Palavra de Deus, e questões da Biblia, e passaram a colocar o Papa como o mediador supremo entre Deus e o homem, e padres entre homens e Deus para pedir perdão.

Mas por fim, qual foi o resultado, o mal de tudo isso? Mesmo, quando Tirian libertou os enganados Anões. Pensou que os anões passariam imediatamente para o seu lado, e lutariam por Narnia, e pela verdade, e pelo verdadeiro Aslam. Mas não, os anões, se tornaram egoistas. Querendo cuidar do próprio nariz. Não queriam mais acreditar mais em nada, passaram a tomar a postura, semelhante a que hoje em dia muito se vê, a dos céticos, agnósticos e ateus. Querendo cuidar do próprio nariz sem se submeter a ninguém.

Aí está uma grave consequencia dessa confusão e enganos feitos com a religião. E que aconteceu no nosso mundo, e hoje se mostra por uma diversidade imensa de denominações cristãs e pagãs, e cada uma falando uma coisa, e misturando várias coisas contraditórias em si, como "Aslam" e "Tash". E então, muitas pessoas, com raiva de serem enganadas, com raiva de saberem as verdadeiras causas de muita igrejas e pessoas (a de 'bananas e nozes'), se opõe a tal crenças, e simplesmente passando a acreditar e não crer em mais nada. Um efeito ainda mais devastador; impedindo-os de verem e lutarem pela causa, pela fé verdadeira.

O Clima de Fim de Mundo
A Última Batalha tem um clima super denso, de tenso, de perseguição, a todo momento os que crem na verdade, que não são enganados pelo falso Aslam, são perseguidos. Assim como Tirian foi condenado a morte. E os narnianos um a um eram mortos. Tirian e os demais fiéis narnianos passam por uma ultima batalha após serem, aparentemente, mortos. Mas antes disso, ocorre que praticamente tudo dá errado. Chega a ser desesperador, pois todos os planos dão errado, desde a queda de Cair Paravel, a morte de Passofirme, e a astúcia do Macaco, em dizer que haviam pessoas por aí andando com um burro com pele de leão dizendo que era as Aslam, misturando a verdade com a mentira, de modo que preveniria os narnianos a acreditar na verdadeira história da farsa.

Todo este clima de fim de mundo, é descrito na Biblia que ocorreria nos ultimos dias da Terra, antes da Volta de Jesus. Os verdadeiros cristãos, que realmente souber da verdade, irão passar por uma terrível perseguição, enquanto tentariam pregar a verdade para os demais, e indecisos, que a esta altura estariam sendo enganados pelos poderes politicos e religiosos, inclusive, ao "Falso Cristo" que iria aparecer fingindo ser o próprio Jesus, mas que a própria Biblia deixa avisado que é Satanás, e nos dá claros sinais de como saber que é o falso.

A doutrina do arrebatemento
Outra coisa presente em Nárnia é uma doutrina, provavelmente da religião de Lewis, do qual a morte não é bem uma morte. Mas quando se morre, se vai imediatamente para o Céu, ou para algum tipo de inferno. Como se a morte em si, o "sono" dito por Jesus, não ocorresse. Ok. Mas vamos deixar isso de lado.

O fim de Nárnia
Acontece então que Nárnia é destruida, de um modo muito destruidor, em que há muitas calamidades bizarras na natureza, como um tipo de dilúvio, a queda das estrelas, uma plena escuridão, o fim da das arvores, de modo que fica totalmente desolada e sem vida, apenas com alguns seres, descritos como se fossem demonios. O que me fez lembrar muito na doutrina do Milênio da Igreja Adventista, em que Satanás e seus anjos (os demonios) ficariam presos na Terra desolada e vazia por mil anos. Mas não sei se Lewis conhecia isso, ou tinha essa idéia, ou parcialmente.

Não se brinca com o Inimigo
Manhoso (o macado) e o Rishda Tarcaã ambos não acreditavam nessas figuras, como Aslam e Tash. E invocaram o nome dele, como brincadeira e zombaria, e dizendo que era o mesmo que Aslam. Bem, no final, Tash, aparece, e fica com eles, que lhes pertenciam. E aparentemente os levam para o Inferno (algo que aparentemente Lewis também acreditava).


Os anões céticos
Há uma descrição também um tanto estranha de um grupo de anões que aparentemente forma salvos, para este aparente Céu descrito. Contudo, que ficaram presos em suas mentes, de tão céticos, imaginando ainda estar dentro do celeiro, na escuridão, com frio, rodeado de capim, e paredes de todas de madeira, e ali ficavam, não acreditando em nada. Não aceitavam ajuda nenhuma. Nada Aslam podia fazer. Eles simplesmente decidiram descrer em Aslam e em qualquer coisa surreral e extraordinária. E então se aprisionariam nisso, que chamavam de realidade.

"- Viram só? - disse Aslam. - Eles não nos deixarão ajudá-los. Preferem a astúcia à crença. Embora a prisão deles esteja unicamente em suas próprias mentes, eles continuam lá. E têm tanto medo de serem lubridiados de novo que não conseguem livrar-se. Mas, venham comigo, meus filhos. Tenho um outro trabalho a fazer."


No Céu
Lewis passa os ultimos 2 capitulos apenas tentando descrever o Céu, a Nova Vida, a verdadeira vida. O encontro com todos os amigos, e parentes, dos mais antigos ao mais novos, os que morreram, os que foram transladados (Ripchip), todos com muita felicidade e alegria. E uma descrição incrivel, uma verdadeira pintura surrealista, que não ousarei descrever com as minhas palavras, mas se quer saber, então leia.

Os salvos ignorantes
Entre os carlomanos, um sincero, foi salvo, para o Céu, recebendo a benção de Aslam, era Emeth. Ele era um servo de Tash, pelo menos acreditava nisso. E detestava Aslam. De modo que seu encontro com Aslam foi assustador para ele. E então ele faz uma descrição que acho que vale a pena escrever:

"- Passei por muita grama e muitas flores e encontrei saudáveis e deleitosas árvores de todos os tipos, até que, em um lugarzinho estreito entre dois rochedos, avistei vindo ao meu encontro um enorme Leão. ... Então prostei-me aos seus pés, pensando: "Esta é certamente a hora da minha morte, pois o Leão (que é digno de toda a honra) bem saberá que, durante toda a minha vida, tenho servido a Tash e não a ele. No entando, melhor é ver o Leão e depois morrer do que ser Tirosc do mundo inteiro e viver sem nunca havê-lo encontrado." Porém, o glorioso ser inclinou a cabeça dourada e me tocou a testa com a língua, dizendo: "Filho, sê bem-vindo!" Mas eu repliquei: "Ai de mim, Senhor! Não sou filho teu, mas, sim, um servo de Tash!" "Criança", continuou ele, "todo o serviço que tens prestado a Tash, eu o considero prestado a mim." Então, tão grande era o meu anseio por sabedoria e conhecimento, que venci o temor e resolvi indagar ao glorioso ser: "Senhor, é verdade, então, como disse o macaco, que tu e Tash sois um só?" O Leão deu um grande rugido, dizendo: "É mentira! Não porque ele e eu sejamos um, mas por sermos o oposto um do outro é que tomo para mim os serviços que tens prestado a ele. Pois eu e ele somos tão diferentes, que nenhum serviço que seja vil pode ser prestado a mim, e nada que não seja vil pode ser feito para ele. Portanto, se qualquer homem jurar em nome de Tash e guardar o juramento por amor a sua palavra, na verdade jurou em meu nome, mesmo sem saber, e eu é que o recompensarei. E se algum homem cometer alguma crueldade em meu nome, então, embora tenha pronunciado o nome de Aslam, é a Tash que está servindo, e é Tash quem aceita suas obras. ..."

Algumas pessoas, tanto cristãos, como até ateus, tem esta idéia ingênua, de que ou você acredita e professa o nome, e vive "uma norma de uma religião" e assim é um servo de Deus, ou o contrário. Mas não. Quantos não serão os ignorantes salvos? Quantos não serão aqueles que talvez todos pensemos, até o próprio, pensar que viveu em prol de algo ruim, ou de uma fé errada, mas, que, sem nós mesmos saber, estavam servindo a Deus. Sim, a salvação, a redenção não será exclusividade dos cristãos, dos que professam e seguem tradições. Mas, provavelmente, a maioria seja por pessoas ignorantes, pelos o que menos imaginávamos. É bem provavel, que a maioria dos professos cristãos, seja, como disse Jesus: "Nunca vos conheci." "Apartai-vos de Mim."

A verdadeira história da vida
Outra sacada muito boa de Lewis, é em descrever a nova vida, não como um "Que pena! eu morri. Mas ainda bem que agora estou aqui." Mas muito pelo contrário, estar no Céu, faz com que tal lugar parece ainda mais real do que era o mundo (seja Nárnia ou a Terra). Os fazem realmente sentir em casa. Como se sempre perteceram aquele lugar. Era o lugar que na verdade a vida inteira sempre quiseram estar. Toda a vida anterior, até então, não se podia ver exatamente como uma realidade, ou a verdadeira vida em si, mas como se foi um sonho, ou a primeira página ou capitulo de um livro, o livro da vida de cada um, da história de cada um. Aliás, um grande paradoxo com o feitiço da serpente verde sobre Rillian, Jill, Eustáquio e o Brejeiro, em a Cadeira de Prata, quando os tentava convencer de que o mundo, o céu, Aslam não passavam de um sonho, que a realidade era apenas ali nas profundesas, na caverna, no mundo daquela rainha. Aliás, esta foi a idéia principal do filme Matrix. - Será que pegaram da onde?

E encerro este com a última estrofe do livro:

"E, à medida que Ele falava, já não lhes parecia mais um leão. E as coisas que começaram a acontecer a partir daquele momento eram tão lindas e grandiosas que não consigo descrevê-los. Para nós, este é o fim de todas as histórias, e podemos dizer, com absoluta certeza, que todos viveram felizes para sempre. Para eles, porém, este foi apenas o começo da verdadeira história. Toda a vida deles neste mundo e todas as suas aventuras em Nárnia haviam sido apenas a capa e a primeira página do livro. Agora, finalmente, estavam começando o Capítulo Um da Grande História que ninguém na terra jamais leu: a história que continua eternamente e na qual cada capítulo é muito melhor do que o anterior."