22 junho 2010

Copa ou Droga do Mundo?

1 comentários
Ninguém nas ruas, ninguém no trabalho, ninguém na Internet. Onde estão todos? Reunidos: em família, entre amigos, ou a sós; mas pode crer que estão ligados focados num único evento. - Ou seria um ritual? - Um Estádio, milhares de torcedores, 22 jogadores, 1 bola, 1 juíz, 2 bandeirinhas, equipe técnica, banco de reservas, demais arbitros, gandulas e, não menos importante, a mídia fazendo o papel de mediadores, levando até nós o que ali ocorre.

Mas como é dificil, muitas vezes, ver o futebol. O  esporte em si vira um mero pretexto. O que rola mesmo, não é a bola, mas o  espetaculo. Uma guerra de preconceitos que alguns chamam de patriotismo, quase que soando como um tipo de ódio pelo próximo. Em campo, era mesmo futebol? Busca pela vitória? Busca pela superação de seus limites? Fazer o seu melhor? Não forcemos a idealização. Mas sim era uma catimba quando se faz o gol, ou melhor, "segurar o jogo". - "Se chegar perto, dou um chutão para frente!", "Enrole até o juíz aptar." - O que falar da habilidade técnica de driblar o adversário? Era assim que pude ver Pelé fazendo, em função de fazer o gol, superação, fazer o melhor, era o modo de se passar pela pessoa. Mas ontem, pude ver Robinho, idolatrado por uns, dar um drible extraordinário no lateral da Costa do Marfim, tudo parecia ser mais um lance incrivel em função do objetivo de um gol, mas nisso, ele voltou atrás apenas para 'fitar' mais uma vez o adversário, e depois, sem a minima necessidade, mais uma, até que o bravo (provacado), o cavalou. Futebol? Ou isso era "tirar uma", desrespeitar/humilhar o próximo e elevar o próprio ego?

Se formos pensar em termos de relacionamento afetivo educativo, que nota daríamos para o que contemplamos numa copa do mundo? Falta de caráter, não importa, contanto que apenas não dê um carrinho por trás. Vemos relacionamento, amizade? Ou apenas algum tipo de negócio/interesse? - "Você é do meu time, ele não." - Onde vemos afeto? É quando alguem bate no seu companheiro e, invocadamente, raivosamente, você vai para cima sem afeto algum para com o agressor (ao mesmo tempo, dando uma de 'possível agressor', para ele temê-lo)? É quando se abraça, beija, comemora, carrega no colo o companheiro que fez o gol, mas que certamente, não abandonaria sua carreira, nem "milhões" para ajudá-lo? E a educação? O que aprendemos no jogo? Pessoas que enrolam, que fazem corpo mole, que entram solando, que dão o corpo para sofrer a falta, que finjem dor, que cavam faltas; sem contar os zilhões de palavrões, bate-bocas, agressões físicas, gestuais ou orais; e que, idolatrados, são considerados "grandes homens", pois aliás, são famosos, e ganham MUITA GRANA e luxo; fazendo o quê? O que um garoto de 8 anos faz na rua ou na escola. Até que ponto tais foram educados? Ou será que apenas não demonstram ser jogadores? Aliás, na tela da TV que vemos os soberbos, luxuosos, sem-educação, intemperantes, lascívios, assassinos, ditadores e os mais, talvez, (sem preconceito) a escória da humanidade desfilarem, pessoas quais deveríamos desviar nossa atenção. O que há de bom em contemplar tais? O que há para aprender de forma educativa?

Diminuindo o Zoom agora também observamos o Estádio e toda a platéia de torcedores. Muitos questionamentos poderíamos fazer sobre: "O que fazem ali?" "Deveriam estar ali?" Quais, pela mídia, pude observar muitas pessoas embriagadas, enchendo a cara, desfilando o corpo como no carnaval; ou mesmo focando na sensualidade de torcedoras, como a torcedora do Paraguai dos peitos grandes que enfiou 'ali' seu celular, e, em meio a um jogo de futebol, com crianças no mundo todo assistindo, a camera dá um zoom, um close, não no jogo, mas nas "duas montanhas" da torcedora com um decote que também não visava esconder nada [Aliás, "tudo que é bonito não é para se mostrar?" - Menos a senha da conta bancária.]. Bem, ali eles gritavam, ali fugiam da realidade e dos verdadeiros problemas e questionamentos da vida; talvez estavam pagando para fugir de si mesmo, fugir da razão e da vontade, e, como zumbis, deixar que seu corpo desfrutasse de toda agitação, desejos e prazer que aquilo pudesse, de algum modo, proporcionar.

Ainda ali no Estádio, pude ver um torcedor grego, daqueles "super bombados" exibindo todo seu corpo e músculos, além da cerveja (suponho), comemorando euforicamente com seus amigos; os quais certamente deveriam ter 'algum dinheiro'; não parecia nem um pouco preocupados com a realidade dura que se encontra seu país. E isto é o mesmo que vejo do lado de cá da televisão, um show de tediados e raivosos com a vida que parecem ter sempre um grito na garganta pronto para sair, barulhentos, agora com as vunvuzelas (mas de querer aprender a tocar um instrumento musical de sopro mesmo, nada), cheios de muito churrasco e cerveja, para pensar ainda menos e dificultar ainda mais a sobrevivência do organismo. E, assim se ligam na tela da TV.

Ora, a Copa na África, a tão sofrida África qual sofreu e sofre com inúmeros conflitos sociais e ideológicos, além de ser marcada por pobreza, miséria e fome; foi totalmente abarrotada. O que vemos na TV? A África do Sul, em cidades tais quais como seriam em países desenvolvidos de altissimo IDH e renda per capita; o luxo de modernos estádios, modernos onibús, modernas chuteiras, roupas; e todos parecem estar felizes e sorridentes. Da África, não fiquei sabendo nada nesta copa, apenas conheci sua elite, ou melhor os torcedores que vieram (em maioria, pois os africanos mesmo, mostram pouco nas filmagens) de outras nações, mas fiquei sabendo que o Maradona desfilaria pelado. - Oh! Que tamanha futilidade!

Crise fiscal, crise na Europa, drásticos problemas de poluição nas cidades, rios, uma quantidade colossal de petróleo vaza no Pacífico, enchentes aqui e ali, fome, miséria... tantas coisas! Mas tudo foi posto de lado, desvinculado da realidade do individuo. Como? Sedando-os, anestesiando-os com a Copa do Mundo qual conseguiu fazer com que fizesse de zumbis e fantoches milhões de pessoas (talvez bilhões). Pobre da política do "Pão e Circo" em Roma, mal atingiu 1 milhão de pessoas.

Após o jogo fui para a aula de música; bem, quase que ninguém compareceu. No culto, quase todos pareciam ter esquecido de Deus naquele dia, menos do jogo. Depois ainda dei uma breve caminhada pelas desertas ruas do centro de Santo André e para a minha surpresa, numa noite fria, pude ver e ouvir que em apartamentos pessoas ainda gritavam e comemoravam alguma coisa (ou simplesmente faziam barulho), haviam bandeiras, tiras verdes e amarelas, jovens embriagados que passavam rasgando pelas ruas com carros enquanto assopravam as 'vunzelas' mas que ali na calçada, na fria noite, havia um pobre morador de rua, no chão, tentando dormir, sem um cobertor! Todos encolhidos, claramente com frio, dormiam pela exaustão (creio que só assim conseguem dormir em tais condições); aspecto abatido, com fome, diferente, dos "patriotas torcedores" que a tal altura estavam já recorrendo as fármacias para aliviar os sintomas dos quilos de carne e cerveja ingeridos. Um deles, mal estava vestido, a calça tinha um rasgo que ia da bunda até o joelho, onde certamente entraria um vento frio revoltante. Mais alguns quarteirões e vejo uma mulher nas mesmas condições e que tirou o usado e desgastado tenis e meia, enquanto dormia naquela noite fria, com os pés muito inchados. Mas onde estavam as pessoas? Na copa. Comemorando o quê? A Pátria que em maioria eram homens ricos, que vivem no luxo, e, alguns, há anos, moram no exterior, longe da realidade do dia-dia do brasileiro; mas a Pátria, aquela formada pelo necessitado do outro lado da rua, dormindo no chão duro e gelado... nem podiam ver, apenas as imagens daquilo que a cerveja proporcionava em suas mentes. Com todo tipo de papos fúteis, frívolos, sedentarismo, consumismo, glutonaria, beberrice e gritaria.

E ao voltar para casa, o papo não era outro senão "Cacá" ou a cavalisse dos 'negões' marfinherios e ainda tive que ouvir bronca porque fugi da cultura da família e da sociedade, da qual, se reunir com a família para cultuar a copa do mundo e esquecer o resto do mundo, os deveres, necessidades, abstinência e a virtude; apenas para ali estar, preenchendo um espaço, o campo de visão e a audição, os quais, certamente não estavam dispostos para um relacionamento afetivo, muito menos educativo, apenas curtir a festa. O que me lembrou das palavras de Salomão: "Há mais sabedoria na casa de luto do que onde há festa."

Se formos pensar então nos ambitos espirituais. Se eu fosse Satanás, estaria também festejando com a copa do mundo, os gols do Brasil, as brigas em campo e até mesmo com a transmissão em High Definition; até diria com orgulho que perdi a conta das mentes que desviou da contemplação da Verdade, das coisas celestes (como Jesus nos rogou), da santidade, consagração, caridade, missão; até mesmo conseguiu fazer do Cacá virar piada de crente(cristão) e levar a blasfêmia Deus atra'ves da frivolidade que passaram a tratar os dízimos e ofertas com a piada; e que conseguiu promover com grande sucesso o entorpecimento da mente, do fígado, a algazarra, a frivolidade, a vaidade, a futilidade, a literal perca de tempo, desvio da oração vigilante e da Palavra de Deus. - Que tamanho sucesso! Deve estar contabilizando os ganhos ainda.

Assim foi meu dia, o que para alguns foi festa, para mim, uma tarde de domingo perdida (apesar de ter dormido no primeiro tempo, e ter perdido parte do segundo tempo enquanto estava tomado pela atenção num canal de documentários). E no final do dia, uma frase retomei do livro de Rudy Maxwell, algo assim:

"O mundo está rindo enquanto caminha para o inferno. E os cristãos também."

15 junho 2010

Da Vida Sentada: Da Educação à Aposentadoria

0 comentários
Sabe, uma das coisas que muito me alegra em ver na Cidade Universitária (USP Butantã) além da abundância de verde são muitas pessoas praticando esportes, sobretudo correr e pedalar. A faixa etária média eu diria ser entre os 28-50 anos, e são muitos. Ontem, indo para mais uma aula de Filosofia na Faculdade de Educação, pude me deparar com vários desses esportistas pró-saúde. - Que inveja! Enquanto eles ali corriam, suavam a camisa com roupas e tênis confortáveis, lá estava eu, de roupa social, vindo direto do trabalho, após 2, 3 horas de sedentários momentos sentados ou parado em pé em ônibus, trem, metro; com uma mochila nas costas um pouco desconfortável, indo para uma aula, onde - acredite - ficaria novamente sentado por mais 2 horas.

Será que "sentado" é a posição do século XXI? Ou então, ficar em pé parado, seja numa fila ou numa lotação? E as endorfinas? Onde elas ficam? Estas que são liberadas quando nos exercitamos, movemos, porque são tão negligenciadas, melhor, ignoradas? Aliás, creio que um dos motivos das pessoas estarem tão ansiosas, estressadas, seja a falta de endorfina, intimamente ligada a falta de verdadeira movimentação física de qualidade.

Além disso, enquanto aquelas pessoas respiravam ao céu aberto um ar limpo (bem, o de São Paulo longe está disso) devido a toda vegetação uspiana; eu acabara de respirar por 1 hora um ar literalmente empoeiradado do Onibus que faz o trecho de Sertãozinho - Maua até Santo André, passando pelas obras do Rodoanel (muito pó!); depois, 1 hora de trem e metro apenas com a abafada ventilação interna do vagão, porém, no qual haviam dezenas de pessoas, muitas, visualmente com alguma virose, algumas até espirravam, e lá, eu, respirando aquele ar contaminado (e hoje, aqui estou eu com algum inicio de virose).

Por algum momento fiquei entre uma gratidão a Deus pelo meu sistema imunológico e uma certa ansiedade em saber se tal suportaria mais uma semana dessa rotina doentia, e sobretudo, no frio inverno sem chuvas, com um ar super carregado de poluentes (alias, o céu de São Paulo já está laranja, cinza, roxo).

E mais uma aula sobre Filosofia, uma discussão sobre o ENEM. Porém, pensando em tudo que estudamos e questionamos a respeito da Escola Básica, Pedagogias e do Ensino no Brasil; as seguintes objeções me vieram em mente:

1-) Por que o ensino não se foca na qualidade de vida? Na saúde física? Na atividade física?
Ora, de fato, antigamente, os nobres assim eram educados. Pois eles eram os lutadores da sociedade. Como se dizia, os servos trabalhavam, os nobres lutavam e o clero rezava. Esparta então, uma educação voltada para a Guerra, assim era o ensino, em formar guerreiros, lutadores. Mas e hoje? Provavelmente, o foco é totalmente outro: o de alguém sentado atrás de um computador, de uma mesa, num escritório, seja como administrador, programador ou engenheiro; no melhor dos casos, um médico, que terá que ficar em pé e ter mãos firmes; e em casa, sentados na frente da TV ou computador. E assim, desde crianças, eramos obrigados a passar tediantes horas sentados em cadeiras. Quantas vezes não queria eu me exercitar - ops! quer dizer, jogar futebol? Parece que desde crianças somos doutrinados a sermos sedentários na escola pelo simples fato de 95% do conteúdo escolar são sempre com o aluno na posição de "sentado", e 5% de raras aulas de educação física e recreio .

Sou novo, 24 anos, mas não tenho sombra de dúvidas que os jovens e crianças de hoje são muito mais sedentários do que na minha infância (ops, isto há 10 anos atrás! como o tempo passa rápido.). Na minha época, era rotina diária brincarmos na rua, estávamos sempre suados, sujos, corriamos, jogávamos bola, e diversas brincadeiras, das quais, quase a maioria, eram em essencia, cheias de movimentos. Hoje, é quase que raro eu ver algo semelhante a isto, e quando vejo, é esporádico e de curta duração. De fato, passávamos horas na frente da TV, video-game, computador, mas sempre dava o "tédio da cadeira", e logo, estávamos a procura os amigos e colegas para bater um futebol na rua, entre outras coisas, onde até mesmo as meninas participavam. Mas hoje, a maioria das crianças que conheço e tenho amizade (e olha que não são poucas), toda a movimentação, atividade fisica, brincadeiras do tipo, praticamente se limitam a Educação Física na escola, e ainda mais raro, são aquelas que fazem, por fora, academia, ou escolinha de futebol, ou judo, ou natação... e por aí vai. Os quais não são todos os dias da semana; os quais muitas vezes, duram menos de 1 hora.

Estamos passando por um processo de educação que eu chamaria de "atrofiamento da sociedade" ou "abundamento" (de tanto tempo que ficamos com as bundas sobre uma superficie plana e/ou estofada).

Provavelmente, se hoje há tanta insatisfação dos alunos para com suas escolas, provavelmente, isto deve estar diretamente ligado com o nível de stress, que por sua vez deve estar grandemente relacionado a falta de endorfinas produzidas por atividade física. Pois parece que encaramos os alunos, como computadores, Hardwares, partes duras, sólidas, que ficam paradas apenas recebendo e processando informação; e o que ensinamos (Matemática, Português, História...) são os softwares. Porém, não foi feito o homem para de fato suar a camisa?

2-) Irrelevância da vida pessoal
Vemos na Educação - aliás difícil é fugir disto - um foco para o utilitarismo social. É capacitar-nos para o convívio social e exercer atividades renumeradas na máquina econômica. Porém, o homem em si precisa tomar banho, ter higiene, vestir-se, usar calçados, comer, lavar roupas, limpar a casa, organizar nosso espaço em casa, na sociedade, relacionar com as pessoas. Mas o Sistema de Ensino simplesmente deixou tudo isto de lado. Não aprendemos a tomar banho (apenas temos vaga noção), mas não sabemos o quanto de sabonete usar, como escolher um sabonete, se o devemos usar sempre, como lavar a cabeça, quanto de shampoo usar, qual tipo... e assim, muitos tem problemas de saúde e uma pele envelhecida prematuramente por simplesmente tomar banho muito quente; assim como não somos educados a como tomar banho consumindo pouco tempo, água e energia. (aliás, NUNCA somos ensinados a sermos MODERADOS e TEMPERANTES no CONSUMO). Aprendemos como limpar a unha, a orelha, entre outros, ou apenas temos vagas noções genéricas? Vestuário? Ops! Sem ensino, a moda é a regra. Mas não aprendemos nada sobre tipos de tecido, o que é mais confortável no frio, calor, vento, chuva, mais fácil de lavar ou não; o que sua estética transmite, de quanto em quanto tempo lavar, como lavar, como usar cada tipo de produto para limpar a roupa... Aliás, nossas mães e os mais antigos se tornaram os dedentores deste conhecimento que está próximo a extinguir-se, e aí, seremos fantoches das publicidades e marketing das empresas que vendem tais produtos de limpeza. Aliás, quem aprende a se relacionar com alguem na escola? O que aprendemos é ter não uma amizade, mas algum tipo de "negócio", pois quase sempre envolve interesse e status quo. Se há uma instituição que ainda procura fazer isto - e olha lá - tal é a igreja (religiõe). Pois isto, que ainda chamamos de "educação", se alguem é bem educado ou mal educado, é responsabilidade de todos - e alguns insistem ser totalmente 'responsa' dos pais, quais não têm tempo para educar seus filhos, pois são tomados pelo trabalho, ou pela escola; aliás, uma sociedade que até as mães precisaram encarar está sociedade (foram educadas para isto). Por fim, as esperanças de uma educação pessoal, de certo modo, ficou - utopicamente - para as empregadas domésticas e babas.

3-) Viver em função do utilitarismo do trabalho
A educação doutrinou as pessoas a serem utilitaristas, trabalhadores e consumidores. Outro dia, o motorista do ônibus, um aposentado, soltou a pérola: "Fazer alguma coisa. [estou trabalhando aqui por isso] Pois vivemos a vida inteira estudando trabalhando, e aí se aposentar para quê? Ficar em casa sentado, coçando o saco vendo TV?" - Sêneca possuia umas grandes pérolas a respeito disto, sobre o verdadeiro ócio do sábio; porém, que a maioria não sabem ter este ócio, mas para tais é apenas algum tipo de vadiagem, inutilidade, vazio, muitas vezes lançados aos vícios.

A aposentaria deveria ser algum ideal para podermos viver e desfrutar integralmente daquilo que gostamos, dos nossos planos de vida, sem ter que ficar correndo pelo sustento, dinheiro e ficando sem tempo. Então deveria ser de fato, a melhor fase da vida, a qual poderíamos dedicar à longas e prazerosas leituras, pensamentos, projetos, obras de arte, a música, a composição, a reforma da casa, ao trabalho comunitário, dar assessoria aos amigos, viagens, conhecer o mundo ou cidades, regiões, culturas, poder desfrutar muito melhor e por mais tempo da mulher, da familia, dos filhos (se não estiverem sugados pelo trabalho), dos netos, na contemplação da Natureza, em longos estudos da Palavra de Deus...

Porém, não fomos educados a isto. Não fomos educados a de fato desfrutar da literatura como a uma torta de limão. Não fomos educados musicalmente (na verdade, isto foi praticamente fulminado das escolas), de modo, que a música que se desenvolveu então, eu diria ser apenas alguma manifestação de rebeldia desta vida, da escola, da sociedade, um certo tipo de fulga ou critica, ou um inquieto choro por um sonho de uma vida que não se sucedeu; mas nunca, de fato, a música em si (não platonicamente falando). As pessoas em geral não foram educadas a tais coisas, a escola [ou o Estado?] não educou e não se vê ter papel nisto. Nem tampouco a sociedade cultiva tais durante a vida, para quando chegar a aposentadoria poder usufruir.

Mas o mais triste disto, talvez, seja em reconhecer que quando se chega a aposentadoria, a grande maioria está já tão calejada, tão amassada, mastigada, sugada pelos demais anos de vida voltados para a sobrevivencia e ao utilitarismo, a correria, que talvez não tenham mais saúde, nem disposição fisica e/ou mental. Ou, ainda, com a aposentadoria tão curta, que o dinheiro não cobre nem os remédios, alimentação e demais impostos. E da melhor fase da vida, de maior disposição - a juventude - tudo isto fora retirado; a menos que, o afortunado seja patrocinado por uma pai "bem da grana" e assim, não precisar seguir este sistema para sobreviver. Uma elite, qual, muitos jovens sempre invejou e almejou; alguns, se rebelaram, ora tomando oposição a ela, querendo acabar com tais, ora querendo roubá-los e tomar para si tal posição, ora apenas por tê-los como ambição.

4-) Democracia
Democracia? Democratização do ensino? Se este é o paradigma filosófico (indefinido) que move as atuais politicas, talvez deve-se ser melhor questionada. Tal não seria um tipo de manifestação, revolta e inquietude, e não pela injustiça, pelas oportunidades; mas talvez pelo sonho e ambição de acreditar que a Democracia seria poder ser como os "poucos privilegiados", dos "bens de grana", sair, fugir do sistema, e aproveitar um ideal de vida pós-aposentadoria na juventude? O qual é utopia em qualquer conceito de democracia, pois isto desnutriria a base motora que sustenta e move a sociedade, a produção, a máquina econômica, o utilitarismo, o grande tempo que deve ser empregado para isto. Mesmo nas comunidades, tribos, que conviviam num número mais sustentável de pessoas com os processos de manutenção, produção e o meio-ambiente, ainda assim, foi necessário a hierarquia, a base trabalhadora que sustenta o sistema, e o privilégio de poucos que podem (e talvez precisam sair do sistema); claro, não num nível tão drástico como no mundo capitalista hoje. Porém, para uma população de bilhões de pessoas, acentuado e acumulado por tantos séculos, e, por cima, globalizado; era de se esperar menos? Esperamos menos porque focamos ideais, talvez fantasias que gozam a alma; mas que talvez, na fria observância, teríamos que concluir que não haveria outro jeito, mesmo tendo perspectivas caóticas.

Se a democracia visa lutar por algo (que não está definido e longe está de ser concenso). Talvez, primeiro, deveríamos nos perguntas: "Contra o que estamos de fato lutando?" E creio ser algo entre o tédio, a insignificância, desconfiança, descontentamento da vida que não se sustém, e uma morte inevitável. Apenas demos mais um nome ("democracia"), que dá mais rodeios, mas que não foge deste ponto; pois somos humanos mortais; e longe de ser uma sociedade com tamanhos ideiais biblicos de "arvore da vida" qual suas folhas "cura as nações" e seu fruto promove praticamente uma vida inesgotável.

Por este motivo, essas filosofias, muitas vezes me enche, por dar muitos rodeios, mas nunca se direcionar para o centro do problema; o que, segundo a Bíblia é o pecado: "Se pecares, certamente, morrereis." E então vivemos numa busca utópica de encontrar a vida pecando. E digo isso, não como um mero religioso com um chiche biblico, mas na verdadeira essência do que significa pecado (e que não são coisas, não é cristalizado em coisas e ações).

E aí Platão? E aí Heráclito? ... Sócrates, Agostinho, Hanson, Passmore, Rousseau, Ryle, Wittgeinstein, Kunn, Popper, Azanha, Dewey, Arendt, Perrenoud, Marx...? O que me dizem?

Mas enquanto isso, esperemos sentados, a morte, pois ainda resta muito trabalho à fazer.

08 junho 2010

TV - Não é o que parece

0 comentários

Desde que temos uma TV em alta definição, fiquei de certo modo hororizado, inclusive meus familiares com as pessoas na telinha. Até então, que pareciam ter uma pele perfeita, agora, com a alta definição se vê claramente que não. A maquiagem fica em evidência e destaque, de tal modo, que é como se as pessoas estivessem sujas e borradas e com uma camada enorme de maquiagem (inclusive os homens). Porém, não é só isso. A alta definição também nos mostra precisamente as rugas, os pés de galinha, os poros, espinhas, deformações, pintas, buracos, rachaduras, cravos na pele das pessoas. E realmente vemos, que toda aquela imagem é falsa. Algumas pessoas, como a Ana Hickman chegam a ser nojentas, e nos faz questionar se de fato são belas. Aliás, já dizia minha prima que certa vez se hospedou no mesmo hotel da Sheila Carvalho (a que rebolava) e a viu ao vivo, sem maquiagem alguma, e disse que ela é simplesmente "horrível".

Sinceramente, eu não gosto de pessoas maquiadas [Quer dizer, das pessoas gosto, mas preciso muitas vezes de um esforço além do natural para olhar a humanidade da pessoa e não o exterior, quando se coloca tantas "luminárias" no que os olhos vêem, assim é tenho que lutar contra o meu natural de começar a reparar e julgar a pessoa pela aparência, se é bonita ou não, se é atraente ou não. E não ser tomado pelo nojo (é uma sensação semelhante a unhar o quadro negro, ver uma pessoa maquiada) - coisas do Evandro; acho que deve ser algum trauma de infancia relacionado a disciplina de Artes, pois eu odiava e tinha nojo de mexer e sujar com tinta, cola, purpurina e coisas do tipo.]. É de algum modo nojento, como se houvesse uma sujeira grudenta. Ao mesmo tempo, me frustra não poder ver a imagem real, a pessoa verdadeira como é, e assim, poder aceitar e relacionar com ela de fato, e não com uma imagem que não passa de um estióripo artificial. Ao mesmo tempo, que meu senso critica fica me atormentando: "O que queres esconder?", "Do que tem medo?", "Por que não se contenta consigo mesmo?"

Bem, a industria do cosmético é uma das mais fortes no Brasil, e investe pesado e brutalmente em propaganda; de modo que o povo brasileiro tem um indice de vaidade absurda em algumas cidades, como a minha Santo André, a qual certa vez foi considerada a cidade mais vaidosa do Brasil. Nas bancas de jornais é comum ver, principalmente mulheres, olhando para as revistas de moda, ou de 'pseudo-beleza', com aquele olhar de inveja, insatisfação e desejo de vaidade e se tornar bela tão quão. Porém, imagens publicitárias estão longe da realidade de como de fato é a pessoa depois de um banho, nos filmes e novelas também. (ou seja, as referências são todas artificiais!).

Neste ambito, as TVs em alta definição acabaram sendo vilãs para a industria de cosméticos, e sua publicidade. Mostrando claramente a mascara, e uma imagem simplesmente nojenta das pessoas. Contudo, nem todos, em geral, os programas estrangeiros não se percebe isso; talvez exista uma linha especial de maquiagem para gravação em HD, porem, por enquanto, ainda não se vê nos canais brasileiros.

Isto apenas me fez apreciar ainda mais as pessoas naturalmente, como de fato são. E de algum modo, me senti justiçado, como se tivessem desmascarado que eu estava sendo enganado este tempo todo (ops! quer dizer, a vida toda).

07 junho 2010

Consumo, Um Vazio ao Cubo

0 comentários
Em 24 horas pude vivenciar um contraste astronomico. No feriado de 3/junho participei de uma trilha na Serra do Mar e no dia seguinte fiz compras no Shopping. – Que contraste!

Na praça de alimentação do Shopping comecei a reparar o ambiente, com centenas, talvez milhares de pessoas, correndo, e fazendo muito barulho. Se abrisse os ouvidos para prestar atenção nos sons ambientes, ficaria estressado, com dor de cabeça e severamente incomodado. Já na Serra do Mar, não estava cercado por milhares de pessoas, mas uma quantidade ainda maior de árvores e plantas que de algum modo tornava a contemplação do ambiente aconchegante. O que dizer então do som? Uma mistura de uma serena quietude, ao som de fundo, calmo de um rio e uma cachoeira, e que em alguns momentos era enriquecido pelo cantar dos pássaros. Ali na Serra do Mar, poderia tranquilamente amarrar uma rede entre duas arvores e passar horas contemplando aquilo, já no Shopping, não diria o mesmo.

Ainda na praça pude reparar na expressão de muitas pessoas enquanto comiam. E em geral, não se via nenhuma expressão de satisfação com aquilo que comia, apesar de ter visto isso em duas crianças ao morder o MacLancheFeliz. Eram comum ver pessoas usando condimentos além do que já havia, tomando alguma bebida junto; um casal, não socegou enquanto não compraram um shop. Ao mesmo tempo, que muitas pessoas pareciam estar em dúvida se realmente deveriam ter comido aquilo. E mesmo após a refeição, se via as pessoas sentadas de algum modo apreensivas, talvez com indigestão; mas não se via o animo e a gratidão por tal refeição. Na verdade, era uma paisagem de horrores de guerra a praça de alimentação.

Já na trilha que diferença. Além de poder beber da cristalina água direto do manancial, que revigora o corpo no primeiro gole, e que realmente da gosto de beber. Após 3 horas de caminhada paramos de vista para uma bela cachoeira para uma refeição. E não só o ambiente, mas a atividade física em si, proporcionou um enorme prazer e satisfação ao comer simples alimentos, alguns amassados, levados de casa; e nem foi preciso comer tanto para se sentir plenamente satisfeito. E o mesmo podia ver nos olhos daqueles que me acompanhavam.

No Shopping, praticamente todos estavam “bem vestidos”, isto é, com roupas aparentemente novas e pouco desbotadas. Mas que ao mesmo tempo, intocáveis, de modo algum se interagiam com o ambiente e as coisas, de modo que pudesse sujar a roupa, ou desfazer o penteado, ou mesmo suar a camisa. Assim, pareciam um monte de robôs perambulando pelas vitrines e lojas, tão próximos, mas ao mesmo tempo, tão individualizados que pareciam intocáveis e de algum modo solitários. Na trilha, a história era outra, todos com roupas simples, velhas, mas confortáveis. Não se importavam de interagir com o ambiente. Alias, muitos ficamos sujos de lama. Ora se sentava na lama e em pedras, ora interagia com galhos, plantas e flores, na maioria das vezes, molhadas. Vazia-se todos os movimentos possíveis até mesmo se arrastando. Todos suavam, todos fediam, mas de algum modo, isso não importava, não incomodava ninguém. Havia toque, não éramos isolados, mas um só com a natureza e o próximo. O que dizer então das vestes das plantas, arvores, rochas e dos pássaros?

No Shopping um sentimento de ambição, vaidade e poder sempre pareava no ar. Esse era o cheiro do consumo, e das pessoas pegando e avaliando roupas e coisas, tentando responder a pergunta: “Se eu comprar isso, me fará melhor, mais feliz?” Se a resposta era “não”, então descartavam, e iam para o próximo objeto; até que houvesse algum “sim”, e então, no caixa, mostravam seu poder de adquirir-se ‘felicidade’, com seus cartões de crédito. [O que dizer dos infelizes, que diziam “Sim”, mas o bolso, “Não”?] Eu mesmo passei por isso. É uma mistura de infelicidade e esperança ao escolher e experimentar peças de roupa. Por mais que tentasse seguir o ideal de Sêneca de se vestir de modo a ser uma benção para os outros, demonstrando a simplicidade, o contentamento, a falta de ambição e vaidade, mas ao mesmo tempo, mostrando a elegância digna de todos os homens e da sabedoria; ora eu me via em algum pensamento vaidoso, se aquilo me caiu bem; ora quase como se precisasse comprar aquilo para de algum modo sentir melhor. Até gastei mais do que pretendia, porque não bastava uma camisa, uma calça, era necessário uma para o trabalho, uma para igreja, uma para o casual. - Quanta vaidade!

Talvez seja o mais infeliz dos consumidores, ou o único que se sente mal ao se consumir coisas desnecessariamente [que muitos diriam necessário]. Mas enquanto saia de uma loja, um pensamento passou em minha mente: “Por que para cada peça de roupa que eu compre, eu não compre 2 para um pobre necessitado? Aliás, está tão frio.” Mas logo isso foi rejeitado quando pensei em meu orçamento. Porém, e se um garoto me abortasse e dissesse: “Tio quanta roupa você comprou. Me dá uma?” – Oh! Egoísmo, onde eu te fuzilo?!


Já na trilha não havia tais pensamentos. As roupas eram realmente roupas. Apenas reparávamos se tais roupas eram confortáveis, nos mantinham bem aquecidos e nos protegiam dos arranhões. Me sentia um afortunado, pela minha calça de mais de 5 anos secar rapidamente após molhar. E quantas peças de roupas? O mínimo possível, apenas o suficiente, caso contrário, até mesmo se tornaria um fardo na mochila e em nossos ombros.

Ali dentro do mato, como é simples. É tão pouco o que precisamos. Ë sempre suave, é paz, é satisfeito, é tranqüilo. Até o ar parece nos inspirar vida e energia. Já na cidade, tudo gira em uma utopia, nunca é o suficiente, nunca é satisfatório; e muito se faz para consumir, e viver, num lugar onde o ar, realmente, apenas nos inspira um pouco de morte.

Lá nossas pernas nos locomoveram por mais de 20 km. Aqui, que sirvam apenas para desembarcar do transporte e caminhar pelo Shopping, tão plano e liso, que as pernas nem parecem necessárias.

Acho que nos Shoppings, vemos a essência de uma vida urbana capitalista. Acho que vejo muitas das essências de um ser humano pós-moderno.

Que deprimente.

Por outro lado, como isso alimenta na alma a esperança de uma vida retirada. A qual, se não ocorrer aqui, neste mundo; virá no por vir, na casa que Jesus preparou.