Sabe, uma das coisas que muito me alegra em ver na Cidade Universitária (USP Butantã) além da abundância de verde são muitas pessoas praticando esportes, sobretudo correr e pedalar. A faixa etária média eu diria ser entre os 28-50 anos, e são muitos. Ontem, indo para mais uma aula de Filosofia na Faculdade de Educação, pude me deparar com vários desses esportistas pró-saúde. - Que inveja! Enquanto eles ali corriam, suavam a camisa com roupas e tênis confortáveis, lá estava eu, de roupa social, vindo direto do trabalho, após 2, 3 horas de sedentários momentos sentados ou parado em pé em ônibus, trem, metro; com uma mochila nas costas um pouco desconfortável, indo para uma aula, onde - acredite - ficaria novamente sentado por mais 2 horas.
Será que "sentado" é a posição do século XXI? Ou então, ficar em pé parado, seja numa fila ou numa lotação? E as endorfinas? Onde elas ficam? Estas que são liberadas quando nos exercitamos, movemos, porque são tão negligenciadas, melhor, ignoradas? Aliás, creio que um dos motivos das pessoas estarem tão ansiosas, estressadas, seja a falta de endorfina, intimamente ligada a falta de verdadeira movimentação física de qualidade.
Além disso, enquanto aquelas pessoas respiravam ao céu aberto um ar limpo (bem, o de São Paulo longe está disso) devido a toda vegetação uspiana; eu acabara de respirar por 1 hora um ar literalmente empoeiradado do Onibus que faz o trecho de Sertãozinho - Maua até Santo André, passando pelas obras do Rodoanel (muito pó!); depois, 1 hora de trem e metro apenas com a abafada ventilação interna do vagão, porém, no qual haviam dezenas de pessoas, muitas, visualmente com alguma virose, algumas até espirravam, e lá, eu, respirando aquele ar contaminado (e hoje, aqui estou eu com algum inicio de virose).
Por algum momento fiquei entre uma gratidão a Deus pelo meu sistema imunológico e uma certa ansiedade em saber se tal suportaria mais uma semana dessa rotina doentia, e sobretudo, no frio inverno sem chuvas, com um ar super carregado de poluentes (alias, o céu de São Paulo já está laranja, cinza, roxo).
E mais uma aula sobre Filosofia, uma discussão sobre o ENEM. Porém, pensando em tudo que estudamos e questionamos a respeito da Escola Básica, Pedagogias e do Ensino no Brasil; as seguintes objeções me vieram em mente:
1-) Por que o ensino não se foca na qualidade de vida? Na saúde física? Na atividade física?
Ora, de fato, antigamente, os nobres assim eram educados. Pois eles eram os lutadores da sociedade. Como se dizia, os servos trabalhavam, os nobres lutavam e o clero rezava. Esparta então, uma educação voltada para a Guerra, assim era o ensino, em formar guerreiros, lutadores. Mas e hoje? Provavelmente, o foco é totalmente outro: o de alguém sentado atrás de um computador, de uma mesa, num escritório, seja como administrador, programador ou engenheiro; no melhor dos casos, um médico, que terá que ficar em pé e ter mãos firmes; e em casa, sentados na frente da TV ou computador. E assim, desde crianças, eramos obrigados a passar tediantes horas sentados em cadeiras. Quantas vezes não queria eu me exercitar - ops! quer dizer, jogar futebol? Parece que desde crianças somos doutrinados a sermos sedentários na escola pelo simples fato de 95% do conteúdo escolar são sempre com o aluno na posição de "sentado", e 5% de raras aulas de educação física e recreio .
Sou novo, 24 anos, mas não tenho sombra de dúvidas que os jovens e crianças de hoje são muito mais sedentários do que na minha infância (ops, isto há 10 anos atrás! como o tempo passa rápido.). Na minha época, era rotina diária brincarmos na rua, estávamos sempre suados, sujos, corriamos, jogávamos bola, e diversas brincadeiras, das quais, quase a maioria, eram em essencia, cheias de movimentos. Hoje, é quase que raro eu ver algo semelhante a isto, e quando vejo, é esporádico e de curta duração. De fato, passávamos horas na frente da TV, video-game, computador, mas sempre dava o "tédio da cadeira", e logo, estávamos a procura os amigos e colegas para bater um futebol na rua, entre outras coisas, onde até mesmo as meninas participavam. Mas hoje, a maioria das crianças que conheço e tenho amizade (e olha que não são poucas), toda a movimentação, atividade fisica, brincadeiras do tipo, praticamente se limitam a Educação Física na escola, e ainda mais raro, são aquelas que fazem, por fora, academia, ou escolinha de futebol, ou judo, ou natação... e por aí vai. Os quais não são todos os dias da semana; os quais muitas vezes, duram menos de 1 hora.
Estamos passando por um processo de educação que eu chamaria de "atrofiamento da sociedade" ou "abundamento" (de tanto tempo que ficamos com as bundas sobre uma superficie plana e/ou estofada).
Provavelmente, se hoje há tanta insatisfação dos alunos para com suas escolas, provavelmente, isto deve estar diretamente ligado com o nível de stress, que por sua vez deve estar grandemente relacionado a falta de endorfinas produzidas por atividade física. Pois parece que encaramos os alunos, como computadores, Hardwares, partes duras, sólidas, que ficam paradas apenas recebendo e processando informação; e o que ensinamos (Matemática, Português, História...) são os softwares. Porém, não foi feito o homem para de fato suar a camisa?
2-) Irrelevância da vida pessoal
Vemos na Educação - aliás difícil é fugir disto - um foco para o utilitarismo social. É capacitar-nos para o convívio social e exercer atividades renumeradas na máquina econômica. Porém, o homem em si precisa tomar banho, ter higiene, vestir-se, usar calçados, comer, lavar roupas, limpar a casa, organizar nosso espaço em casa, na sociedade, relacionar com as pessoas. Mas o Sistema de Ensino simplesmente deixou tudo isto de lado. Não aprendemos a tomar banho (apenas temos vaga noção), mas não sabemos o quanto de sabonete usar, como escolher um sabonete, se o devemos usar sempre, como lavar a cabeça, quanto de shampoo usar, qual tipo... e assim, muitos tem problemas de saúde e uma pele envelhecida prematuramente por simplesmente tomar banho muito quente; assim como não somos educados a como tomar banho consumindo pouco tempo, água e energia. (aliás, NUNCA somos ensinados a sermos MODERADOS e TEMPERANTES no CONSUMO). Aprendemos como limpar a unha, a orelha, entre outros, ou apenas temos vagas noções genéricas? Vestuário? Ops! Sem ensino, a moda é a regra. Mas não aprendemos nada sobre tipos de tecido, o que é mais confortável no frio, calor, vento, chuva, mais fácil de lavar ou não; o que sua estética transmite, de quanto em quanto tempo lavar, como lavar, como usar cada tipo de produto para limpar a roupa... Aliás, nossas mães e os mais antigos se tornaram os dedentores deste conhecimento que está próximo a extinguir-se, e aí, seremos fantoches das publicidades e marketing das empresas que vendem tais produtos de limpeza. Aliás, quem aprende a se relacionar com alguem na escola? O que aprendemos é ter não uma amizade, mas algum tipo de "negócio", pois quase sempre envolve interesse e status quo. Se há uma instituição que ainda procura fazer isto - e olha lá - tal é a igreja (religiõe). Pois isto, que ainda chamamos de "educação", se alguem é bem educado ou mal educado, é responsabilidade de todos - e alguns insistem ser totalmente 'responsa' dos pais, quais não têm tempo para educar seus filhos, pois são tomados pelo trabalho, ou pela escola; aliás, uma sociedade que até as mães precisaram encarar está sociedade (foram educadas para isto). Por fim, as esperanças de uma educação pessoal, de certo modo, ficou - utopicamente - para as empregadas domésticas e babas.
3-) Viver em função do utilitarismo do trabalho
A educação doutrinou as pessoas a serem utilitaristas, trabalhadores e consumidores. Outro dia, o motorista do ônibus, um aposentado, soltou a pérola: "Fazer alguma coisa. [estou trabalhando aqui por isso] Pois vivemos a vida inteira estudando trabalhando, e aí se aposentar para quê? Ficar em casa sentado, coçando o saco vendo TV?" - Sêneca possuia umas grandes pérolas a respeito disto, sobre o verdadeiro ócio do sábio; porém, que a maioria não sabem ter este ócio, mas para tais é apenas algum tipo de vadiagem, inutilidade, vazio, muitas vezes lançados aos vícios.
A aposentaria deveria ser algum ideal para podermos viver e desfrutar integralmente daquilo que gostamos, dos nossos planos de vida, sem ter que ficar correndo pelo sustento, dinheiro e ficando sem tempo. Então deveria ser de fato, a melhor fase da vida, a qual poderíamos dedicar à longas e prazerosas leituras, pensamentos, projetos, obras de arte, a música, a composição, a reforma da casa, ao trabalho comunitário, dar assessoria aos amigos, viagens, conhecer o mundo ou cidades, regiões, culturas, poder desfrutar muito melhor e por mais tempo da mulher, da familia, dos filhos (se não estiverem sugados pelo trabalho), dos netos, na contemplação da Natureza, em longos estudos da Palavra de Deus...
Porém, não fomos educados a isto. Não fomos educados a de fato desfrutar da literatura como a uma torta de limão. Não fomos educados musicalmente (na verdade, isto foi praticamente fulminado das escolas), de modo, que a música que se desenvolveu então, eu diria ser apenas alguma manifestação de rebeldia desta vida, da escola, da sociedade, um certo tipo de fulga ou critica, ou um inquieto choro por um sonho de uma vida que não se sucedeu; mas nunca, de fato, a música em si (não platonicamente falando). As pessoas em geral não foram educadas a tais coisas, a escola [ou o Estado?] não educou e não se vê ter papel nisto. Nem tampouco a sociedade cultiva tais durante a vida, para quando chegar a aposentadoria poder usufruir.
Mas o mais triste disto, talvez, seja em reconhecer que quando se chega a aposentadoria, a grande maioria está já tão calejada, tão amassada, mastigada, sugada pelos demais anos de vida voltados para a sobrevivencia e ao utilitarismo, a correria, que talvez não tenham mais saúde, nem disposição fisica e/ou mental. Ou, ainda, com a aposentadoria tão curta, que o dinheiro não cobre nem os remédios, alimentação e demais impostos. E da melhor fase da vida, de maior disposição - a juventude - tudo isto fora retirado; a menos que, o afortunado seja patrocinado por uma pai "bem da grana" e assim, não precisar seguir este sistema para sobreviver. Uma elite, qual, muitos jovens sempre invejou e almejou; alguns, se rebelaram, ora tomando oposição a ela, querendo acabar com tais, ora querendo roubá-los e tomar para si tal posição, ora apenas por tê-los como ambição.
4-) Democracia
Democracia? Democratização do ensino? Se este é o paradigma filosófico (indefinido) que move as atuais politicas, talvez deve-se ser melhor questionada. Tal não seria um tipo de manifestação, revolta e inquietude, e não pela injustiça, pelas oportunidades; mas talvez pelo sonho e ambição de acreditar que a Democracia seria poder ser como os "poucos privilegiados", dos "bens de grana", sair, fugir do sistema, e aproveitar um ideal de vida pós-aposentadoria na juventude? O qual é utopia em qualquer conceito de democracia, pois isto desnutriria a base motora que sustenta e move a sociedade, a produção, a máquina econômica, o utilitarismo, o grande tempo que deve ser empregado para isto. Mesmo nas comunidades, tribos, que conviviam num número mais sustentável de pessoas com os processos de manutenção, produção e o meio-ambiente, ainda assim, foi necessário a hierarquia, a base trabalhadora que sustenta o sistema, e o privilégio de poucos que podem (e talvez precisam sair do sistema); claro, não num nível tão drástico como no mundo capitalista hoje. Porém, para uma população de bilhões de pessoas, acentuado e acumulado por tantos séculos, e, por cima, globalizado; era de se esperar menos? Esperamos menos porque focamos ideais, talvez fantasias que gozam a alma; mas que talvez, na fria observância, teríamos que concluir que não haveria outro jeito, mesmo tendo perspectivas caóticas.
Se a democracia visa lutar por algo (que não está definido e longe está de ser concenso). Talvez, primeiro, deveríamos nos perguntas: "Contra o que estamos de fato lutando?" E creio ser algo entre o tédio, a insignificância, desconfiança, descontentamento da vida que não se sustém, e uma morte inevitável. Apenas demos mais um nome ("democracia"), que dá mais rodeios, mas que não foge deste ponto; pois somos humanos mortais; e longe de ser uma sociedade com tamanhos ideiais biblicos de "arvore da vida" qual suas folhas "cura as nações" e seu fruto promove praticamente uma vida inesgotável.
Por este motivo, essas filosofias, muitas vezes me enche, por dar muitos rodeios, mas nunca se direcionar para o centro do problema; o que, segundo a Bíblia é o pecado: "Se pecares, certamente, morrereis." E então vivemos numa busca utópica de encontrar a vida pecando. E digo isso, não como um mero religioso com um chiche biblico, mas na verdadeira essência do que significa pecado (e que não são coisas, não é cristalizado em coisas e ações).
E aí Platão? E aí Heráclito? ... Sócrates, Agostinho, Hanson, Passmore, Rousseau, Ryle, Wittgeinstein, Kunn, Popper, Azanha, Dewey, Arendt, Perrenoud, Marx...? O que me dizem?
Mas enquanto isso, esperemos sentados, a morte, pois ainda resta muito trabalho à fazer.
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