04 março 2011

O Silmarillion - Tolkien

Eu diria que da essência de tudo que se diz respeito ao homem podemos resumir nessas poucas palavras:

Confiança, humildade, esperança e conhecimento.

O livro, que naturalmente é uma ficção, com demonios, dragões, elfos, anões, baurogues, demônios, é muito mais sutil do que Cronicas de Nárnia do Lewis em se tratar de uma claro propósito de tratar do grande drama da religião cristã que podemos encontrar na Bíblia. Tolkien se apega menos a questões tradicionais, cerimoniais, rituais e doutrinários cristãos; como a oração, como conversar com Deus, como o sacrificio de Jesus (que Aslam faz no conto da Feiticeira), entre tantos outros. Mas se apega mais ao Grande Conflito, a grande tensão, a essência, que é a vontade de Deus (Eru Iluvatar) e a ajuda e conselhos dos poderosos anjos (os Valar), a conrrupção e a maldade de um dos mais poderosos anjos (Melkor, posterior Morgoth). E o mundo então criado pela vontade, pela composição, pela obra de Deus (Iluvatar), porém que no livro, Tolkien dá uma outra perspectiva sobre uma outra possível criança uma paródia a um outro mundo, para ilustrar o nosso, e nesse, Deus compõe a canção da criação, mas são os anjos que a executam. E em meio a essa tensão, surgem então os filhos de Iluvatar (os homens e elfos) e o caso especifico dos anões (fruto da IMPACIÊNCIA e ANSIEDADE de um dos anjos). Melkor busca por todos os meios, e por meio de suas criaturas, suditos e escravos (entre eles, o mais formidavel e poderoso, Sauron) destruir e/ou corromper/deformar tudo aquilo que é bom, que é fruto da canção de Iluvatar, das obras dos Valar, dos Elfos entre outros.

O Silmarillion chega a ser uma novela em que elfos e homens devido a COBIÇA, a ambição por poder, riqueza, beleza, ou por questão de medo, desconfiança, e ORGULHO, (sempre plantados por Melkor, mesmo que a semente venha de gerações passadas muito distante), deixavam de dar ouvidos aos conselhos dos Valar (pense como os anjos), se fascinavam pelo ambicioso juramento de recuperar as Silmarilies tomados por Morgoth. E nisso, passou a ter ódio, guerra, sofrimento, dor, e tudo o de ruim que se pode imaginar. E mesmo entre elfos, pois muitas vezes esses se trairem e mataram cruelmente um ao outro. O que dizer então dos humanos?

Contudo, por mais sombrios que pareciam os dias, sempre havia um pequeno raios de esperança que vinha do Oeste. De Valinour, a cidade dos Valar, que nos traz a idéia de um paraíso edenico. E sempre, os dignos, muito honrados, que mostravam bravura e virtude mesmo nos momentos mais terríveis, de algum modo eram ajudados pelos senhores do bem. Como o Thorondor, o Senhor das Águias, como o Cão de Valinour, e os próprios Valar.

E essa história de conflitos, tensão e guerra. Nunca acabava, mesmo podendo ter grandes periodos de séculos e séculos de paz, felicidade e prosperidade. Mas as sementes do Orgulho, da Inveja, da Cobiça, sempre uma hora ou outra aparecia. Mas o que dizer da cobiça, quando um homem se apaixona por uma elfa que é a mais bela de toda a História da Terra, que sua beleza era de estremecer, que até mesmo a Natureza se submetia, contemplava-a, e sua luz não passava despercebida por ninguém, e ela se apaixona por esse homem. E ai, o que acontece, um elfo a cobiça, a passsar a ter receio pelo homem, e passa a germinar a semente do ódio, do rancor, e, futuramente, os frutos se tornam muito amargos e cheios de tristeza e maldade.

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De todos os livros (pois O Silmarillion é tipo que uma Biblia (vários livros)), o mais profundamente explicito que aborda questões claramente referentes a grandes questões cristãs, é, praticamente o último, Akallabêth.

O qual mostra da revolta dos dúnedain (homens bem especiais) para com os Valar:

"- Por que não deveríamos invejar os Valar, ou mesmo o mais insignificante dos imortais? - replicaram então os númenorianos - Pois de nós são exigidos uma confiança cega e uma esperança sem garantia, já que não sabemos o que nos espera em breve. E, mesmo assim, amamos a Terra e não desejaríamos perdê-la."

Acontece que houve um grande periodo de paz após Melkor ser aprisionado e expulso da Terra. Os númenorianos foram muito abençoados pelos Valar. Tanto é que passaram a viver muito mais do que os homens comum, alguns chegando a viver 500 anos. De modo, que tinham grande conhecimento, força, habilidades, e cada vez adquiriam e se aperfeiçoavam. Mas, em tempos anteriores, os homens, certos de sua breve morte, eram por muitas vezes ou grandes covardes para não perder logo sua vida que já é curta, ou então se lançar a coragem e grandes feitos, sem ficar esperando séculos e milênios por uma atitude (como faziam os elfos), e assim fizeram grandes feitos. Lutavam pela liberdade, se sacrificavam, sonhando pela paz, e a esperança que a sua morte (martirio) poderia conceder aos que ficassem vivos e as gerações futuras. Mas agora, sem guerras, na paz. O livro mostra outra coisa:

AMBICIOSO E COBIÇOSO É O CORAÇÃO DO HOMEM
Percebem que dificilmente achará uma pessoa satisfeita, que não põe seu coração em seus desejos? Ora, na minha jornada, conheci pessoas que desejavam ganhar 500 reais. Quando o tinham, descontentes, queriam 1000 reais. Quando tinham mil, outros desejos vieram, novas coisas a consumir, um novo padrão a se viver, e de repente, imaginavam que ganhando 5mil teria tudo e a vida que sempre queria, e que "nada mais além desejaria". E de repente, lá está uma pessoa ganhando 10, 15mil reais, e ainda insatisfeitos, pois novos desejos, padrões, e coisas querem, e agora, querem é 30mil. Isso tem um fim? Antes, não se preocupavam em viver 60, 80 anos, mas sim de conseguir cumprir sua missão e viver com honra antes de morrer. Agora, não, não se contenham em viver 500 anos, mas querem a imortalidade. E nós, o que queremos? Não estamos nós "chorando de barriga cheia"?

Gostamos de nos dar a desculpa de que são necessidades básicas, ou coisas "democráticas" que todos gostariam de ter. Mas ninguem nunca pede um coração mais humilde, satisfeito e menos propenso a desejar. Quem é que pede para ser livrado desses desejos e ambições? Como Jesus disse, "contanto que tenhais o que comer e vestir estejais satisfeito".Mas Tolkien fulmina esta questão. Abre a ferida, e toca bem lá no fundo  de todo o leitor, de todo o homem, que lá no fundo do nosso coração há uma semente de cobiça e orgulha que facilmente germina, cresce e dá frutos. E que poucos, pouquissimos, coisas do tipo 1 em 1 milhão, são aqueles que seguem os conselhos dos anjos e de Eru, para não permitir que a semente brote, e se, brotar, dominá-la e arrancar-lhe com a raíz e tudo do solo.

O livro é um prato cheio de vários modos como essa "cobiça" cresce no coração do homem. Muitas vezes confundidas, com o desejo de se aperfeiçoar, de crescer fisicamente, mentalmente, de obter novos conhecimentos, a busca pelo belo, por construir e fazer grandes feitos. Tolkien deixa claro essa distinção. E agora, os homens tinham medo da morte, os homens não mais queriam morrer, não aceitavam esse destino a que estavam fardados; passando a questionar os Valar, e os propósitos de Iluvatar. E buscaram por todos os meios satisfazer esse desejo, buscando vencer ou adiar a morte o máximo possível. E quantos não foram os males que disso procederam?

" A maioria... Tornaram-se arrogantes e se distanciaram dos eldar e dos Valar. E do outro lado, havia a minoria e esses eram chamados de elendili, os amigos-dos-elfos. ... Não obstante, nem mesmo eles, que se intitulavam os Fiéis, escapavam totalmente da aflição de seu povo; e eram atormentados pela idéia da morte.

... Contudo, o medo da morte cada vez mais se adensava sobre eles/ e eles procuravam adiá-la por todos os meios a seu alcance. Começaram então a construir casas imensas para os mortos, enquanto seus sábios trabalhavam sem cessar para descobrir, se possível, o segredo de fazer voltar a vida ou, no mínimo, prolongar os dias dos homens. Conseguiram apenas aprender a arte de preservar inalterada a carne morta dos homens; e encheram toda a terra com túmulos silenciosos, nos quais a idéia da morte ficava encerrada na escuridão. Já os que estavam vivos se voltavam ainda com maior avidez para o prazer e a folia, desejando cada vez mais bens e riquezas. E, a partir do tempo de Tar-Ancalimon, a oferenda dos primeiros frutos a Eru passou a ser negligenciada, e os homens raramente iam ao Local Sagrado..."

Olha aqui que declaração mais incrivel de Tolkien, de como, a semente de Melkor vai crescendo dentro do coração dos homens. E todo essa cobiça por medo da morte, de querer a imortalidade, se torna numa insatisfação pela vida. E aí, passam a valorizar a todo o custo a curta vida que têm, buscando prazeres, riquezas, folia (podiamos pensar, em sexo, drogas, bebidas, shows, baladas, diversões fúteis e não saudáveis). E aí, quando se percebe, não mais da atenção e valor para a religião, para os anjos, e para Deus. Deixa de dar ofertas para Deus, de dar gratidão ao sustento que Ele nos dá, e quando se percebe, se abandona a Igreja, o Templo, o Local Sagrado reservado especialmente para cultuar o Criador.

O livro, se for parar para pensar bem, podemos extrair muita coisa. Contudo, não é um livro com um final feliz. Mas sim um grande puxão de orelha quanto a esta questão "a corrupção do coração do homem". Do paraiso que poderia ser o mundo, as maravilhas, alegria e paz que poderia ser a vida, mas tudo isso, jogado de lá, por causa da corrupção, da insubordinação, do orgulho, da cobiça, do desejo corrupto do homem. Aliás, esta é a assência do que mais para frente será tratado no Senhor dos Anéis, na Saga do Anel, o Anel do Poder, o Único. O simbolo do desejo, da corrupção, de todo orgulho, cobiça e vaidade. É neste jóia que toda é voltado todo o foco do Tolkien. Na luta do homem em vencer e abandonar "este coração impuro e imoral" e voltar-se para os propósitos e a harmonia com o mundo, com os anjos e com o próprio Deus. Mas, acima de tudo, o livro é uma profunda investigação, no nosso coração. Por isso, que chega até ser meio sombrio e desgostoso lê-lo, e, por muitas vezes, somos tentados a ler meramente por cima, apenas a narrativa da história, sem refletir sobre o que ele realmente nos propõe.

Agora, que venha "O Hobbit".

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