25 março 2011

Isso sim é importante... mas ninguém fala

Na disciplina de Didática da Faculdade de Educação da USP, começamos a estudar Jan Amos Komenský – conhecido, no Brasil, por Comênio. Um tcheco dos meados do século XVI, considerado o pai da didática. Confesso que fui profundamente enfeitiçado – pelo menos no interesse – por muitas de suas ideias, que buscavam uma visão mais simples, natural, religiosa e bíblica; aliás, tal que, o processo de ensinar deve ser semelhante, ou como, ao que vemos ocorrer na Natureza.

Entre elas, 3 ideias em especial:
- Ensinar tudo a todos;
- O fim é: sabedoria, moral e perfeição;
- Educar é disciplinar o homem; lapidar um diamante, para uma vida futura.

Eu particularmente sou defensor desses ideais, como a base de uma educação. Apenas quanto ao “ensinar tudo a todos” considero muito questionável e ainda não cheguei numa conclusão, mesmo após anos meditar sobre isto. Alias, tais são colocados por Ellen G. White em seus livros “Educação” e “Mente, Caráter e Personalidade” (editora Casa Publicadora Brasileira). Porem ela não fala desse “ensinar tudo a todos”, mas diz para dar foco principalmente na teologia, na formação do caráter. Mas diz que o ideal é que os homens serem equilibrados, isso quer dizer – segundo ela – desenvolver “todas as faculdades mentais” ao máximo possível, buscar sempre a mais elevada norma; e então, uma entre elas, irá se destacar e então iremos reconhecer tal como o talento, o dom especial que Deus dá ao individuo. E ao mesmo tempo temos sempre a forte ideia de que o coração da Educação é a educação do coração. Mas particularmente, eu não me é inequívoco que “faculdades mentais” significa “areas do saber”, visto ainda, que a sociedade tende a ramificar e dividir e classificar cada vez mais os saberes. Por enquanto, meu argumento é a ideia de “capacidades universais a todos os saberes”. Capacidades tais como “transmitir, ensinar, interpretar, criticar, discernir, ...” algo que ocorre semelhante a uma intuição e instinto porém muito claros para a pessoa, confiáveis, e, praticamente, infalíveis.

Mas a coisa importante que quero falar é...
Poderia falar muitas coisas aqui sobre tudo isso, é outono e poderia ficar até o inverno falando, mas vou me deter a algo. Sim, há algo que é essencial: DISCIPLINA. Não tenho sombras de dúvida que este é o poder que mais está ausente na sociedade e nas escolas. O grande problema dos professores é a falta de disciplina dos alunos. O grande problemas dos pais... lideres religiosos... Mas a disciplina alcança um grau maior, que é o que age sobre o individuo, o que chamo de AUTOCONTROLE.

Uma das coisas que mais obtive dos tempos de karate foi “disciplina” (pelo menos um pouco, em certos aspectos). E algo do qual mais admiro das escolas sérias de Artes Marciais (como vemos nos shaollins chineses, ou os japoneses sobre karate e Samurais, como no filme O Ultimo Samurai) é o autocontrole. Este parece ser a essência que deve mover e ressoar em cada pensamento e movimento de olhos ou músculo. O que seria de uma orquestra sem disciplina? Mas nos dias de hoje, no mundo ocidental, no Brasil, no país de Macunaíma, da emoção do futebol e do Carnaval, o discurso é outro, ‘o descontrole’ e o 'friozinho na barriga' da adrenalina. É difícil achar brasileiros disciplinados. No trabalho e faculdade vemos alguns, porém, é apenas uma sombra, pois na verdade estão enjaulados pelas normas formais do espaço, não são disciplinados; basta ver quando estão fora, as soltas suas línguas e olhares se revelam, a selvageria que eles honrosamente chamam de liberdade; pois não adestram nem mesmo os próprios desejos sexuais, ou alimentares, tampouco, emocionais; e logo partem para um barzinho ou baladinha.

Gandalf disse para o pequeno Frodo: “São tempos difíceis, ninguém gostaria de viver neles; mas não nos cabe essa escolha, somente o que iremos fazer com o tempo.” Satanás decidiu o que fazer com “seu tempo”, seu Único, e foi o de destruir e arrazoar o AUTOCONTROLE dos homens, mulheres, velhos, e crianças, meu, seu, dos nossos pais e filhos. Pois, selvagens, a natureza carnal nos dominaria. Assim ele governaria e controlaria os homens pela emoção, pelas sensações, pelas dúvidas, fantasias, imaginações, ansiedades, prazeres, glutonaria, bebidas, drogas e etc. – Ellen White coloca o apetite como a maior arma do Inimigo. Quem se controla da fome, dos desejos de comer, beber e dos vícios alimentares? Quem consegue manter uma alimentação modesta em meio ao banquete? – Assim, como com o Anel de Sauron, “Os portadores eram possuídos.” Felizmente, os hobbits eram duro na queda, se tratando de autrocontrole, se fosse outro, talvez o final fosse outro.

Em contrapartida, temos a Religião, o religar-se o homem com Deus. Acho alarmante o modo como a maioria olha, vive e conceitua religião, como se fosse um tipo de distração, circulo social, emprenhada pragmática, shows, a busca de uma sensação ou experiência mística, ou ficar lendo e recitando versos, ou simplesmente ter joelhos calejados de orar, ou apenas ter uma aparência modesta (como com roupas, joias etc.), ou simplesmente uma busca por relacionar-se com novas pessoas. Mas se formos reparar bem, a essência da religião de Cristo, do cristianismo e de toda a Bíblia, é produzir no homem o AUTOCONTROLE submetido ao governo de Deus, considerado um do fruto do Espírito Santo – chamada em outros tempos por TEMPERANÇA. É a disciplina de controlar – sim, domar – sua língua, de permanecer-se reto e agarrado em Deus em meio a espinhos, fogo e coco de passarinhos; o de cuidar da saúde devidamente, abandonar os prazeres carnais, uma vida casta, humilde, devota, singela, simples, tranquila, em paz, confiante em Deus, não amando e acumulando as coisas do mundo mas as eternas, amar o próximo com ações, atos, princípios, virtudes etc. etc. “O temor do Senhor é o principio da sabedoria.” “A prudência é a ciência do sábio.” Tudo isso, no seu âmago, o combustível pelo qual só podem ocorrer é a disciplina, o autocontrole, a temperança. A luta contra o pecado não é pedir perdão, mas sim, abandoná-lo (disciplinar-se). Guardar a Lei de Deus é pura disciplina. Amar a Deus é disciplina. E quanto ao próximo? E um namoro, uma casamento, uma família? [Não é por menos que famílias estão cada vez mais destruídas. Da disciplina do coração, o que os casais buscam, é apenas um coração batendo mais forte, até que vem um infarto, e mais um casal divorciado para a estatística.]

Hoje, com meus 24 anos, posso dizer que alcancei isso. Foi duro, envolveu muito tempo, e todo o processo pós-cirúrgico colaborou muito. Hoje olho para o passado, e vejo que a vida que tive, as muitas dificuldades pelo qual Deus me permitiu passar; todas foram essenciais para desenvolver o domínio próprio. "Pois todas as coisas contribuem para o bem daqueles que amam a Deus."  Contudo, esta joia não é algo que se conquista, coloca no armário e o usa sempre que precisar; mas é algo continuamente que deve ser nutrido, vivenciado, desenvolvido e trabalhado. Ou você cresce, ou encolhe. Ontem no ônibus tive uma provação, venci. Hoje no trem, venci. Mas terça-feira, a noite, eu a perdi, após há muitos anos sem soltar um palavrão, xinguei minha escola (IME-USP); e mesmo hoje, soltei uma brincadeira infeliz que acho que foi a coisa mais sábia a se fazer. Isso tudo mostra que a qualquer instante podemos ser tentados. Acho que a verdadeira maturidade é um individuo que realmente sabe se controlar e não a idade, no sentido que está é a sua tendencia, o predominio nas estatisticas. Contudo, quantos não são que conheço, e que não conheço, que não conseguem ficar 1 mês sem um cafezinho, ou chocolate, ou novela, ou futebol, ou sexo, ou vaidade? Internet? Até que ponto conhecem a si, seus vicios, prazeres e fraquezas? E, talvez mais importante ainda, até onde conhecem suas virtudes?

Estamos num mundo indisciplinado. Mas o que as escolas têm ensinado? Ah sim, é mais importante Binomio de Newton pois tem vestibular. E as igrejas? Também andam por aí.

1 comentários:

João Batista disse...

Muito bom Evandro.

A nossa questão é: como mudar essa realidade nas igrejas e escolas?