27 março 2008

Da Santidade À Apostasia


Muitos, às vezes, se perguntam ou perguntam: "Como pode aquela pessoa ter feito uma coisa dessas?" Pessoas exemplares, ou mesmo fiéis cristãs, fervorosos e zelesosos; depois de um tempo, estão envolvido em ações imorais, vícios, pecando, mornos, e não "lá aquelas coisas"; ou simplesmente, totalmente afastados.

Essas palavras da pena inspirada, no livro Patriarcas e Profetas, são extraordinárias quanto a descrição desse processo; de como isso acontece. Como são os perigos, as tentações, ciladas, de modo a atrair, conduzir as pessoas da luz para as trevas. Por favor, atenta para tais palavras, leia minuciosamente cada parágrafo, reflita numa contextualização e na sua vida, dia-dia; onde tais armadilhas se encontram; ore a Deus buscando por entendimento, poder e proteção para se desviar dessas armadilhas e até mesmo se libertar de tais, caso tenha sido vítima.

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"Ora tudo isto lhes sobreveio como figuras, e estão escritas para aviso nosso, para quem já são chegados os fins dos séculos. Aquele pois que cuida estar em pé, olhe não caia." I Cor. 10:11 e 12. Satanás bem conhece o material com que tem a lidar no coração humano. Ele sabe - pois tem estudado com diabólica intensidade durante milhares de anos - quais os pontos que mais facilmente podem ser assaltados no caráter de cada um; e durante gerações sucessivas tem ele operado a fim de subverter os homens mais fortes, os príncipes de Israel, pelas mesmas tentações que tiveram tanto êxito em Baal-Peor. Todos os períodos da História se acham repletos de caracteres que naufragaram de encontro aos recifes da condescendência sensual. Aproximando-nos do final do tempo, ao achar-se o povo de Deus nas fronteiras da Canaã celestial, Satanás redobrará, como fez antigamente, os seus esforços para os impedir de entrar na boa terra. Arma as suas ciladas a toda a alma. Não é simplesmente o ignorante ou sem letras que necessita de ser guardado; ele preparará suas tentações para os que se encontram nas mais elevadas posições, no mais santo mister; se ele os puder levar a poluir a alma, poderá por meio deles destruir a muitos. E ele agora emprega os mesmos fatores que empregou há três mil anos atrás. Por meio de amizades mundanas, pelos encantos da beleza, pela procura de prazeres, folguedos, festins ou bebidas, tenta ele à violação do sétimo mandamento.

Satanás seduziu Israel à depravação antes de os levar à idolatria. Aqueles que desonrarem a imagem de Deus e macularem Seu templo em suas próprias pessoas, não terão escrúpulos para praticarem qualquer desonra a Deus que satisfaça o desejo de seus depravados corações. A condescendência sensual enfraquece o espírito e avilta a alma. As faculdades morais e intelectuais ficam embotadas e paralisadas pela satisfação das inclinações animais; e é impossível ao escravo da paixão compenetrar-se da obrigação sagrada imposta pela lei de Deus, apreciar a obra expiatória, ou dar o devido valor à alma. Bondade, pureza e verdade, reverência para com Deus e amor pelas coisas sagradas - e tudo isto são afeições santas e nobres desejos que ligam os homens ao mundo celestial - são consumidos nos fogos da lascívia. A alma se torna um deserto enegrecido e desolado, habitação de espíritos maus, e "guarida de toda a ave hedionda e abominável". Seres formados à imagem de Deus são arrastados ao nível dos irracionais.

Foi associando-se com os idólatras e unindo-se às suas festas que os hebreus foram levados a transgredir a lei de Deus, e trazer Seus juízos sobre a nação. Assim, agora, é levando os seguidores de Cristo a associar-se com os ímpios e unir-se às suas diversões que Satanás é mais bem-sucedido ao induzi-los ao pecado. "Saí do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor; e não toqueis nada imundo." II Cor. 6:17. Deus requer hoje de Seu povo uma distinção tão grande do mundo, nos costumes, hábitos e princípios, como exigia de Israel antigamente. Se fielmente seguirem os ensinos de Sua Palavra, existirá esta distinção; não poderá ser de outra maneira. As advertências feitas aos hebreus contra o identificarem-se com os gentios, não eram mais diretas ou explícitas do que as que vedam aos cristãos adaptar-se ao espírito e costumes dos ímpios. Cristo nos fala: "Não ameis o mundo, nem o que no mundo há. Se alguém ama o mundo, o amor do Pai não está nele." I João 2:15. "A amizade do mundo é inimizade contra Deus"; "portanto qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus." Tia. 4:4. Os seguidores de Cristo devem separar-se dos pecadores, procurando sua companhia apenas quando há oportunidade de fazer-lhes bem. Nunca seríamos demasiado decididos em evitar a companhia daqueles que exercem influência para desviar-nos de Deus. Ao mesmo tempo em que oramos: "Não nos deixes cair em tentação" (Mat. 6:13), devemos excluir a tentação tanto quanto possível.

Foi quando os israelitas se achavam em uma condição de comodidade e segurança exterior que foram levados ao pecado. Deixaram de conservar a Deus sempre diante de si, negligenciaram a oração, e acariciaram um espírito de confiança em si próprios. A comodidade e condescendência consigo mesmos, deixaram desguarnecida a cidadela da alma, dando entrada a pensamentos aviltantes. Foram os traidores dentro dos muros que subverteram as fortalezas do princípio e traíram Israel ao poder de Satanás. É assim que Satanás ainda procura conseguir a ruína da alma. Uma longa operação preparatória desconhecida ao mundo, tem lugar no coração, antes que o cristão cometa francamente o pecado. A alma não desce de pronto da pureza e santidade à depravação, corrupção e crime. Leva tempo para que se degradem aqueles que foram formados à imagem de Deus, ao estado brutal e satânico. Pelo contemplar nos transformamos. Alimentando pensamentos impuros, o homem pode de tal maneira conduzir a mente que o pecado que uma vez lhe repugnava tornar-se-lhe-á agradável.

Satanás está empregando todos os meios para tornar populares o crime e o vício aviltante. Não podemos andar pelas ruas de nossas cidades sem encontrar notícias inflamantes de crimes, apresentadas em algum romance, ou a serem representados em algum teatro. A mente é educada de maneira a familiarizar-se com o pecado. A conduta seguida pelos que são baixos e vis é posta perante o povo nos jornais do dia, e tudo que pode provocar a paixão é trazido perante eles em histórias excitantes. Ouvem e lêem tanto acerca de crimes aviltantes que a consciência, que já fora delicada, e que teria recuado com horror de tais cenas, se torna endurecida, e ocupam-se com tais coisas com ávido interesse.

Muitos dos divertimentos populares do mundo hoje, mesmo entre aqueles que pretendem ser cristãos, propendem para os mesmos fins que os dos gentios, outrora. Poucos há na verdade entre eles, que Satanás não torne responsáveis pela destruição de almas. Por meio do teatro ele tem operado durante séculos para despertar a paixão e glorificar o vício. A ópera com sua fascinadora ostentação e música sedutora, o baile de máscaras, a dança, o jogo, Satanás emprega para derribar as barreiras do princípio e abrir a porta à satisfação sensual. Em todo ajuntamento onde é alimentado o orgulho e satisfeito o apetite, onde a pessoa é levada a esquecer-se de Deus e perder de vista os interesses eternos, está Satanás atando suas correntes em redor da alma.

"Guarda o teu coração", é o conselho do sábio, "porque dele procedem as saídas da vida." Prov. 4:23. Conforme o homem "imaginou na sua alma, assim é". Prov. 23:7. O coração deve ser renovado pela graça divina, ou será em vão procurar pureza de vida. Aquele que tenta edificar um caráter nobre, virtuoso, independente da graça de Cristo, está edificando sua casa sobre areia movediça. Nas cruéis tempestades da tentação certamente será ela derribada. A oração de Davi deve ser a petição de toda alma: "Cria em mim, ó Deus, um coração puro, e renova em mim um espírito reto." Sal. 51:10. E, tendo-nos tornado participantes do dom celestial, devemos prosseguir até à perfeição, sendo "mediante a fé" "guardados na virtude de Deus". I Ped. 1:5.

Temos todavia uma obra a fazer a fim de resistirmos à tentação. Aqueles que não querem ser presa dos ardis de Satanás devem bem guardar as entradas da alma; devem evitar ler, ver, ou ouvir aquilo que sugira pensamentos impuros. A mente não deve ser deixada a divagar ao acaso em todo o assunto que o adversário das almas possa sugerir. "Cingindo os lombos do vosso entendimento", diz o apóstolo Pedro, "sede sóbrios, ... não vos conformando com as concupiscências que antes havia em vossa ignorância; mas, como é santo Aquele que vos chamou, sede vós também santos em toda a vossa maneira de viver." I Ped. 1:13-15. Diz Paulo: "Tudo o que é verdadeiro, tudo o que é honesto, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é de boa fama, se há alguma virtude, e se há algum louvor, nisso pensai." Filip. 4:8. Isto exigirá oração fervorosa e incessante vigiar. Devemos ser auxiliados pela influência permanente do Espírito Santo, que atrairá a mente para cima, e habituá-la-á a ocupar-se com coisas puras e santas. E devemos fazer estudo diligente da Palavra de Deus. "Como purificará o mancebo o seu caminho? observando-o conforme a Tua Palavra." "Escondi a Tua Palavra no meu coração", diz o salmista, "para eu não pecar contra Ti." Sal. 119:9-11.

O pecado de Israel em Bete-Peor acarretou os juízos de Deus sobre a nação, e, embora os mesmos pecados hoje não sejam punidos tão prontamente, de um modo tão certo terão eles a sua paga. "Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá." I Cor. 3:17. A natureza determinou penas terríveis a estes crimes, penas estas que, mais cedo ou mais tarde, serão infligidas a todo o transgressor. São estes pecados mais do que outros quaisquer os que têm causado a terrível degeneração de nossa espécie, e o cortejo de moléstias e miséria que faz a desgraça do mundo. Os homens podem ter êxito ao esconder de seus semelhantes as suas transgressões, mas nem por isso deixarão de ceifar infalivelmente os resultados, em sofrimentos, moléstias, imbecilidade ou morte. E além desta vida encontra-se o tribunal do Juízo, com sentenças de eterna punição. "Os que cometem tais coisas não herdarão o reino de Deus" (Gál. 5:21), mas com Satanás e os anjos maus terão parte naquele "lago de fogo", que é a "segunda morte". Apoc. 20:14.

"Os lábios da mulher estranha distilam favos de mel, e o seu paladar é mais macio do que azeite; mas seu fim é amargoso como o absinto, agudo como a espada de dois gumes." "Afasta dela o teu caminho, e não te aproximes da porta da sua casa; para que não dês a outro a tua honra, nem os teus anos a cruéis. Para que não se fartem os estranhos do teu poder e todos os teus trabalhos entrem na casa do estrangeiro, e gemas no teu fim, quando consumirem a tua carne e o teu corpo." Prov. 5:3, 4, 8-11. "Sua casa se inclina para a morte." "Todos os que se dirigem a ela não voltarão." Prov. 2:18 e 19. "Seus convidados estão nas profundezas do inferno." Prov. 9:18.

Ellen G. White, Patriarcas e Profetas, p. 457-461

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