Reflexões sobre a Vidade dos Homens
.....Vivemos com vaidade, e com vaidade morremos; arrancando os últimos suspiros, estamos dispondo a nossa pompa fúnebre, como se em hora fatal o morrer não bastasse para ocupação: nessa hora em que estamos para deixar o mundo, ou em que o mundo está para nos deixar, e entramos a compor e a ordenar o nosso acompanhamento e assistência funeral; e com vanglória antecipada nos pomos a antever aquela crimônia, a que chamam as nações últimas horas, devendo antes chamá-la de vidades últimas. Queremos que em cada um de nós se entregue à terra, com solenidade e fausto, outra infeliz porção de terra: tributo inexorável! A vaidade no mei oda agonia nos faz saborear a ostentação de um luxo que nos é posterior, e nos faz sens'veis a satenções que hão de diregir-se à nossa insensibilidade. (...)
.....De todas as paixões, a que mais se esconde é a vidade: e se esconde de tal forna, que a si mesma se oculta e ignora: ainda as ações mais pias nascem muitas vezes de uma viadade mística, que quem a tem não a conhece nem distingue: a satisfação própria, que a alma recebe, é como um espelho em que nos vemos superiores aos mais homens pelo bem que obramos, e nisso consiste a viadade de obrar o bem.
.....Não há maior injúria que o desprezo; é porque o desprezo todo se dirige e ofende a viadade: por isso a perda da honra aflige mais que a da fortuna; não porque esta deixe de ter um objeto mais certo e mais visível, mas porque aquela toda se compõe da vaidade, que é em nós a parte mais sensível. Poucas vezes se espõe a honra por amor da vida, e quase sempre se sacrifica a vida por amor da honra. Com a honra que adquire, se consola o que perde a vida; porém o que perde a honra, não lhe serve de alívio a vida que conserva: como se os homens mais nascessem para terem honra, que para terem vida, ou fossem formados menos para existirem no ser, que para durarem na vaidade. Justo fora que amassem com excesso a honra, se esta não fosse quase sempre um desvario que se sustenta na estimação dos homens, e só vive da opinião deles.
(Matias Aires Ramos da Silva de Eça. Reflexões sobre a viadade
dos homens. 1953)
Reflita um pouco sobre isso, e sobre o que Salomão escreveu em Eclesiastes 1:1-15.
"Vaidade de vaidade, disse o Eclesiastes; vaidade de vaidades, tudo é vaidade."
Palavras marcantes desse texto:
- vanglória antecipada
- vaidades últimas
- a vaidade de obrar o bem
- um desvario que se sustenta na estimação dos homens
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