A 4ª Sinfonia de Tchaikovsky é uma obra única e extraordinária. A primeira vez que ouvi foi no final de março - se não me engano - no Teatro de Santo André, tocada pela Orquestra Sinfônica de Santo André sob a regência de Carlos Moreno. Dez daquelas primeiras notas puxadas pelos metais, e já me apaixonei pela música e a ouvi atentamente até o final; mas sinceramente, na primeira vez não consegui entender nada, apenas “curti” a música pela música; mas logo que cheguei em casa, baixei da Internet e comecei a ouvi-la; creio que escutei umas 20 vezes ou mais, em pouco mais de 2 meses, até que me acostumei com o som, entradas, conversas. E no último mês, escutando mais atentamente, além de pegar uma partitura e tentar acompanhar a orquestra com o meu trompete... - o que é embaçado, ler num andamento de 160 colcheias por minuto é fogo!!! Mas estou melhorando, já consigo ir nuns 145. - decidi fazer uma análise interpretativa.
Bem, quanto a interpretação, primeiro vou fazer umas colocações mais específicas dos momentos da música, para depois uma análise visando mais o geral.
1º Movimento – Andante sostenuto
Numa idéia geral ele é uma introdução mostrando uma visão de importância dos temas tratados, das memórias passadas, do claro e do escuro, dos momentos tristes e alegres, e a consideração, com os metais dando ênfase em ressaltar essa solenidade, importância e atenção do tema do destino: daquilo que de fato ocorre na vida, querendo ou não.
[0 – 1:05] As trompas e demais metais dão o forte e distingue anuncio de atenção, o qual não se costuma ver nas outras sinfonias, tampouco na primeira nota do primeiro movimento. A intenção não é outra, é chamar a atenção sim, com força total, é um berro, um estrondo tão forte, maior do que qualquer outra coisa que você já deve ter ouvido, é como um trovão, um raio; o qual ainda é reforçado com aquelas inesperadas pausas repentinas que mais parece um impacto de um cometa na nota final do bombo sinfônico. Esse anuncio de atenção porém, é diferente do que se vê no quarto movimento, este é muito solene, está anunciando que tem algo MUITO IMPORTANTE a dizer, não é para fazer o pessoal pulae das poltronas, pelo contrário, é para encravar a bunda dos ouvintes nos acentos, e abrirem bem ouvido, congelarem e prestarem o máximo de atenção no que a música tem a dizer.
[1:05 – 5:16] As madeiras e as cordas tomam a cena introduzindo uma questão importante que será muito tratada na música, misturando todas essas coisas, porém não é bem uma mistura, tudo faz parte, tudo está unido, inseparável, mas ao mesmo tempo, bem marcado em momentos. As violas e cellos dão aquele teor fortíssimo de profundeza, que aquilo de fato significou e significa muito, mas com um certo arrependimento, tristeza; e no final, uma alegria passa a crescer e desenvolver.
Ponto: [3:35 – 4:45] Se observa ali um valor praticamente materno. Se era consideração de Tchaikovsky para com a sua vida, talvez questões praticamente maternas com a vida, ou para com sua amiga, ou outro, não sei. Mas ali se vê um valor da magnitude e caráter do ramanho do valor materno, é claramente expresso.
[5:16 – 7:36] O cenário muda e agora vemos algo muito mais voltado para amizade, brincadeiras, segredos, o amigo confidente; é como se visse um retrato da infância e dali lembrasse das travessuras, inocência e dos amigos da época.
[7:40 – 8:48] Há uma renovação dizendo o quanto tudo isso foi valoroso; há um forte reconhecimento, a idéia mais idealística de gratidão passa a surgir; de modo, que vemos uma imagem anuviada, mas que no fundo se sabe que se trata do amor verdadeiro; não do amor que se tem por uma mulher, um relacionamento em si, mas o amor amor mesmo, aquele valor máximo que excede todas as coisas.
[8:48] Mais um forte chamado. Nos lembrando do inicio da sinfonia; praticamente no meio do primeiro movimento; talvez fazendo o mesmo chamado, para a parte final do movimento.
[9:00 – 12:20] Alguns momentos difíceis da vida. Contudo, não consegui interpretar muito bem e definir, o que alguns instrumentos conversavam, creio que seja algo do tipo “Passamos por isso [essas dificuldades] juntos.” Não consegui observar essa colocação no singular.
Ponto: [10:37] Ressalta a importância do companheirismo, quando parecia que estava todo desesperado. E numa resposta, acho que dos violinos 2, vemos a frase “Você estava lá.” Contudo, acho que também poderia ser, uma colocação de auto-reconhecimento “Passei/passamos por isso.” Ou podia ser "Por que isso foi acontecer?" (são semanticas muito próximas, no modo como foi dito)
Ponto: [12:08] Uma ênfase concluindo novamente o valor dsso. Creio que nesse momento, Tchaikovsky se prendeu e desenvolveu uma harmonia que buscasse abrir nossos olhos e observar que o valor disso é algo grande demais, que quebra, rompe, vai para fora de nossas medidas.
[12:22 – 14:50] Semelhante ao que vimos por volta dos 5, 6 minutos. Mas com uma cara mais adolescente, mais jovem, praticamente uma juventude. Brincadeiras, aventuras; mas não numa intensidade tão infantil e com uma idéia muito próxima, é como se não chegou a aproveitar tudo o que podia. Aos 14 minutos vemos uma espécie de conversa de perguntas, mas sem respostas, do tipo: “Lembra disso?”
[14:50 - ] Uma rápida visão geral de todas as coisas passadas, quase que uma rápida folheada no diário, onde só se vê algumas fotos maiores e de destaque; e todas elas já foram ditas na música.
[15:30 - ] Há mais um chamado. Uma chamado como no primeiro, porém meio que dizendo: “Acha que ouviu de tudo? Sente-se, inclina seus ouvidos, preste atenção, que isso foi apenas uma introdução, agora vem o denso.” E então se há uma rápida finalização dessa introdução, muito bem feita, pois não termina a música, como vemos em algumas sinfonias. Ela puxa a idéia do segundo movimento tendo-se tudo o que se viu em mente; e dá uma vaga idéia do que apenas viria no quarto movimento.
[17:00] Fecha-se o movimento colocando a essência desse movimento. Não consegui compreendê-lo o que é exatamente (Dizem ser o destino). Mas posso dizer que é muito forte, era para ser eterno, mas há um certo desgosto por ser limitado; é meio amargo.
2º Movimento – Andantino (canzona)
Esse movimento começa com o oboé, com toda a sua expressão triste e melancólica refletindo, de modo um pouco cansado e desabafando consigo mesmo, sincero. É como no final de um dia trabalhoso, você senta-se em algum lugar tranqüilo e começa a pensar no dia, na vida, porém, arrastado pela melancolia, tristeza, decepção; há a tentação de se entregar a total desesperança, chutar o balde, chutar a vida.
E essa reflexão vai se tornando mais séria, profunda; ao mesmo tempo, que paralelamente a harmonia vai crescendo, se tornando mais forte. É como se apesar de olhar tudo aquilo, começa a se retirar algumas lições, alguns fragmentos de realização e esperança.
[3:00 – 3:40] É um momento mais forte dessa reflexão, até que a flauta (se não confundi o timbre com outra madeira) entra mostrando uma certa saída, uma perspectiva; uma idéia “O que construí até aqui.” E essa idéia vai sendo trabalhada e aumentada ao ser observada e relatada por outros aspectos, pontos de vista, assim como convida os outros instrumentos, numa espécie de momento de grande conversa: “É isso.” “Aconteceu aquilo.” “Verdade, teve isso.” “Uma esperança?”... várias palavras, frases e idéias vão sendo jogadas, por várias pessoas, e ficando mais claro.
[4:56] Marca o fim dessa cena crescente de luz; um breve auge, com a entrada do tímpano e trompete. Depois há uma volta àquela mesma cena do começo, de reflexão, em meio à muitas recordações. (repare bem, na sutileza da flauta de fundo... mostrando que há um raio de esperança sempre presente nessa mesma abordagem triste)
[7:35] A nuvem escura começa a passar e o sol a aparecer. O eu lírico começa a sair da fossa.
[por volta dos 8min] Passa a haver a conclusão do tema central desse segundo movimento. De modo deixando a idéia: “É duro, difícil mesmo, muita dor, dificuldade há na vida.” Mas com uma postura de “Eu consegui sobreviver a tudo isso. Posso encarar.”
[9:10 – fim] O fim do movimento termina com questionamentos, incertezas, dualidade; para ser sincero, creio que mais que dualidade, um conflito forte entre a luz e o escuro. A luz parece vencer no geral, mas ela não fica totalmente; essa plenitude não se alcança. Será que há uma sugestão que a felicidade é utópica, deixada por Tchaikovsky? (na melancolia parece que sim, mas no decorrer da sinfonia, vemos uma outra conclusão)
3º Movimento – Scherzo – Pizzicato Ostinato
É uma doideira esse movimento. Não dá se saber se o cara de repente fica louco, tem alucinações, se está bêbado, ou se tornou um impressionista; a melhor cena que me vem em mente é de ficar pulando, cavalgando como um louco nas estrelas.
[0:00 – 1:45] Você simplesmente fica para cá e lá, como que boiando sobre as ondas de um mar que ficam mudando de direção e nada fica definido. Será que Tchaikovsky está mostrando uma certa tentativa de fuga da questão?
[1:46 - ] Há algo novo, criativo. Há beleza naquilo (parece que o objeto é a vida). Mas que e torna claramente estranho; há novamente uma fuga da racionalidade e da sobriedade; simplesmente a pessoa passa a “viajar na maionese”.
[ 4 minutos ] Aí a coisa é toda misturada de novo. Me fez até lembrar de quando estava lendo Macunaíma, é bem aquilo. Agora sim aprecio o trabalho e dedicação do pessoal da corda para conseguir tocar e interpretar isso.
[ 5 minutos ] momento crescente da loucura, mas com cara de sóbrio. E essa loucura foi terminando, e a sobridez ficando mais forte e clara. Até que de repente, BOOM!!!
4º Movimento – Finale – Allegro con fuoco
[ Começo ] – BOOM!!! Não, não tem nada a ver com aquele inicial do primeiro movimento, apesar de forte e poderoso. É uma BOMBA, uma bomba de ânimo MUUIIIITO FORTE mesmo, que destrói e, de uma vez, todo aquele sentimento, mal estar, melancolia, depressão, desanimo, do segundo movimento "vai pro espaço", e que acaba com aquela doidera da incerteza do terceiro movimento; enchendo com ânimo e certeza do que será tratado agora: a conclusão final de tudo isso.
É um BOOM forte, mas pode ser visto também como uma reflexão histérica com bom ânimo para cima, saindo dessa melancolia e pegando os gostinhos aos poucos dessa carga de animo depositada; e vai se apegando mais desse gostinho, e mais, e mais, até que se encanta com graça e majestade [ 0:17 – 0:46].
[ 0:47 ] Mais poder ainda! Mais energia. Mais forças. Mais ânimo!
Então dá mais uma volta no quarteirão até que entra numa musiquinha:
[ 0:56 ] A musiquinha, até parece que saiu da sinfonia e entrou em outro lugar. É um convite a entrar na dança. Um convite a alegria, a sair da fossa. A essência agora é “meu, tenha alegria!” “Você pode encarar a vida com alegria.” "Venha dançar comigo que eu te mostro, coloco, alegria!"
[ 1:13 ] A profundidade desse poder de transformar o escuro em claro.
[ 1:35 ] Uma lembrança da dificuldade... é profundo. O agravamento dessa dificuldade, desse conflito, de quebrar as próprias cadeias é destroçado pelos trombones e tuba[?].
[ 2:35 ] Uma saída.
[ 2:48 ] Um desespero para sair. Porém, é como uma sugestão, como se alguém te pegasse pelos braços e começasse a te balançar falando bem forte: “Meu! Está me ouvindo? Sai dessa!!!! Anima-te!!!”
[ 3:00 ] Novamente, o BOOM. Mais uma injeção de energia. De ânimo. Essa é a ênfase do movimento.
[ 4:00 ] Há uma queda... uma recaída... De modo que aos 4:35 os violinos puxam para algo simplesmente desconcertante.
[ 5:35 ] Metais puxam tal ao clímax! Ao ponto de romper! De modo que aos 5:29 os pratos indicam a chegada a este ponto máximo, os trompetes puxando para cima, jogando a questão, “quase rompeu!” “É aqui!” “é o máximo”; e os trombones e tuba puxando a base e sustentação solene forte, importante, potente, profunda, da questão; dá quase para ter um ataque, uma convulsão em você; de tão forte, como esse “reclamo” dos metais desconcerta nossa alma, de tão profunda e forte que é.
[ 5:45 ] O Trovão!!! Que lembra aquelas pausas sinistras da abertura, mas que há uma forte diferença, como na presença dos pratos; é um fechamento, um toque final mais agudo; enquanto que o da abertura, mais grave. Mas sim, se trata de mais uma chamada de atenção. E quase que um efeito sonoro de parada cardíaca – hehe. Em seguida é como se a tempestade passasse, ou se literalmente a pessoa desmaiasse. A idéia de um infarto, de uma morte parece cair muito bem. Algo que foi crescendo em tal intensidade, que o coração explodiu, morreu; e que agora, veríamos de fato a vida. Não será que foi a morte dessa cadeia, da depressão?
[ 6:41 - final] O ressurgimento final. É a libertação da vida. Praticamente um renascimento. É a energia ao máximo!!! Esse ressurgimento, nascimento, começa indo devagar. É como se a pessoa após ter caído, levantasse meio atordoada, e visse um objetivo, a liberdade, a vida, a felicidade, a alegria. E então ela começa a andar em direção àquilo, então há um aumento no ritmo, na velocidade, a pessoa começa a apressar os passos, mas ainda é insuficiente, aí ela começa a correr, e a correr mais, e mais... até que corre e corre e corre com tudo, o máximo que puder, com todo coração; igual um louco, até que então, chega, e AGARRA esse prêmio.
Ponto: [7:33] A mensagem foi dada. E agora, Tchaikovsky passa a finalizar o tema. Há todas aquelas saudações “obrigado.” “Muito obrigado.” “foi um prazer” “espero que tenham apreciado a música”. E nessa finalização vemos o fim do escuro; não vejo uma sombra dele.
[ Término ] O término é dado por conta dos metais (aliás, instrumentos MUITO exigidos no último movimento). É interessante notar a dinâmica e harmônia final dos metais: fazem lembrar da importância, solenidade... é como se pronunciassem no mais profundo das idéias, essas três fazes em uníssono: (1) “Lembram-se”, (2) “A mensagem foi dada”, (3) “Estou selando a carta (a mensagem)”.
Fim.
------
Não há como no final você não estar com os olhos e a mente arregalados e suspirar: “Ual.”
Observando agora num ponto de vista mais geral. O tema tratado aqui é quanto a algo que é um fato que ocorre na vida; são os altos e baixos da vida; são as amargar lembranças de um passado que já ocorreu; são as decepções (no caso, Tchaikovsky teve uma no seu casamento); de modo, que a felicidade, a alegria plena nunca será plena, constante; quando parece que vai ser, vem algo e derruba agente.
Em nenhum momento Tchaikovsky diz que essas pedras, tropeços, fundos do poço são coisas simples. Não, ele demonstra em alguns momentos, em todos os movimentos que é ao ponto de ‘rasgar a alma’, como se fosse um leão que viesse enfiasse as garras no peito e abrisse com a maior fúria e destruição possível, te arregaçando para valer mesmo. De modo que é muito mais do que o choro da Serenata Noturna de Beethoven; pois não é tão temporal assim, é algo duro, que suas cicatrizes podem durar a vida toda. Tchaikovsky diz isso, mostra isso na música. Até no Scherzo, vemos que a pessoa fica louca.
Ele também fala do fato de que essas coisas ocorrem sem avisar muitas vezes, de repente na hora que estava bem, mais uma queda, mais uma lembrança amarga. Mas ele também admitiu que muitas vezes não estamos só, que há companheiros, há pessoas que nos ajudam, que nos dão forças para suportar. No primeiro movimento vemos um forte reconhecimento disso e um elevado sentimento de gratidão e significado.
Mas aí ele chega no quarto movimento e diz que tem uma luz no fim do túnel. E que lá fora há um paraíso. Que é possível passar e libertar-se de toda essa angústia, sofrimento. Que é possível viver, ter alegria, de ver o sol raiar de novo. Me lembra da sinfonia Heróica de Beethoven, em que tal relata da própria superação quanto a sua perda auditiva. Há uma libertação dessa fossa, melancolia, desgosto da vida. Todas aquelas coisas ruins, momentos escuros na vida vão ocorrer, mas liberte-se da tristeza, seja feliz, passe por tudo isso, mas no final, sorria, olhe para o sol, abra os braços e grite do fundo do peito “Uh HUUu!” Há uma vida. Agarre a vida, agarre as valores, as pessoas, amigos, e lute, grite pela liberdade, pela felicidade. Pois mesmo quando você está no fundo do poço, sem forças, desmaiado; vem a vida e te convida para dançar uma valsa com ela.
Essa ênfase dada ao quarto movimento é tão forte que se alguém 20 anos depois se lembrasse da música, Tchaikovsky gostaria que ela só conseguisse lembrar do quarto movimento. De modo que se a quarta sinfonia fosse uma laranja, e a espremêssemos, a essência seria o “Allegro”; e que assim deve ser a nossa vida; de modo que possamos espremer nossa vida e dizer “a alegria, a felicidade foi a essência dela”. É tão forte a exigência desse quarto movimento, é uma luz e claridade que quer acabar com a menor sombra possível - os metais que o digam.
Essa é a minha analise e interpretação feita até o momento, naquilo que escutei com atenção nesses últimos meses. E alguns trechos até toquei [trompete], tentando acompanhar a orquestra. Espero ter feito uma boa interpretação, já revisei várias vezes, ouvi diversas vezes. E gostaria de saber o que diriam os grandes intérpretes de Tchaikovsky, maestros e estudiosos da música. Se eu cometi algum erro, interpretei algo errado, por favor, me digam, se quiserem acrescentar algo também, fiquem a vontade.
Deixo aos leitores duas análises criticas dessa obra de arte, que achei muito interessante, e que talvez possa ajudá-lo a compreender melhor o que o mágico, infinito e fantástico mundo das idéias musicais tem a nos dizer nessa sinfonia:
Bem, quanto a interpretação, primeiro vou fazer umas colocações mais específicas dos momentos da música, para depois uma análise visando mais o geral.
1º Movimento – Andante sostenuto
Numa idéia geral ele é uma introdução mostrando uma visão de importância dos temas tratados, das memórias passadas, do claro e do escuro, dos momentos tristes e alegres, e a consideração, com os metais dando ênfase em ressaltar essa solenidade, importância e atenção do tema do destino: daquilo que de fato ocorre na vida, querendo ou não.
[0 – 1:05] As trompas e demais metais dão o forte e distingue anuncio de atenção, o qual não se costuma ver nas outras sinfonias, tampouco na primeira nota do primeiro movimento. A intenção não é outra, é chamar a atenção sim, com força total, é um berro, um estrondo tão forte, maior do que qualquer outra coisa que você já deve ter ouvido, é como um trovão, um raio; o qual ainda é reforçado com aquelas inesperadas pausas repentinas que mais parece um impacto de um cometa na nota final do bombo sinfônico. Esse anuncio de atenção porém, é diferente do que se vê no quarto movimento, este é muito solene, está anunciando que tem algo MUITO IMPORTANTE a dizer, não é para fazer o pessoal pulae das poltronas, pelo contrário, é para encravar a bunda dos ouvintes nos acentos, e abrirem bem ouvido, congelarem e prestarem o máximo de atenção no que a música tem a dizer.
[1:05 – 5:16] As madeiras e as cordas tomam a cena introduzindo uma questão importante que será muito tratada na música, misturando todas essas coisas, porém não é bem uma mistura, tudo faz parte, tudo está unido, inseparável, mas ao mesmo tempo, bem marcado em momentos. As violas e cellos dão aquele teor fortíssimo de profundeza, que aquilo de fato significou e significa muito, mas com um certo arrependimento, tristeza; e no final, uma alegria passa a crescer e desenvolver.
Ponto: [3:35 – 4:45] Se observa ali um valor praticamente materno. Se era consideração de Tchaikovsky para com a sua vida, talvez questões praticamente maternas com a vida, ou para com sua amiga, ou outro, não sei. Mas ali se vê um valor da magnitude e caráter do ramanho do valor materno, é claramente expresso.
[5:16 – 7:36] O cenário muda e agora vemos algo muito mais voltado para amizade, brincadeiras, segredos, o amigo confidente; é como se visse um retrato da infância e dali lembrasse das travessuras, inocência e dos amigos da época.
[7:40 – 8:48] Há uma renovação dizendo o quanto tudo isso foi valoroso; há um forte reconhecimento, a idéia mais idealística de gratidão passa a surgir; de modo, que vemos uma imagem anuviada, mas que no fundo se sabe que se trata do amor verdadeiro; não do amor que se tem por uma mulher, um relacionamento em si, mas o amor amor mesmo, aquele valor máximo que excede todas as coisas.
[8:48] Mais um forte chamado. Nos lembrando do inicio da sinfonia; praticamente no meio do primeiro movimento; talvez fazendo o mesmo chamado, para a parte final do movimento.
[9:00 – 12:20] Alguns momentos difíceis da vida. Contudo, não consegui interpretar muito bem e definir, o que alguns instrumentos conversavam, creio que seja algo do tipo “Passamos por isso [essas dificuldades] juntos.” Não consegui observar essa colocação no singular.
Ponto: [10:37] Ressalta a importância do companheirismo, quando parecia que estava todo desesperado. E numa resposta, acho que dos violinos 2, vemos a frase “Você estava lá.” Contudo, acho que também poderia ser, uma colocação de auto-reconhecimento “Passei/passamos por isso.” Ou podia ser "Por que isso foi acontecer?" (são semanticas muito próximas, no modo como foi dito)
Ponto: [12:08] Uma ênfase concluindo novamente o valor dsso. Creio que nesse momento, Tchaikovsky se prendeu e desenvolveu uma harmonia que buscasse abrir nossos olhos e observar que o valor disso é algo grande demais, que quebra, rompe, vai para fora de nossas medidas.
[12:22 – 14:50] Semelhante ao que vimos por volta dos 5, 6 minutos. Mas com uma cara mais adolescente, mais jovem, praticamente uma juventude. Brincadeiras, aventuras; mas não numa intensidade tão infantil e com uma idéia muito próxima, é como se não chegou a aproveitar tudo o que podia. Aos 14 minutos vemos uma espécie de conversa de perguntas, mas sem respostas, do tipo: “Lembra disso?”
[14:50 - ] Uma rápida visão geral de todas as coisas passadas, quase que uma rápida folheada no diário, onde só se vê algumas fotos maiores e de destaque; e todas elas já foram ditas na música.
[15:30 - ] Há mais um chamado. Uma chamado como no primeiro, porém meio que dizendo: “Acha que ouviu de tudo? Sente-se, inclina seus ouvidos, preste atenção, que isso foi apenas uma introdução, agora vem o denso.” E então se há uma rápida finalização dessa introdução, muito bem feita, pois não termina a música, como vemos em algumas sinfonias. Ela puxa a idéia do segundo movimento tendo-se tudo o que se viu em mente; e dá uma vaga idéia do que apenas viria no quarto movimento.
[17:00] Fecha-se o movimento colocando a essência desse movimento. Não consegui compreendê-lo o que é exatamente (Dizem ser o destino). Mas posso dizer que é muito forte, era para ser eterno, mas há um certo desgosto por ser limitado; é meio amargo.
2º Movimento – Andantino (canzona)
Esse movimento começa com o oboé, com toda a sua expressão triste e melancólica refletindo, de modo um pouco cansado e desabafando consigo mesmo, sincero. É como no final de um dia trabalhoso, você senta-se em algum lugar tranqüilo e começa a pensar no dia, na vida, porém, arrastado pela melancolia, tristeza, decepção; há a tentação de se entregar a total desesperança, chutar o balde, chutar a vida.
E essa reflexão vai se tornando mais séria, profunda; ao mesmo tempo, que paralelamente a harmonia vai crescendo, se tornando mais forte. É como se apesar de olhar tudo aquilo, começa a se retirar algumas lições, alguns fragmentos de realização e esperança.
[3:00 – 3:40] É um momento mais forte dessa reflexão, até que a flauta (se não confundi o timbre com outra madeira) entra mostrando uma certa saída, uma perspectiva; uma idéia “O que construí até aqui.” E essa idéia vai sendo trabalhada e aumentada ao ser observada e relatada por outros aspectos, pontos de vista, assim como convida os outros instrumentos, numa espécie de momento de grande conversa: “É isso.” “Aconteceu aquilo.” “Verdade, teve isso.” “Uma esperança?”... várias palavras, frases e idéias vão sendo jogadas, por várias pessoas, e ficando mais claro.
[4:56] Marca o fim dessa cena crescente de luz; um breve auge, com a entrada do tímpano e trompete. Depois há uma volta àquela mesma cena do começo, de reflexão, em meio à muitas recordações. (repare bem, na sutileza da flauta de fundo... mostrando que há um raio de esperança sempre presente nessa mesma abordagem triste)
[7:35] A nuvem escura começa a passar e o sol a aparecer. O eu lírico começa a sair da fossa.
[por volta dos 8min] Passa a haver a conclusão do tema central desse segundo movimento. De modo deixando a idéia: “É duro, difícil mesmo, muita dor, dificuldade há na vida.” Mas com uma postura de “Eu consegui sobreviver a tudo isso. Posso encarar.”
[9:10 – fim] O fim do movimento termina com questionamentos, incertezas, dualidade; para ser sincero, creio que mais que dualidade, um conflito forte entre a luz e o escuro. A luz parece vencer no geral, mas ela não fica totalmente; essa plenitude não se alcança. Será que há uma sugestão que a felicidade é utópica, deixada por Tchaikovsky? (na melancolia parece que sim, mas no decorrer da sinfonia, vemos uma outra conclusão)
3º Movimento – Scherzo – Pizzicato Ostinato
É uma doideira esse movimento. Não dá se saber se o cara de repente fica louco, tem alucinações, se está bêbado, ou se tornou um impressionista; a melhor cena que me vem em mente é de ficar pulando, cavalgando como um louco nas estrelas.
[0:00 – 1:45] Você simplesmente fica para cá e lá, como que boiando sobre as ondas de um mar que ficam mudando de direção e nada fica definido. Será que Tchaikovsky está mostrando uma certa tentativa de fuga da questão?
[1:46 - ] Há algo novo, criativo. Há beleza naquilo (parece que o objeto é a vida). Mas que e torna claramente estranho; há novamente uma fuga da racionalidade e da sobriedade; simplesmente a pessoa passa a “viajar na maionese”.
[ 4 minutos ] Aí a coisa é toda misturada de novo. Me fez até lembrar de quando estava lendo Macunaíma, é bem aquilo. Agora sim aprecio o trabalho e dedicação do pessoal da corda para conseguir tocar e interpretar isso.
[ 5 minutos ] momento crescente da loucura, mas com cara de sóbrio. E essa loucura foi terminando, e a sobridez ficando mais forte e clara. Até que de repente, BOOM!!!
4º Movimento – Finale – Allegro con fuoco
[ Começo ] – BOOM!!! Não, não tem nada a ver com aquele inicial do primeiro movimento, apesar de forte e poderoso. É uma BOMBA, uma bomba de ânimo MUUIIIITO FORTE mesmo, que destrói e, de uma vez, todo aquele sentimento, mal estar, melancolia, depressão, desanimo, do segundo movimento "vai pro espaço", e que acaba com aquela doidera da incerteza do terceiro movimento; enchendo com ânimo e certeza do que será tratado agora: a conclusão final de tudo isso.
É um BOOM forte, mas pode ser visto também como uma reflexão histérica com bom ânimo para cima, saindo dessa melancolia e pegando os gostinhos aos poucos dessa carga de animo depositada; e vai se apegando mais desse gostinho, e mais, e mais, até que se encanta com graça e majestade [ 0:17 – 0:46].
[ 0:47 ] Mais poder ainda! Mais energia. Mais forças. Mais ânimo!
Então dá mais uma volta no quarteirão até que entra numa musiquinha:
[ 0:56 ] A musiquinha, até parece que saiu da sinfonia e entrou em outro lugar. É um convite a entrar na dança. Um convite a alegria, a sair da fossa. A essência agora é “meu, tenha alegria!” “Você pode encarar a vida com alegria.” "Venha dançar comigo que eu te mostro, coloco, alegria!"
[ 1:13 ] A profundidade desse poder de transformar o escuro em claro.
[ 1:35 ] Uma lembrança da dificuldade... é profundo. O agravamento dessa dificuldade, desse conflito, de quebrar as próprias cadeias é destroçado pelos trombones e tuba[?].
[ 2:35 ] Uma saída.
[ 2:48 ] Um desespero para sair. Porém, é como uma sugestão, como se alguém te pegasse pelos braços e começasse a te balançar falando bem forte: “Meu! Está me ouvindo? Sai dessa!!!! Anima-te!!!”
[ 3:00 ] Novamente, o BOOM. Mais uma injeção de energia. De ânimo. Essa é a ênfase do movimento.
[ 4:00 ] Há uma queda... uma recaída... De modo que aos 4:35 os violinos puxam para algo simplesmente desconcertante.
[ 5:35 ] Metais puxam tal ao clímax! Ao ponto de romper! De modo que aos 5:29 os pratos indicam a chegada a este ponto máximo, os trompetes puxando para cima, jogando a questão, “quase rompeu!” “É aqui!” “é o máximo”; e os trombones e tuba puxando a base e sustentação solene forte, importante, potente, profunda, da questão; dá quase para ter um ataque, uma convulsão em você; de tão forte, como esse “reclamo” dos metais desconcerta nossa alma, de tão profunda e forte que é.
[ 5:45 ] O Trovão!!! Que lembra aquelas pausas sinistras da abertura, mas que há uma forte diferença, como na presença dos pratos; é um fechamento, um toque final mais agudo; enquanto que o da abertura, mais grave. Mas sim, se trata de mais uma chamada de atenção. E quase que um efeito sonoro de parada cardíaca – hehe. Em seguida é como se a tempestade passasse, ou se literalmente a pessoa desmaiasse. A idéia de um infarto, de uma morte parece cair muito bem. Algo que foi crescendo em tal intensidade, que o coração explodiu, morreu; e que agora, veríamos de fato a vida. Não será que foi a morte dessa cadeia, da depressão?
[ 6:41 - final] O ressurgimento final. É a libertação da vida. Praticamente um renascimento. É a energia ao máximo!!! Esse ressurgimento, nascimento, começa indo devagar. É como se a pessoa após ter caído, levantasse meio atordoada, e visse um objetivo, a liberdade, a vida, a felicidade, a alegria. E então ela começa a andar em direção àquilo, então há um aumento no ritmo, na velocidade, a pessoa começa a apressar os passos, mas ainda é insuficiente, aí ela começa a correr, e a correr mais, e mais... até que corre e corre e corre com tudo, o máximo que puder, com todo coração; igual um louco, até que então, chega, e AGARRA esse prêmio.
Ponto: [7:33] A mensagem foi dada. E agora, Tchaikovsky passa a finalizar o tema. Há todas aquelas saudações “obrigado.” “Muito obrigado.” “foi um prazer” “espero que tenham apreciado a música”. E nessa finalização vemos o fim do escuro; não vejo uma sombra dele.
[ Término ] O término é dado por conta dos metais (aliás, instrumentos MUITO exigidos no último movimento). É interessante notar a dinâmica e harmônia final dos metais: fazem lembrar da importância, solenidade... é como se pronunciassem no mais profundo das idéias, essas três fazes em uníssono: (1) “Lembram-se”, (2) “A mensagem foi dada”, (3) “Estou selando a carta (a mensagem)”.
Fim.
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Não há como no final você não estar com os olhos e a mente arregalados e suspirar: “Ual.”
Observando agora num ponto de vista mais geral. O tema tratado aqui é quanto a algo que é um fato que ocorre na vida; são os altos e baixos da vida; são as amargar lembranças de um passado que já ocorreu; são as decepções (no caso, Tchaikovsky teve uma no seu casamento); de modo, que a felicidade, a alegria plena nunca será plena, constante; quando parece que vai ser, vem algo e derruba agente.
Em nenhum momento Tchaikovsky diz que essas pedras, tropeços, fundos do poço são coisas simples. Não, ele demonstra em alguns momentos, em todos os movimentos que é ao ponto de ‘rasgar a alma’, como se fosse um leão que viesse enfiasse as garras no peito e abrisse com a maior fúria e destruição possível, te arregaçando para valer mesmo. De modo que é muito mais do que o choro da Serenata Noturna de Beethoven; pois não é tão temporal assim, é algo duro, que suas cicatrizes podem durar a vida toda. Tchaikovsky diz isso, mostra isso na música. Até no Scherzo, vemos que a pessoa fica louca.
Ele também fala do fato de que essas coisas ocorrem sem avisar muitas vezes, de repente na hora que estava bem, mais uma queda, mais uma lembrança amarga. Mas ele também admitiu que muitas vezes não estamos só, que há companheiros, há pessoas que nos ajudam, que nos dão forças para suportar. No primeiro movimento vemos um forte reconhecimento disso e um elevado sentimento de gratidão e significado.
Mas aí ele chega no quarto movimento e diz que tem uma luz no fim do túnel. E que lá fora há um paraíso. Que é possível passar e libertar-se de toda essa angústia, sofrimento. Que é possível viver, ter alegria, de ver o sol raiar de novo. Me lembra da sinfonia Heróica de Beethoven, em que tal relata da própria superação quanto a sua perda auditiva. Há uma libertação dessa fossa, melancolia, desgosto da vida. Todas aquelas coisas ruins, momentos escuros na vida vão ocorrer, mas liberte-se da tristeza, seja feliz, passe por tudo isso, mas no final, sorria, olhe para o sol, abra os braços e grite do fundo do peito “Uh HUUu!” Há uma vida. Agarre a vida, agarre as valores, as pessoas, amigos, e lute, grite pela liberdade, pela felicidade. Pois mesmo quando você está no fundo do poço, sem forças, desmaiado; vem a vida e te convida para dançar uma valsa com ela.
Essa ênfase dada ao quarto movimento é tão forte que se alguém 20 anos depois se lembrasse da música, Tchaikovsky gostaria que ela só conseguisse lembrar do quarto movimento. De modo que se a quarta sinfonia fosse uma laranja, e a espremêssemos, a essência seria o “Allegro”; e que assim deve ser a nossa vida; de modo que possamos espremer nossa vida e dizer “a alegria, a felicidade foi a essência dela”. É tão forte a exigência desse quarto movimento, é uma luz e claridade que quer acabar com a menor sombra possível - os metais que o digam.
Essa é a minha analise e interpretação feita até o momento, naquilo que escutei com atenção nesses últimos meses. E alguns trechos até toquei [trompete], tentando acompanhar a orquestra. Espero ter feito uma boa interpretação, já revisei várias vezes, ouvi diversas vezes. E gostaria de saber o que diriam os grandes intérpretes de Tchaikovsky, maestros e estudiosos da música. Se eu cometi algum erro, interpretei algo errado, por favor, me digam, se quiserem acrescentar algo também, fiquem a vontade.
Deixo aos leitores duas análises criticas dessa obra de arte, que achei muito interessante, e que talvez possa ajudá-lo a compreender melhor o que o mágico, infinito e fantástico mundo das idéias musicais tem a nos dizer nessa sinfonia:
- Wikipédia (em inglês)
- Ricardo Labuto Gondim
“O compositor escreveu para Madame von Meck em 1878, é realmente o fanfare primeira ouvida na abertura ( "o kernel, a quintessência, o chefe pensamento de toda a sinfonia "), que significa" Destino ", sendo este" o que impede que um mortal poder de atingir a meta de felicidade ... Não há nada a ser feito, mas para apresentar a ele e lamentar em vão ". Como o compositor explicou ele, o programa do primeiro-movimento é "aproximadamente", que "toda a vida é uma alternância ininterrupta da dura realidade com rápida passagem sonhos e visões da felicidade ...". Ele foi sobre: "Não existe paraíso ... Drift, naquele mar até que engulfs e submerges você em suas profundezas." “