Confesso que tenho passado por tempos intrigantes, para não dizer atordoantes. E de certo modo uma das principais relações para com isso tem sido a música.
Uma breve retrospectiva me faz lembrar de um garoto que até os seus 14 anos não possuía noção, gosto, consideração alguma pela música - Tirando o caso particular da banda “Mamonas Assassinas”, em que, em minha ingenuidade, decorava e cantava todas as músicas de cor e fazia questão de vê-los na TV, até tinha uma fita K7 deles; Também houve uma curtíssima fase em que eu gostava, literalmente, do barulho das músicas de Bass, Techno, do meu irmão, que ele colocava no carro: com uma bazuca grave, módulo, amplificador, de modo que faziam as janelas, paredes e móveis de casa tremer; porém, era uma atração totalmente pelo barulho, pela batida que tudo aquilo fazia; mas se durou 3 meses foi muito. Recordo de ter passado muitos anos sem ouvir uma música por conta própria; eu só ligava para futebol.
Ali para os meus 14, 15 anos comecei a ouvir muito rock, rap entre outras coisas; mas sabe, nem por vontade própria, mas mais porque os colegas de escola ouviam muito e fui na onda; porém, sempre tive uma peculiaridade quanto as músicas que eu preferia, de modo, que minhas bandas preferidas eram Green Day, AeroSmith e Tihuana (acho que escreve assim), que tinha uma música com o coro “I get to town...”; e comecei a ouvir muito isso. De música mais erudita (vamos assim dizer), eu ouvia alguns temas de filmes, como Indiana Jones, Star Wars - achava 10 toda aquela aventura e energia. Também foi por aí que eu ouvi pela primeira vez o Pedra Coral num teatro, a primeira vez que ouvi uma música gospel em muitos anos, e tal me surpreendeu muito, e tive uma breve paixão por tal.
Porém, foram aos 16 anos que tudo mudou. Aconteceu toda aquela mudança que podem ver em minha história. E eu deixei de ouvir essas músicas. E mais influenciado por amigos cristãos, como o Vitor Hugo passei a ouvir músicas de produção da denominação Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em especial “Tom de Vida”, “Novo Tom” e essas coisas mais “POP ASD”. Até que um dia, minha prima me emprestou o CD do “Arautos do Rei – Por que, oh pai?”, eu nunca havia ouvido Arautos, mas foi na abertura da primeira música – “Breve Virá” – naquele arranjo das quatro estações de Vivaldi, aqueles violinos e tudo mais; eu, pela primeira vez ouvi algo que parecia conter um valor, diferente de tudo o que já havia ouvido; algo que me fez perceber, sem saber o que, mas que ali havia sentido, valor; lembro de ter derramado lágrimas - apesar de hoje considerar um arranjo horrivel que profanou a música de Vivaldi. Desde então passei a ouvir muito Arautos do Rei, entre outros, aos poucos passei a desenvolver um senso critico musical, a racionalizar a música. E a escutar música clássica e apaixonar por ela.
Passei a ouvir sim bastante música clássica, e em 2006, 2007, posso dizer que já não tinha mais gosto nenhum pelas músicas populares, rock, rap, sertanejo, e por aí vai; era só música sacra e clássica. Mas a marca do “temporalismo” e da “emoção rápida” ainda continuava de modo a não ter muita paciência na música erudita de ouvir todos aqueles 16, 20min; sinfonia então... não suportava ficar ouvindo 30min, 50min, 1hora a mesma música; sempre em busca daqueles momentos mais fortes, alegres, rápidos, ritmados. Então era sempre pelas curtas, de 4 – 7 min. as músicas de meu interesse.
Em 2007 quando comecei a aprender trompete e fui ao primeiro concerto, com a Fila Harmonia de São Bernardo do Campo, e ouvi a terceira sinfonia de Beethoven, aquilo me surpreendeu e me impactou muito. É totalmente diferente ouvir uma orquestra ao vivo e no computador; suas células vibram com o timbre dos instrumentos, há o momentun. Passei a apreciar mais a música erudita (clássica como mais conhecida) e a ir a vários concertos. De modo que de 2007 para cá passei a ouvir muito mais tais músicas, e não só os “pequenos momentos”, mas as obras completas, de capa a capa - os vários minutos. E nisso, a música que mais amei, talvez eu tenha ficado viciado foi a Abertura 1812 de Tchaikovsky, que tem por volta de 17 minutos. De modo que eu aprecio cada segundo da música, e a sua construção; de modo, que cada segundo é precioso, todo o desenvolvimento da música e poesia é importante e necessário, o final perde o sentido sem a oração do inicio.
Meu ouvido foi cada vez mais se educando no movimento erudito, com essa pluralidade de instrumentos: violinos, violas, violoncelos, contra-baixos, fagotes, flautas, clarinetas ,oboés, tímpano, bombo sinfônico, trompetes, trompas, trombones, tubas (instrumentos básicos de uma orquestra), e toda as harmonias, o trabalho dos timbres, das peculiaridades de cada instrumento, as dinâmicas, a variação rítmica, a variação de velocidade, desde um adagio a um alegretto. Toda essa coisa que torna a música rica, cheia de vida, expressão, de idéias, valores. Pude passar a compreender por que os gênios da música são de fato gênios, o que há de especial nas composições deles; essas músicas que levaram meses e anos para serem compostas, muito bem trabalhadas, ao invés desses “expressos” de hoje.
De 2008 para cá passei a ouvir muito mais sinfonias, estou com vários gigabites apenas de sinfonias no meu computador, Beethoven, Bach, Dvorak, Brahms, Haydn, Handel, Mahler, Bernstein, Rossini, Vivaldi, Mozard, Tchaikovsky... de modo que estou totalmente familiarizado com tais, eu me envolvo, é como se abrisse um livro, um longo e grande livro, porém, tão extraordinários que você não para de ler e não quer parar de ler. O costume é tamanho que hoje eu nem penso mais na duração da música, de modo que 16, 20, 30 minutos são até pouco numa música, e os 40, 60 minutos passam num piscar de olhos. No final há quase que um choro porque ela vai encerrar. Parece até mesmo que uma música boa mesmo hoje, precisa ser longa, pois não vejo como trabalhar todo "o sermão dessas músicas", idéias, reflexões, pensamentos, em 2 ou 3 minutos.
A grandes frustração é que hoje dificilmente consigo ouvir outra coisa além disso. Todo o resto se tornou sem sal, obsoleto, fraco, vazio, tão inferior, precoce. Músicas de 2, 5 minutos, com poucos intrumentos, um arranjo simples, fraco, musicas feitas meramente para cantar e dançar e não para pensar, músicas que não buscam significados e expressão sentimental, intelectual e racional mas mera emoção; músicas no ritmo do capitalismo. É como se olhasse para um mundo sem cor, em preto e branco embriagado. Isso tem me afetado principalmente na própria Igreja, pois as músicas são de doer o ouvido e a alma. Sabe, ouvir uma nona sinfonia de Beethoven e depois ter que ouvir uma música em que apenas tem uma guitarra, um violão, um baixo elétrico, uma bateria e um piano, por 5 minutos fazendo a mesma coisa, sempre as mesmas harmonias, a dinâmica extridente, alta, a La carismática, volume sempre muito alto, gritado, emotivo, ritmado, sempre aquela coisa compactada, e uma letra que por 7 minutos fica repentindo a mesma estrofe “Eu preciso de Ti.”, “Abre os meus olhos...”["porque eu não quero abrir." Né? Se cantam isso todo dia, e nunca os olhos abrem! Há algo de errado.] e etc. Tipo, não dá para engolir, para não dizer, uma tortura. Dá vontade de chorar. Ainda mais ao ver cada vez mais essa música temporal, tende a se tornar ainda mais temporal e subjetiva; cada vez mais semelhante ao que Bernstein compôs na sinfonia “Jeremias”, no movimento 2, “Profanação”; ali parece que Bernstein mostrou claramente ao mundo a profanação musical e que tal era a tendência do mundo, a concentração cada vez maior do ritmo e do barulho e cada vez mais ausente o trabalho da melodia. A frustração é tamanha, que mesmo na música erudita, as pessoas hoje estão tão estimuladas, tão elétricas, tão cheias de adrenalina, de estresse, tão frenéticas, que gostariam muito de uma música do tipo “O Guarani”, “Willian Tell” (já mais para o final), quarta sinfonia de Thaikovsky (tirando os 2 movimentos centrais); mas que não têm “saco” nenhum para ouvir a Sinfonia 2 de Brahms que é a sua pastoral, totalmente bucólica, suave, é praticamente como se você voasse calmamente por infindáveis bosques lindos, serenos, calmos. Mas não! Querem ver uma cena de transito na cidade, e se possível com uma batida de carro, ou um trem descarrilando atingindo a base de um arranha-céu e este desmoronando, ao mesmo tempo em que há uma perseguição em alta velocidade. Está tudo excitado!!!!
Música que excita e muitas vezes, apenas meramente isso. Totalmente diferente da décima sinfonia de Beethoven – Ops! Quer dizer, a primeira de Brahams – que agora escuto. Uma música tão profunda, extraordinária, envolve e faz refletir tantas coisas. Querem sim é fazer sexo com a música, para não dizer marturbar-se com ela; porém, longe se passa o pensamento de encarar a música como um casamento sério, de verdadeiro e puro amor que dura a eternidade. Até a música se tornou sexo!!! Como pôde?! Em que mundo vivemos?!
A música está tão profanada, tão jogada por terra e pisoteada, tão sem valor. Será que as gravações é a culpada? Pois antes, as pessoas não tinham músicas gravadas, apenas ouviam quando músicos profissionais as tocassem. Talves, você ouviria apenas umas 3 músicas na vida. Garanto que Beethoven, em toda a sua vida, ouviu menos músicas do que hoje um garoto ocidental ouviu em 10 anos; mas este, em 30 anos, não é capaz de compor uma nona sinfonia. Será que é isso? A falta de reflexão sobre a música? Ao invés de passar dias, semanas, meses, apreciando e pensando sobre a música que ouviu da últimas vez e valorizar as poucas ocasiões, músicas e momentos de música; ao terminar a música, é só ouvir a próxima faixa do iPod, o qual tem música para tocar por 2 anos interruptamente!
Essa frustração também me envolve na questão como músico. A frustração de todas as visões e idéias músicas que me vêm em mente. Porém, uma incapacidade enorme de executá-las no meu trompete, ou de compô-las; ou de não fazer parte de uma orquestra necessária para se executar tais. Ligado a isso há a questão de erguer cânticos e música a Deus. Vejo um ideal, uma música tão elevada em minha mente, porém nunca a vejo tocada, cantada, não temos esses arranjos; poucos instrumentistas, poucos músicos, sobretudo os sérios, que visam esses elevados ideais, essa música profunda. É um sonho frustrante, não só um sonho, algo que se tornou parte, essência de você, quase que como o ar, mas o qual você nunca respira. Isso está me matando. E ao mesmo tempo, nada do que escuto na igreja agrada meus ouvidos, minha critica, minha razão, meus ideais, sobretudo o intelecto que determina os mais elevados padrões para adoração a Deus. Ao invés de respirar esse ar puro, é como se estivesse fumando smoke por tabela; salvo algumas raras ocasiões, cada vez mais raras.
A Revolução Cultural foi tão forte que mesmo quando se trata de música erudita é dificil encontrar algo realmente bom de 1900 para cá. Acho que Stravinsky foi quem marcou essa mudança de período; a transição. O que ouvir de um Firebird para cá? Opções são poucas. Ainda bem que há uma obra rica até tal. E mesmo algumas obras sacras, como de Bach, Brahms, Hayden, Handel (porém, as cantadas, poucas opções traduzidas para um idioma que eu entenda). Mas olho para o futuro da música e vejo um mar de decepção. Especialmente da sociedade. Pois se a música é a mais forte expressão artística da cultura, dos sentimentos, dos pensamentos e idéias das pessoas, o que há por vir, quando as músicas mais sensuais, excitantes, violentas, paranóicas, melancólicas são as de maior destaque na mídia, e que vêm tomando conta da maior parte das pessoas!?
Essa frustração também tem decorrido em contemplar a sociedade, em cada vez ver e ouvir mais barbaridades. Quase tive um infarto intelectual ao ouvir uma garota contando sobre a despedida de solteira de uma amiga, e que ela foi, onde teve um show de strip (de homens), fetiches; e ela contando como se fosse a melhor experiência da vida dela. Ao também notar que cada vez mais as pessoas não “cuidam da saúde”, “da forma fisica”, por questão de valor, saúde, inteligência; mas pelo contrário, por depravação, por sexualidade, por atração física. A vaidade que tem tomado conta das pessoas. A frieza e indiferença cada vez maior pelos sofredores, pobres, carentes, órfãos, moradores de ruas. O consumismo e materialismo. O amor ao dinheiro. O ódio. A glutonaria, o prazer pelo apetite. Até mesmo a falta de amor por pessoas que trabalham no mesmo lugar.
Outro fator forte é o de idolatria. Especialmente ao observar a maior religião do mundo – o futebol. A adoração feita ao futebol, aos times de futebol, não tem igual. Tem local de culto, tem hora de culto, tem os “princípios”, “valores”. As pregações de cada time, de modo que é imperdoável alguém apostatar e trocar de time, ou defender o outro lado. Os jogadores ídolos. Os hinos e cânticos. As multidões que como em Meca se reúnem em estádios, praças, casas, bares, para mais um culto ao time. Só não tem "denominação", se é que não tem.
Às vezes, há quase que uma suplica pelo fugere urben, ir para a África, lugares remotos e meramente viver ajudando as pessoas, que precisam de ajuda; ao invés de perder tempo e contemplando todas essas concupiscências do mundo. Ou mesmo uma suplica por morte. A porta estreita deu para um caminho que cada vez está mais apertado. Até quando?
Contudo a maior decepção é comigo mesmo. Evandro, até quando ficará quieto, observando a sodomia, a cidade que corre para a autodestruição; triste, porém calado? Até quando serás entregues ao comodismo da morfina? Até quando não suscitará oposição? Até quando deixará de provocar o último e único sinal de esperança nas pessoas? Por que adiar para daqui 7 anos, quando o mundo necessita já? Por que rogar pela falsa e humana garantia e estabilidade? “Por que adiar para um século vindouro a felicidade coletiva?” Até quando pelejarás consigo mesmo, ao invés de tomar uma posição decidida? Até quando irá ficar olhando, e até mesmo rindo, para um mundo que, em grande humor e risos, caminha para o inferno - é o próprio?
Uma breve retrospectiva me faz lembrar de um garoto que até os seus 14 anos não possuía noção, gosto, consideração alguma pela música - Tirando o caso particular da banda “Mamonas Assassinas”, em que, em minha ingenuidade, decorava e cantava todas as músicas de cor e fazia questão de vê-los na TV, até tinha uma fita K7 deles; Também houve uma curtíssima fase em que eu gostava, literalmente, do barulho das músicas de Bass, Techno, do meu irmão, que ele colocava no carro: com uma bazuca grave, módulo, amplificador, de modo que faziam as janelas, paredes e móveis de casa tremer; porém, era uma atração totalmente pelo barulho, pela batida que tudo aquilo fazia; mas se durou 3 meses foi muito. Recordo de ter passado muitos anos sem ouvir uma música por conta própria; eu só ligava para futebol.
Ali para os meus 14, 15 anos comecei a ouvir muito rock, rap entre outras coisas; mas sabe, nem por vontade própria, mas mais porque os colegas de escola ouviam muito e fui na onda; porém, sempre tive uma peculiaridade quanto as músicas que eu preferia, de modo, que minhas bandas preferidas eram Green Day, AeroSmith e Tihuana (acho que escreve assim), que tinha uma música com o coro “I get to town...”; e comecei a ouvir muito isso. De música mais erudita (vamos assim dizer), eu ouvia alguns temas de filmes, como Indiana Jones, Star Wars - achava 10 toda aquela aventura e energia. Também foi por aí que eu ouvi pela primeira vez o Pedra Coral num teatro, a primeira vez que ouvi uma música gospel em muitos anos, e tal me surpreendeu muito, e tive uma breve paixão por tal.
Porém, foram aos 16 anos que tudo mudou. Aconteceu toda aquela mudança que podem ver em minha história. E eu deixei de ouvir essas músicas. E mais influenciado por amigos cristãos, como o Vitor Hugo passei a ouvir músicas de produção da denominação Igreja Adventista do Sétimo Dia. Em especial “Tom de Vida”, “Novo Tom” e essas coisas mais “POP ASD”. Até que um dia, minha prima me emprestou o CD do “Arautos do Rei – Por que, oh pai?”, eu nunca havia ouvido Arautos, mas foi na abertura da primeira música – “Breve Virá” – naquele arranjo das quatro estações de Vivaldi, aqueles violinos e tudo mais; eu, pela primeira vez ouvi algo que parecia conter um valor, diferente de tudo o que já havia ouvido; algo que me fez perceber, sem saber o que, mas que ali havia sentido, valor; lembro de ter derramado lágrimas - apesar de hoje considerar um arranjo horrivel que profanou a música de Vivaldi. Desde então passei a ouvir muito Arautos do Rei, entre outros, aos poucos passei a desenvolver um senso critico musical, a racionalizar a música. E a escutar música clássica e apaixonar por ela.
Passei a ouvir sim bastante música clássica, e em 2006, 2007, posso dizer que já não tinha mais gosto nenhum pelas músicas populares, rock, rap, sertanejo, e por aí vai; era só música sacra e clássica. Mas a marca do “temporalismo” e da “emoção rápida” ainda continuava de modo a não ter muita paciência na música erudita de ouvir todos aqueles 16, 20min; sinfonia então... não suportava ficar ouvindo 30min, 50min, 1hora a mesma música; sempre em busca daqueles momentos mais fortes, alegres, rápidos, ritmados. Então era sempre pelas curtas, de 4 – 7 min. as músicas de meu interesse.
Em 2007 quando comecei a aprender trompete e fui ao primeiro concerto, com a Fila Harmonia de São Bernardo do Campo, e ouvi a terceira sinfonia de Beethoven, aquilo me surpreendeu e me impactou muito. É totalmente diferente ouvir uma orquestra ao vivo e no computador; suas células vibram com o timbre dos instrumentos, há o momentun. Passei a apreciar mais a música erudita (clássica como mais conhecida) e a ir a vários concertos. De modo que de 2007 para cá passei a ouvir muito mais tais músicas, e não só os “pequenos momentos”, mas as obras completas, de capa a capa - os vários minutos. E nisso, a música que mais amei, talvez eu tenha ficado viciado foi a Abertura 1812 de Tchaikovsky, que tem por volta de 17 minutos. De modo que eu aprecio cada segundo da música, e a sua construção; de modo, que cada segundo é precioso, todo o desenvolvimento da música e poesia é importante e necessário, o final perde o sentido sem a oração do inicio.
Meu ouvido foi cada vez mais se educando no movimento erudito, com essa pluralidade de instrumentos: violinos, violas, violoncelos, contra-baixos, fagotes, flautas, clarinetas ,oboés, tímpano, bombo sinfônico, trompetes, trompas, trombones, tubas (instrumentos básicos de uma orquestra), e toda as harmonias, o trabalho dos timbres, das peculiaridades de cada instrumento, as dinâmicas, a variação rítmica, a variação de velocidade, desde um adagio a um alegretto. Toda essa coisa que torna a música rica, cheia de vida, expressão, de idéias, valores. Pude passar a compreender por que os gênios da música são de fato gênios, o que há de especial nas composições deles; essas músicas que levaram meses e anos para serem compostas, muito bem trabalhadas, ao invés desses “expressos” de hoje.
De 2008 para cá passei a ouvir muito mais sinfonias, estou com vários gigabites apenas de sinfonias no meu computador, Beethoven, Bach, Dvorak, Brahms, Haydn, Handel, Mahler, Bernstein, Rossini, Vivaldi, Mozard, Tchaikovsky... de modo que estou totalmente familiarizado com tais, eu me envolvo, é como se abrisse um livro, um longo e grande livro, porém, tão extraordinários que você não para de ler e não quer parar de ler. O costume é tamanho que hoje eu nem penso mais na duração da música, de modo que 16, 20, 30 minutos são até pouco numa música, e os 40, 60 minutos passam num piscar de olhos. No final há quase que um choro porque ela vai encerrar. Parece até mesmo que uma música boa mesmo hoje, precisa ser longa, pois não vejo como trabalhar todo "o sermão dessas músicas", idéias, reflexões, pensamentos, em 2 ou 3 minutos.
A grandes frustração é que hoje dificilmente consigo ouvir outra coisa além disso. Todo o resto se tornou sem sal, obsoleto, fraco, vazio, tão inferior, precoce. Músicas de 2, 5 minutos, com poucos intrumentos, um arranjo simples, fraco, musicas feitas meramente para cantar e dançar e não para pensar, músicas que não buscam significados e expressão sentimental, intelectual e racional mas mera emoção; músicas no ritmo do capitalismo. É como se olhasse para um mundo sem cor, em preto e branco embriagado. Isso tem me afetado principalmente na própria Igreja, pois as músicas são de doer o ouvido e a alma. Sabe, ouvir uma nona sinfonia de Beethoven e depois ter que ouvir uma música em que apenas tem uma guitarra, um violão, um baixo elétrico, uma bateria e um piano, por 5 minutos fazendo a mesma coisa, sempre as mesmas harmonias, a dinâmica extridente, alta, a La carismática, volume sempre muito alto, gritado, emotivo, ritmado, sempre aquela coisa compactada, e uma letra que por 7 minutos fica repentindo a mesma estrofe “Eu preciso de Ti.”, “Abre os meus olhos...”["porque eu não quero abrir." Né? Se cantam isso todo dia, e nunca os olhos abrem! Há algo de errado.] e etc. Tipo, não dá para engolir, para não dizer, uma tortura. Dá vontade de chorar. Ainda mais ao ver cada vez mais essa música temporal, tende a se tornar ainda mais temporal e subjetiva; cada vez mais semelhante ao que Bernstein compôs na sinfonia “Jeremias”, no movimento 2, “Profanação”; ali parece que Bernstein mostrou claramente ao mundo a profanação musical e que tal era a tendência do mundo, a concentração cada vez maior do ritmo e do barulho e cada vez mais ausente o trabalho da melodia. A frustração é tamanha, que mesmo na música erudita, as pessoas hoje estão tão estimuladas, tão elétricas, tão cheias de adrenalina, de estresse, tão frenéticas, que gostariam muito de uma música do tipo “O Guarani”, “Willian Tell” (já mais para o final), quarta sinfonia de Thaikovsky (tirando os 2 movimentos centrais); mas que não têm “saco” nenhum para ouvir a Sinfonia 2 de Brahms que é a sua pastoral, totalmente bucólica, suave, é praticamente como se você voasse calmamente por infindáveis bosques lindos, serenos, calmos. Mas não! Querem ver uma cena de transito na cidade, e se possível com uma batida de carro, ou um trem descarrilando atingindo a base de um arranha-céu e este desmoronando, ao mesmo tempo em que há uma perseguição em alta velocidade. Está tudo excitado!!!!
Música que excita e muitas vezes, apenas meramente isso. Totalmente diferente da décima sinfonia de Beethoven – Ops! Quer dizer, a primeira de Brahams – que agora escuto. Uma música tão profunda, extraordinária, envolve e faz refletir tantas coisas. Querem sim é fazer sexo com a música, para não dizer marturbar-se com ela; porém, longe se passa o pensamento de encarar a música como um casamento sério, de verdadeiro e puro amor que dura a eternidade. Até a música se tornou sexo!!! Como pôde?! Em que mundo vivemos?!
A música está tão profanada, tão jogada por terra e pisoteada, tão sem valor. Será que as gravações é a culpada? Pois antes, as pessoas não tinham músicas gravadas, apenas ouviam quando músicos profissionais as tocassem. Talves, você ouviria apenas umas 3 músicas na vida. Garanto que Beethoven, em toda a sua vida, ouviu menos músicas do que hoje um garoto ocidental ouviu em 10 anos; mas este, em 30 anos, não é capaz de compor uma nona sinfonia. Será que é isso? A falta de reflexão sobre a música? Ao invés de passar dias, semanas, meses, apreciando e pensando sobre a música que ouviu da últimas vez e valorizar as poucas ocasiões, músicas e momentos de música; ao terminar a música, é só ouvir a próxima faixa do iPod, o qual tem música para tocar por 2 anos interruptamente!
Essa frustração também me envolve na questão como músico. A frustração de todas as visões e idéias músicas que me vêm em mente. Porém, uma incapacidade enorme de executá-las no meu trompete, ou de compô-las; ou de não fazer parte de uma orquestra necessária para se executar tais. Ligado a isso há a questão de erguer cânticos e música a Deus. Vejo um ideal, uma música tão elevada em minha mente, porém nunca a vejo tocada, cantada, não temos esses arranjos; poucos instrumentistas, poucos músicos, sobretudo os sérios, que visam esses elevados ideais, essa música profunda. É um sonho frustrante, não só um sonho, algo que se tornou parte, essência de você, quase que como o ar, mas o qual você nunca respira. Isso está me matando. E ao mesmo tempo, nada do que escuto na igreja agrada meus ouvidos, minha critica, minha razão, meus ideais, sobretudo o intelecto que determina os mais elevados padrões para adoração a Deus. Ao invés de respirar esse ar puro, é como se estivesse fumando smoke por tabela; salvo algumas raras ocasiões, cada vez mais raras.
A Revolução Cultural foi tão forte que mesmo quando se trata de música erudita é dificil encontrar algo realmente bom de 1900 para cá. Acho que Stravinsky foi quem marcou essa mudança de período; a transição. O que ouvir de um Firebird para cá? Opções são poucas. Ainda bem que há uma obra rica até tal. E mesmo algumas obras sacras, como de Bach, Brahms, Hayden, Handel (porém, as cantadas, poucas opções traduzidas para um idioma que eu entenda). Mas olho para o futuro da música e vejo um mar de decepção. Especialmente da sociedade. Pois se a música é a mais forte expressão artística da cultura, dos sentimentos, dos pensamentos e idéias das pessoas, o que há por vir, quando as músicas mais sensuais, excitantes, violentas, paranóicas, melancólicas são as de maior destaque na mídia, e que vêm tomando conta da maior parte das pessoas!?
Essa frustração também tem decorrido em contemplar a sociedade, em cada vez ver e ouvir mais barbaridades. Quase tive um infarto intelectual ao ouvir uma garota contando sobre a despedida de solteira de uma amiga, e que ela foi, onde teve um show de strip (de homens), fetiches; e ela contando como se fosse a melhor experiência da vida dela. Ao também notar que cada vez mais as pessoas não “cuidam da saúde”, “da forma fisica”, por questão de valor, saúde, inteligência; mas pelo contrário, por depravação, por sexualidade, por atração física. A vaidade que tem tomado conta das pessoas. A frieza e indiferença cada vez maior pelos sofredores, pobres, carentes, órfãos, moradores de ruas. O consumismo e materialismo. O amor ao dinheiro. O ódio. A glutonaria, o prazer pelo apetite. Até mesmo a falta de amor por pessoas que trabalham no mesmo lugar.
Outro fator forte é o de idolatria. Especialmente ao observar a maior religião do mundo – o futebol. A adoração feita ao futebol, aos times de futebol, não tem igual. Tem local de culto, tem hora de culto, tem os “princípios”, “valores”. As pregações de cada time, de modo que é imperdoável alguém apostatar e trocar de time, ou defender o outro lado. Os jogadores ídolos. Os hinos e cânticos. As multidões que como em Meca se reúnem em estádios, praças, casas, bares, para mais um culto ao time. Só não tem "denominação", se é que não tem.
Às vezes, há quase que uma suplica pelo fugere urben, ir para a África, lugares remotos e meramente viver ajudando as pessoas, que precisam de ajuda; ao invés de perder tempo e contemplando todas essas concupiscências do mundo. Ou mesmo uma suplica por morte. A porta estreita deu para um caminho que cada vez está mais apertado. Até quando?
Contudo a maior decepção é comigo mesmo. Evandro, até quando ficará quieto, observando a sodomia, a cidade que corre para a autodestruição; triste, porém calado? Até quando serás entregues ao comodismo da morfina? Até quando não suscitará oposição? Até quando deixará de provocar o último e único sinal de esperança nas pessoas? Por que adiar para daqui 7 anos, quando o mundo necessita já? Por que rogar pela falsa e humana garantia e estabilidade? “Por que adiar para um século vindouro a felicidade coletiva?” Até quando pelejarás consigo mesmo, ao invés de tomar uma posição decidida? Até quando irá ficar olhando, e até mesmo rindo, para um mundo que, em grande humor e risos, caminha para o inferno - é o próprio?
3 comentários:
"porque eu não quero abrir." Né? Se cantam isso todo dia, e nunca os olhos abrem! Há algo de errado.
Haha eu ri disso =p
Cara, um dos principais motivos pelo qual de 1900 para cá não foi produzida mais tanta música erudita é simplesmente porque não tinha mais muito a se produzir com as ferramentas que se tinha. Alguns séculos de classicismo e romantismo simplesmente esgotaram tudo o que se podia fazer dentro da forma (tanto que, se você perguntar para um aluno sério de Música Erudita, ele vai te confirmar que é extremamente complicado inventar algo novo: certamente alguém já fez algo muito parecido no passado)
Eu não fico tão triste não... tanto porque será que complexidade é o único parâmetro válido para se avaliar o 'valor' de uma música?
E sobre a situação do mundo: teve uma frase que escutei esses dias e que me fez refletir: 'Aceite as coisas como elas são. Somente aí você terá poder para mudá-las'
Abraço grande, irmão!
Discordo Fred.
A criatividade, idealização, principalmente quando se trata de música, tende ao infinita. Matemática, faça quantas e veja quanta coisa pode ser feito em 1 único compasso. É um número absurdo de grande!
Mas sim, de certa forma, vemos a música sempre associada e ligada a movimentos idelógicos e culturais marcantes; principalmente, aquilo, dentro do contexto de seus compositores.
Por exemplo, o êxodo rural entre outros. Imagine uma pessoa que sempre viveu em New York em pleno estilo de vida e pensamento capitalista-americano; sem nem mesmo nunca ter ido ou visto paisagens e uma vida bucólica. E que desde pequeno jogou video-game assistiu filmes sempre cheio de ação, muita batera, guitarra estridente e muito ritmada. Indo em baladas, cervejarias etc. Bem, agora imagine que essa fosse Brahms. Ele teria "cabeça" para compor a segunda sinfonia? Provavelmente, seria frustrado, mal saberia o que compor, fazer... provavelmente, seria produtor musical de música popular, jazz...
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