Por que havia a ordem de 'execução' do modo "apedrejamento" na Bíblia?
Segundo uma amiga que me questionou isso, a incomoda muito essa ideia deste 'tipo de morte', 'jeito de morrer'. No ver dela, há 2 coisas que são totalmente intragáveis:
1.) É doloroso, torturante e demorado;
2.) É feito por várias pessoas.
Na concepção dela, um Deus de amor, não permitiria e não ordenaria tal coisa. Antes, caso fosse necessário mesmo a pena de morte, deveria ser:
1.) Rápido / instantâneo / sem dor se possível;
2.) Executado por 1 só pessoa.
Quanto a questão de um Deus violento que mantar, que é sanguinário, tenho um outro post tratando disso: Um Deus Malvado Que Manda Matar
Primeiro, vou tratar da questão 1 levantada.
1) Processo Torturante de Morrer
É inegável que morrer apedrejado deve ser algo muito torturante. Nosso corpo suporta várias pancadas. Muitas. Dado também que uma pessoa comum não aguenta levantar, tampouco arremessar pedras pesadas, acredito eu que o peso destas dificilmente passam de 1kg. E pelas condições climáticas, e da região, entre outros, creio que não era comum encontrar muitas pedras com agulos agudos, retos; logo, deveria ser mais difícil terem pedras que causasse uma 'boa perfuração' - para poder criar algo fatal de primeira. Logo, a morte deveria ocorrer após uma longa mutilação, acredito eu que principalmente por hemorragia, ou então, por algum traumatismo craniano. Por sorte, alguém levaria uma pedrada na cabeça de modo que rapidamente perderia a consciencia.
É dificil dizer o que seria uma morte 'mais agradavel', quanto a métodos. Certa vez, vi um documentário falando sobre a História disso. E mostra como foi a 'evolução' (que ironia) em provocar a morte. Em que haviam as variáveis: Ser rápido, ser de pouco esforço, causar menos sofrimento. Houveram vários métodos na História, coisas do tipo, asfixiar a pessoa, afogar, jogar de um penhasco, (que talvez seja bem pratico, mas não é todos que tem um penhasco por perto). Apunhalar o coração, cortar o cranio no meio, cortar a cabeça fora, degolar etc. Porém, muitos desses métodos eram 'pouco eficazes'. Muitos não morriam. Muitos ficavam gravemente feridos. Até mesmo a sangria, há muitos relatos históricos, como o de Seneca, que não morrera. As espadas não eram afiadas como nos filmes, fazer um ferimento mortal não era muito constante. E por mais sanguinario que podemos imaginar que eram os carrascos e os incumbidos de matar, era uma tarefa desagradável. E no decorrer da história, muitos modos foram usados, como tecnologias. Uma delas foi a Guilhortina, na Idade Média, que veio posterior ao enforcamento. Porém, até mesmo a guilhortina, ocorria situações de ficar com a lamina cega, ou não ser fatal, criando cenas tensas, em que era necessários vários golpes, fora que as vezes ela emperrava. Muito mais para frente surgiu a Cadeira Elétrica, que veio como uma promessa de uma morte rápida e indolor, e mais recentemente ainda, o uso de drogas injetáveis, câmara de gás entre outros.
Pensando no contexto da epoca, creio eu ser muito dificil dizer quais seriam as 'possibilidades' de modo de se matar. Sobretudo um menos torturante. E assim fico a pensar, em qual posição do rank ser apedrejado seria o pior? Mas certamente, ser degolado deveria ser o melhor modo, segundo minha amiga, para as condições da época. O que também seria um processo violento, bem rude, e bem tenso. Mas certamente, havia algum aspecto especial no apedrejamento, que nos faz pensar: Por que este modo que, provavelmente, é mais doloroso, torturante, do que outros? Apesar, que talvez fosse menos, pois creio eu que em algum momento a pessoa desmaiaria no meio do processo. Mas certamente era algo horrível.
2) Feito por várias pessoas
Pensando no método é meio lógico pensar que deveria ser executado por várias pessoas, até mesmo para ser menos torturante. Poderia ser trabalho demasiado para 1 só pessoa. Talvez ela até mesmo cansasse o braço a ponto de não conseguir mais fazê-lo estando a pessoa ainda viva. E certamente, isto aumentaria ainda mais a agonia.
O Motivo do Método do Apedrejamento / Lapidação
Não sei, não sei mesmo ao certo o motivo pelo qual foi escolhido este método. Mas cabe primeiro lembrar que tal era uma forma de punição, descrita no Torá, para as seguintes violações da Lei:
1. Bestialidade* cometida por homem;
2. Bestialidade cometida por mulher;
3. Blasfêmia;
4. Relações sexuais com uma virgem comprometida;
5. Relações sexuais com enteada;
6. Relações sexuais com mãe;
7. Relações sexuais com madrasta;
8. Ao amaldiçoar os pais;
9. Instigar indivíduos à idolatria;
10. Idolatria;
11. Instigar comunidades à idolatria;
12. Necromancia (espiritismo / consultar os mortos);
13. Sacrificar o próprio filho ao deus Moloch;
14. Homossexualidade;
15. Pitonismo (prática pagã, mulheres que se tornavam como 'sacerdotistas dos oráculos');
16. Rebeldia dos filhos contra os pais;
17. Desrespeitar o shabat;
18. Bruxaria.
(Fonte: Wikepedia, não conferi se consta essa lista mesmo na Bíblia)
* Bestialidade: relações sexuais de homens com animais.
Se formos olhar bem esses motivos, nem mesmo fala de prostituição e adultério, motivo qual tanto é falado. Mas acredito que como a maioria a grande maioria destes termos são atitudes que acreditamos que devem ser de algum modos punidas.
Mas o que me choca mais, e creio que ao leitor também. É que na própria Biblia, vemos uma multidão de ocorrências desses 18 itens, no qual, ninguem era apedrejado! Logo, por que havia punição para uns e não para outros? Será que não houve algum engano nessa história?
Eu particularmente, creio que havia uma 'didática' envolvida na questão do apedrejamento. Os quais venho a expressar:
1. Mostra o quão é repugnante o pecado para Deus e o quão Deus o considerada destrutivo para a Sociedade
Mesmo nos dias de hoje, há 'crimes' que consideramos piores e mais puníveis do que outros. Sobretudo hoje, as principais formas de punição são duas: Dinheiro e Retenção. Ou seja, a pessoa tem que pagar X e/ou cumprir Y anos de retenção numa prisão, ou domicilio, ou exilado. E conforme mais grave se considera, maior são os valores de X e Y.
Na Bíblia, do mesmo modo. Tudo começou com o pecado original. O primeiro de todos. O pecado em si. A separação do homem para com Deus. A punição foi "a morte". De agora em diante passaria a ocorrer a morte. O surgimento da morte, é a demonstração primária máxima de como o pegado é repugnante para Deus. Perceba que a "mentira" não está na lista de apedrejamento, mas questões que agridem a Familia o são como relações sexuais inapropriadas, ofender aos pais , homossexualismo.
Logo, só de uma pessoa pensar em quão terrível seria uma punição para o ato x, pensaria ela o quão aquilo é ofensivo para a Lei, para a Deus, o quão aquilo é errado. E testemunhar uma punição, a convenceria de vez.
2. O Lado Educativo da Punição
Hoje no Brasil não temos a pena de Morte. Mas temos algumas punições para certas coisas que são do tipo prisão praticamente até o fim da vida. Em alguns Estados dos EUA temos ainda a pena de morte para algumas coisas. Entre essas Penas máximas, está por exemplo o homicídio. Matar alguém conscientemente, ou ser um grande traficante de drogas, entre outros.
Como no item I, todas essas coisas são extremamente repugnantes para Deus. E como Paulo diz, "eu não reconheceria o pecado se não fosse a Lei". Ou seja, apenas através da Lei podemos reconhecer um pecado. Ou seja, a partir da norma divina podemos reconhecer o que está contra tal. Porém, vou ainda mais a fundo, que é apenas a partir da Punição, que podemos saber, reconhecer, de um modo mais claro e didático, o quão - para aquela norma, aquela Lei - grave é. Ou seja, suponha que a punição para o adultério fosse dar água para os camelos, e certamente, todos iriam considerar essa questão não de muita importancia. Agora já quando esta é vista como merecedor da morte, e ainda de uma 'penosa' (em todos os sentidos) morte, ai a visão é outra.
Hoje, no Brasil, estão tentando elevar a punição para quem é pego dirigindo com uma concentração de alcool não permitida no sangue. Porque assim querem aumentar a importância a esta questão. E fazer as pessoas pensarem 5, 10, 15 vezes antes de tomar uma latinha de cerveja e pegar no volante. Mas há décadas atrás, não havia a menor punição praticamente.
3. O Lado Simbólico Desta Punição
É incrivel como vemos certas relações na Bíblia que esclarece outras. Nesta questão do apedrejamento, uma grande luz me veio em mente no Livro de Daniel, no Capitulo 2, quando se descreve o sonho profético de Nabucodonosor. No qual, resumidamente, uma Estatua representava todos os reinos do Mundo da Antiguidade até os Fins dos Tempos, até que então "UMA PEDRA" mas que "NÃO FOI LANÇADA POR MÃO ALGUMA" acertou o pé dessa estatua (os últimos reinos) e a derrubou. E esta Pedra instaurou seu Reino para sempre. E, mais a frente, a própria Biblia descreve que a Pedra Angular é Jesus.
Mas não só isso, se formos ver bem, a Pedra é usada como uma figura por diversas vezes na Biblia. O monte no qual era feita a oferta, era composto por 12 pedras. Da 'pedra' Moisés tirou a agua para saciar o povo. Davi, atirou uma pedra em Golias para o derrotar. Samuel colocou uma PEDRA entre Mispa e Sem, para dizer "Até aqui nos ajudou o Senhor". E por assim vai. Se formos ver bem. A Bíblia é repleta de exemplos no qual a Pedra representa um claro poder de Deus no sentido de subjugar/vencer o mau, o pecado.
As pedras que deveriam ser lançadas contra tais merecedores da punição. Deveriam ser arremessadas com este sentido, com este simbolo de aniquilamento de um grande mau.
4. A Distorção Desta Punição
Quando me vem a mente um caso de apedrejamento na Bíblia. Eu não me recordo de mulheres, nem de crianças, nem de adulteros, ou outros. Mas o de Estevão. Não sei, não conheço os registros históricos do quão isso foi ou não comum em Israel. Todavia, no Evangelho, vemos Jesus mostrando claramente, que aqueles homens que pretendiam apedrejar a mulher, estavam com uma visão totalmente distorcida a respeito desta punição e da Lei. Pois eram pessoas, que a rigor, mereciam tão quão ou mais - do que aquela mulher - tal punição segundo a Lei. Eram homens que não estavam limpos do pecado. Eram homens que estavam com 'ódio' (e Jesus disse que aquele que tem pensamentos ruins para com o irmão, já 'matou'). Entre um monte de outras coisas.
5. A Negligencia do Plano do Perdão
Na Bíblia vemos pouco se falar sobre Punição, mas muito sobre o perdão. Para se haver uma punição tal qual, de acordo com a Lei. Deveria haver um longo período de julgamento. Muito mais do que isso. Muito mais do que um julgamento. Um LONGO período, no qual sacerdotes, levitas, mestres da Lei, familiares, e até mesmo o povo era envolvido, num importante e longo processo de simplesmente buscar FAZER DE TUDO para a pessoa ter um único motivo pelo qual não merecia sofrer tal punição; e sobretudo, levar a pessoa a pessoa ao arrependimento, se retratar e etc. E apenas, em ultima circunstancia, quando todas as tentativas foram tomadas, depois de um longo processo, um longo tempo, tudo não adiantou para retirar a obstinação pelo pecado de tal pessoa, aí então, este recurso deveria ser usado (e certamente com muito pesar, pois deveria ser feito com amor: assim, como deveria ser a dor de um pai em matar seu filho, como foi o caso de Abraão.).
A própria Bíblia diz que há apenas um único pecado imperdoável. (o chamado Pecado Contra o Espirito Santo). Que é a obstinação total. É ficar totalmente surdo para ouvir a voz de Deus. Virar 100% escravo do pecado. É negar toda possibilidade de arrependimento e retratação. Pois, a própria Bíblia diz que o Espirito tem a função de convencer as pessoas do pecado. Ou seja, no grosso modo, o único pecado imperdoável é aquele pecado no qual a pessoa não quer arrepender-se por nada!
6. Uma Parte de Todos
Tenho aqui um motivo para uma punição coletiva. Minha amiga não gostou nada da idéia de muitas pessoas jogarem as pedras, ao invés de apenas uma. Mas perceba, que todo o povo, toda a cidade é chamado a uma UNIDADE. Era algo gravíssimo, no qual todos deveriam tomar parte. Todos tinham a responsabilidade. E ao a pessoa tomar parte na punição, ela estaria enfrentando a Lei que diz que "com a medida que julgar, serás julgado". Pensaria a pessoa: Será que fiz tudo por tal pessoa? Procurei ser o melhor exemplo? Procurei fazer de tudo para convencer ela, mostrar para ela o seu erro? Orei por ela? E essa pessoa, tinha que - convencida de sua parte - de tomar parte nesta questão tão dura, que seria a de apedrejar uma pessoa. (imagine se fosse sua filha, ou seu primogênito!!!) E assim, não haveria um carrasco, mas seria todo o povo, ou representantes destes que teriam que fazer. No final das contas, perceba que é uma punição de um povo; é uma obra tremendamente didática.
7. Mostrar o Lado de Deus
Até está punição, creio que houve 2 grandes momentos no qual Deus deu uma lição do que significava o mau. E o que Ele faria pelo homem, e para por fim no mau. E o quão desagradável, duro e pesado seria para Ele punir o pecador. O primeiro exemplo, está em Genesis quando o casal Adão tiveram que sacrificar a ovelha muda e pura. O segundo grande exemplo, foi o de Abraão em sacrificar seu filho. E então, veio este exemplo, de matar uma pessoa a pedradas. O que, para alguem com coração amável, bondoso, misericordioso, piedoso, com amor ao próximo, deveria ser muito duro, triste penoso. (Repito, que tal ação não deveria ser tomada por alguém com raiva, ódio, bravo, bêbado, fora de si, violento... - pessoas para quais isso talvez até soaria um divertimento).
8. Deturpação Espalhou
Se olharmos para o Antigo Testamento, O Novo Testamento, e, mesmo entre muitos muçulmanos hoje. Veremos claramente, sem sombra de duvidas, uma total deturpação quanto a Lei de Deus e suas punições. Quais cometem atos que, creio eu, qualquer pessoa em sã consciência consideraria uma total barbaridade, brutalidade, de pessoas que tiveram seus corações e mentes totalmente obstinadas e fechadas para um condicionamento baseado não no amor ao próximo, mas no ódio e raiva. Pois antes de tudo, tais deveriam orar pelos seus inimigos, amá-los, e fazer de tudo para poder libertá-los do pecado, conduzi-los a Deus, ao arrependimento, a luz da Lei, as consequências dos atos. Fazer o possível para absolvê-los. E com coração duro e contrito tirar a vida como a de um pai ao seu filho, ao invés matar a pessoa como se fosse um misero inseto.