Do que adianta querer detalhar meus pensamentos, palavras, aprofundá-los, pingar todos os is, se por fim, as pessoas não leem o que escrevi; mas leem segundo suas perspectivas? (como evitá-las?)
Certo não é com todos que este incomodo fenômeno ocorre, mas sempre ocorre. Um post absolutamente claro sobre isto é o que fiz sobre a Constelação de Órion, se vê claramente em muitos comentários, que o leitor, creio eu não entendeu nem o primeiro parágrafo. Todavia, alguns entenderam, sim, alguns sim.
Bem, há uma perspectiva de psicologia crítica que estudei na faculdade que a grosso modo diz o motivo pelo qual é díficil quebrar 'gostos', 'perspectivas', 'filosofias de vida', 'hábitos', 'gostos pessoais', 'idéias' e sobretudo, a 'emoções'. A resposta pode parecer um pouco simples, mas é isto o que basicamente ocorre: "A pessoa se apega a elas."
Isto me faz lembrar do ditado biblico: "o contemplar transforma". Bem, essa tese é um pouco platônica no sentido da Teoria da Reminiscência, mas basicamente, argumenta que a pessoa se apega a coisa, pois lhe dá prazer toda vez que se recorda de tal.
Ou seja, suponha que você brigou com uma pessoa; e esta pessoa passou a ficar com ódio por você por um tempinho. Passa o dia seguinte, e está pessoa ao acordar, naturalmente não está mais com ódio de você, mas em algum momento se lembra de você, ou te vê, e então se recorda do episódio que ocorreu e do 'ódio' que teve. Apenas por lembrar-se da situação, inconscientemente, a memória é consultada. A consulta basicamente se consiste em se recordar do acontecimento mais semelhante possível passado, e então ver qual foi 'a reação' que você usou no passado. E então, naturalmente, tende a resgatar essa reação. Ou seja, quando a pessoa, se recorda do que aconteceu no passado, naturalmente, se recorda da sua reação no passado, e assim, se sente um pouco "armado", "protegido", "vantagem", e isto lhe dá prazer. É o prazer da reminiscência.
No exemplo, a pessoa ao ver o próximo, lembraria automaticamente do que ocorreu no passado, e de sua "reação" (o ódio, raiva), e isto lhe dá prazer, segurança... pois já passou por isso, foi assim que agiu. Isso é o natural. E lutar e enfrentar isto, significa lutar contra reminiscencia, não no sentido de provocar aminesia, mas no de contrariar a sua certeza (como reagiu no passado) e se possibilitar, abrir uma nova porta, para algo que não se sabe o que é. E isto é extremamente difícil, sobretudo, em quem 'não está acostumado' a ter boas experiências de perdoar alguém.
Outro aspecto importante é por exemplo a música. A ideia principalmente defendida é que, em geral, as pessoas não gostam "de música", "da música em si" (uma visão artística, como se denomina). Mas sim o que ocorre é que 'tal coisa' representa, associa na vida dele. Por exemplo, uma pessoa em geral que costuma ouvir muito rock, em geral, toca ou canta tais músicas, ou seja, teve momentos de dificuldade e superação para estes desafios de reproduzi-los (e há a questão do prazer da reminiscencia nisso), também teve a companhia de amigos que apreciam, teve conversas com esses amigos, teve situações no dia-dia que envolvera a presença da música, ou até mesmo saída para shows, e até possivelmente, num desses shows encontrou a pessoa que é seu parceiro hoje, além de também poder transmitir um conjunto de ideais culturais, como algo rock, ou metaleiro.
Ou seja, quando por um exemplo uma pessoa fala algo que sugere a ideais de oposição ao Rock, ou que tal pessoa simplesmente 'traia', seja, 'infiel' a tal. Na verdade, não está falando contra a 'música rock', mas sim a este conjunto de coisas: {superações, desafios, amigos, momentos de conversas, shows, cultura, estilo de vida, pensamentos, filosofia, custos, gasto de dinheiro para com o qual trabalhou e lutou, etc.} Por isso é uma grande, tremenda ENERGIA, vista como uma tremenda agressão, é um golpe forte contra o peito, algo que molda, que formou a vida daquela pessoa. Pois diga-se de passagem, quem realmente pensa e reflete sobre "a música" em si, são os que tem visão artística, e estes - taxados de loucos, incompreensíveis e excêntricos - são poucos.
Mas alguns podem afirmar que gosta de mais de 1 estilo de música. Bem, a explicação segundo tal teoria, é que tal pessoa não possui apenas 'uma conta bancária', mas 'duas'. Ou seja, teve tambem experiencias com outro grupo e tals. De modo, que se diz haver 3 tipos de ecléticos.
Os 3 Ecléticos
1- o da carência de pertencer
O primeiro tipo, é aquela pessoa que se considera eclética para com alguma coisa, hábito, gosto, filosofia, etc, qual se adere há MUITAS coisas, muitas, quase todas, quase fazendo indiferença. Tais pessoas, em geral, possuem uma certa crise de 'aceitação', elas precisam sentir que 'pertencem' a um grupo, ou então, a todos os grupos. É visto como possibilidades: quanto mais melhor. Não se nega, nem fecha nada (aparentemente).
Normalmente, tal pessoa teve uma vida construída dentro de muitas experiências mistas, e experiências que envolveram relacionamentos significativas na vida; como amizades, hobbies, namoros, trabalho... Ou seja, tais foram os blocos com quais construíram sua vida, e qual sua mente tem prazer de recordar. Como são muitos, tende a dizer que por isso é alguém 'eclético'. Pois gosta de todos, quando na verdade, inconsciente a isto, esta na verdade a sensação de 'aceitação' de 'pertencer', ao recordar das experiências passadas.
Um Semi-eclético. Sim, na verdade, esta pessoa não é eclética. Pois as aceitoções dela se baseiam em cima do prazer da recordação, da aceitação, do pertencer. Isto implica que qualquer 'coisa' que implique em abandonar, retirar, algum desses blocos passados; são vistos como um tipo de vírus, inimigo. Então a pessoa pode tomar duas atitudes, uma 'menos eclética' que seria a de 'não se apegar a este, mas sim aos outros muitos', ou então, a 'mais eclética', apenas ter uma 'pequena relação com esta'.
Exemplo deste cético. Uma pessoa que diz acreditar em tudo qualquer coisa que é taxado de religião e supestição, desde rezar ave-maria, a ser batizada numa denominação protestante, a praticar budismo, a acreditar em horoscopo, consultar cartomante, cristais energizantes etc. Bem, a pessoa diz ser eclética para a religião. Mas por exemplo, ela 'não se apega' a uma religião cristã prostante, pois tal, aboli a todas as demais. Ou seja, 'uma pelo menos tem que ficar de fora', logo, há uma preferência, uma escolha, há divisão, não é eclética.
2- O Eclético Sem Gosto
Este é aquele que simplesmente não liga (é primordial não ter um caráter artistico). Tanto faz um ou outro. Não tem um senso crítico, não tem bagagem; não tem informação significante; ou seja, não tem ferramenta para fazer juízo ou escolha, ou prefere não fazê-lo. São os chamados 'sem paladar', uma pessoa só aceita comer e por qualquer coisa na boca assim, sem distinção, sem preferência, caso ela não tenha paladar; ou seja, não sabe diferenciar o gosto. Assim, não sabe o que é azedo, ou amargo, ou doce. Mas pode reconhecer a forma visual ou o cheiro. Tal é basicamente uma pessoa sem sensibilidade. Mostre qualquer coisa para ela e ela diz que ela gostou, achou legal. Ou seja, se todos são, então, na verdade, nenhuma o é. A pessoa não possuí critérios, juízo, não há distinção, escolha. Normalmente estas escolhem o objeto momento apenas por aquilo que for conveniente ou dê na telha.
3- O Eclético Por Opção
Se trata na verdade de um pseudo-eclético também. Pois é uma pessoa que tem sim preferências, gostos, claramente, não se nega isto, e até mesmo não gosta de outros objetos. Mas escolhe experimentá-los, contemplá-los, tentar compreendê-los, com fins de uso. Nem que seja, apenas para buscar aprender. Como um policial pode buscar a opinião de um criminoso sobre falsificação. Ou uma pessoa que não gosta de tomar remédios, e que por ele, nunca tomaria nenhum, mas que se tiver algum remédio, toma qualquer um, não faz choro, nem birra. Algo que também costuma acontecer muito com alguem dentro de uma area profissional.
Bem, não quero mais prolongar estes textos.
Mas o fim de querer dizer tudo isto. É que é dificil lidar contra os preconceitos, manias das pessoas entre tantos outros, por isto, por causa da reminiscência. E quando digo manias, também me refiro a uma que vem me dando um tanto de dor de cabeça nos últimos tempos, que são pessoas que tem o hábito de ter uma reminiscência penosa, brava, e enraivecida de e-mails longos. Ou seja, escreva um email ou post no blog, com mais de 3 ou 5 linhas, com alguns paragrafos; que apenas da pessoa bater o olho naquilo, terá reminiscencia de alguma coisa no passado, qual sua reação é de imediada repuldia, e raiva. É impressionante, mas há pessoas que 'leram a carta antes mesmo de ler a primeira letra.' E quanto a essas, as palavras nada podem fazer, pois o que conta, não são seus significantes, mas sua quantidade.
Há ainda outros aspectos, como questões de 1ª impressão, fofocas, esteriótipos e a imagem que os outros formam de nós. Até mesmo com comentários brincalhões, te podem associar a uma ideia ou palavra não-desejável em suas reminiscencias. E depois quebrar isto é dificil.
Quando são quebrados...
A teoria propõe que não há como forçar uma quebra, sobretudo com palavras. As palavras só terão efeito, por aqueles, que já tem em suas reminiscencias o de apreciar as palavras, de ouvi-las, de dar algum valor com elas e querer compreendê-las, seus significantes e tudo mais. Mas os dois modos com que são quebrados é através do ABANDONO.
No modo 1, a pessoa sofre um grande trauma, mas um grande trauma mesmo, o suficiente para si mesmo querer remover essa pedra de si e jogar fora. De modo, com que tal Ação não é mais recordado com a Reação do passado, mas é recordado com a NOVA reação, a do trauma. E assim, a pessoa busca mudar.
No modo 2, a uma nova possibilidade. Se abre uma grande nova possibilidade. E muito forte, com que traumatize a atual, no sentido, de fazê-la ser considerada menor e/ou descartável; e de que, esta nova, vale a pena ser experimentada. A pessoa, a principio, pode não abandonar, mas é quase inevitavel que abandone; apenas, caso, há total decepção com a nova, e uma nova grande consideração pela antiga, é que pode haver um retorno.
......
Eu particularmente considero essa proposta psicologica muito interessante, que pode ser usado muito como uma ferramenta para compreender o homem e nossos relacionamentos e a lidar com eles. É lago que podia ser mais explorado ao meu ver. Mas, todavia, ela é um pouco 'banho de água fria'. Pois segundo tal, quanto mais tempo algo é colaborado; mais forte e intenso é sua reminiscencia, logo, mais difícil é de ser mudado. Sabe, isso me tirou um pouco as esperanças de lidar e tentar propor novidades e portas para adultos, e até mesmo alguns jovens.
31 julho 2011
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