A rotina da vida parecia ir bem até que de repente passamos por situações que ninguém em sã consciência gostaria de passar. De início, por mais chocante e infernal difícil que possa ser, os primeiros dias são colaborados com o animo, esperança, boas memórias que ainda carrega, e acredita que logo irá melhorar. Mas os dias passam, e, de repente, você se dá conta de que tudo que lhe resta é o tempo que insiste em não passar, e assim, a boa rotina nunca volta.
De repente, você se dá conta que o mundo não se importa se você passa 2 semanas em casa. Na maior parte do tempo, sentado e deitado. Mal pode falar. Mal pode comer. E tudo o que lhe resta são livros, filmes, TV, música e o pseudo-social mundo da Internet. E-mails, chats, facebook, Orkut... Eis aí o mais próximo de se chegar da sociedade, das pessoas, dos ‘amigos’; quais se contentam com uma conversa atrás de um teclado.
Nessas horas, os passatempos se tornam “vícios sem sal”, pois quase não há outra coisa a fazer. - Ler? Já li. – Olhe para o lado e vê realmente quem se importou; quem esteve todo o dia cuidando de você. (isso que chamo de amor de mãe). Ao mesmo tempo, você percebe que facilmente seria esquecido pelos amigos, talvez sua morte apenas os chocasse por uns dias.
Há muito tempo para pensar. E algo que muito pensei é no meu papel na sociedade. Nessas horas duras de vida árida, você acaba sendo mais sério consigo, não tolerá vãs e fúteis imaginações, como um amor não correspondido, ou fantasias de uma promoção no emprego, ou uma pirula que instantaneamente lhe restabelece a saúde.Mas busca fatos e coisas claras e concretas. Não quer apenas se sentir bem, mas um remédio que acabe com a dor.
Olha para cá e para lá, e percebe que seu único verdadeiro laço de elo de metal é com a família. Mas percebe que a outra ponta continua vazia. Você percebe que você mesmo, facilmente, em pouco tempo, esqueceria de seus amigos, ou deixaria de dar atenção a eles.
Nisso, cada vez chagamos mais perto de conquistar a consciência de que a vida não faz sentido e que tudo é vão. Porém, no fundo, você está convicto, e na sua consciência, quer construir, quer formar algo para este mundo. Uma espécie de monumento que possa deixar para outras pessoas (até desconhecidas), algo que você pode fazer e que, de algum modo místico, comunicar virtude.
Talvez uma família, ou um livro ou música, de fato, procura algum tipo de arte. Coisas concretas, que em si parecem ser razões suficientemente boas para se mover. Mas e os sentimentos? Ora! Nessas horas é o que menos importar. Como a boca insensível e o constante desconforto, de algum modo lhe faz parar de ligar para isso, por mais azedo que seja. O que importa é cavar um poço, um reservatório, mesmo sem água. Para que quando vier chuva, ai sim fique cheio de água fresca que servirá de animo por bons tempos. Mas pode vir a estiagem – paciência. O que imposta é que o poço está lá, e quando viver a chuva...
Por fim, o que construímos de concreto, capaz de conter a água da chuva? A chuva são as bênçãos, os sentimentos, a alegria. A questão é qua devemos construir com tijolos, cavar... para encher com água. E não o contrário – paredes de água para conter tijolos.
O que realmente temos construído na vida que não seja uma ilusão?
Quanto ao próximo...
Sim. Foi na boca que operei. Mas nessas 2 semanas pude sentir, ter uma idéia experimental do que seria para o corredor perder suas pernas, ou um dia acordar paraplégico. É duro perceber que agora está cheio de limitações e seu corpo passa por uma longa adaptação que nunca chega, sempre demora. Parte da sua autoestima morre. A quase todo momento você é companheiro da solidão. Logo percebe que seus elos sociais vacilam com 2 semanas, como um bote a deriva no mar aberto, e você olha para todas as direções, e na linha do horizonte o mar some, e você não vê socorro, nem ninguém, apenas água.
E aí você pensa em como ocupar o tempo. E coisas do tipo: “O que realmente importa?” E aí você percebe que sempre quis muitas coisas e caminhos para a vida, mas precisa escolher e se focar num ou outro. E o mais incrível: Quando todas as paredes das amizades parecem desabar, você repara que Deus sempre está de pé ao seu lado. Assim, como sempre há um convite para abrir a Bíblia que está sobre a sua cama. E ao ler, de algum modo, algo irá conter os grilhões e ansiedades da alma, lhe dar paciência e um pouco de paz. - Só pode ser magia! É um livro mágico!
Esses dias me trouxeram um propósito. Me fizeram ver quantas pessoas não precisam de um consolo, de uma visita, de uma mera companhia. Talvez em seus leitos, ou próprias casas. Aliás, o que dizer dos moradores de rua? Talvez, pensem que o mundo virou as costas para eles, e nem mesmo tem onde repousar (como foi o Filho do Homem). Mais intrigante, foi um dia, voltando da academia, vi próximo ao trabalho, um morador de rua, sentado no cantinho que pegou debaixo da coluna de um arranha-céu, e lá estava ele, lendo atentamente sua Bíblia, como se fosse a única coisa pela qual vivia naquele momento.
O mundo está cheio de pessoas carentes da visita, da companhia, da ajuda de outros filhos de Adão, filhos de Eva, filhos de Deus. É o nosso dever com nosso coração ir até elas. Apenas não sentimentos. Mas logo descobrirmos quando o entretenimento “das ocupações e relações sociais da vida” para de roubar nosso tempo e atenção. E então podemos ver em nosso leito, e que, ao nosso lado, há um semelhante meu.
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