04 setembro 2009

Lúcio Anneo Sêneca

Terça-feira a noite e encontro um livro perdido no IME e pego-o. Bem, comecei a lê-lo e logo fiquei preso a tal leitura, não conseguia parar de devorar o pequeno livro "Sobre a brevidade da vida", de Sêneca. Fora que o tema do livro muito gira em torno do livro que estou escrevendo. É um livro incrivel, é de lembrar muito a Salomão, principalmente em Eclesiaste e um pouco de Provérbios quando fala da sabedoria. Mas o que mais me intriga é ele falando de um ponto de vista -aparentemente temporal - pagão (porém, parece mais um cético), sobre a própria temporalidade; isso é incrivel. Pois ele até mesmo acaba se auto criticando, assim como aos lideres da época, assim como a quem a carapuça servir, e que certamente cabe a maioria dos homens de hoje.

Quando a Sêneca (4 a.C.? - 65 d.C.), filósofo, ele viveu nos primódios do primeiro ano da era cristã, foi o principal conselheiro de Nero; porém, creio eu que não chegou a ter contato com os cristianismo. E agora, disponibilizo ao leitor dos curtos capitulos que falam sobre os 2 tipos de pessoas, os 2 modos de vida (onde um na verdade é estar morto-vivo); e deixo ao leitor as reflexões pertinentes.


Cap. XV

Nenhum deles [Zenão, Pitágoras, Demócrito, Aristóteles, Teofrasto e outros grandes sábios] vai te levar para a morte, todos te ensinarão a morrer; nenhum deles desperdiçará teus anos, te oferecerá os seus; nunca a conversa com eles será perigosa, nunca a amizade será fatal, ou o respeito dispendioso. Conseguirás deles tudo que desejas; eles não serão culpados, se não conseguires exaurir aquilo o que querias. Que felicidade, que bela velhice terá aquele que se propuser a ser cliente deles! Este terá com quem dialogar sobre as menores e maiores questões, a quem consultar todos os dias sorbe si mesmo, de quem escutar a verdade ser ser ofendido, e será louvador sem adulação para que se possa moldar à sua semalhança. Costumamos dizer que não está em nosso poder escolher os pais que o destino nos deu; porém, podemos ter um nascimento de acordo com nsosa escolha. Há famílias dos mais nobres espíritos, basta escolher a qual delas desejas pertencer e receberás não apenas o nome, mas também os bens, os quais não precisarás vigiar de forma miserável e mesquinha, pois quanto mais forem compartilhados, maiores se tornarão. Estes te levarão ao caminho da eternidade, te elevarão ao ponto mais alto de onde ninguém corre o risco de cair. Esta é a maneira de prolongar a vida, ou mesmo de transformá-la em imortalidade. As honras, os monumentos, tudo aquilo que a ambição decretou ou construiu com trabalhos logo há de ruir, uma vez que não existe nada que a passagem do tempo não arruíne ou ponha em desordem. Porém, não pode atingir os conhecimentos que a sabedoria construiu, pois nenhuma idade pode destruí-los ou diminuí-los. A próxima e as seguintes sempre vão aumentá-los mais um pouco, já que a inveja avista apenas o que está próximo de si, e admiramos com menos astúcia o que está distante. Assim, a vida do sábio se estende por muito tempo, ele não tem os mesmos limites que os outros, é o único que não depende das leis do gênero humano, todos os séculos o servem como a um deus. Algo se perde no passado? Ele recupera com a memória. Está no agora? Ele desfruta. Há de vir com o futuro? Ele antecede. A união de todos os tempos em um só momento faz com que sua vida seja longa.

Cap. XVI

Muito breve e agitada é a vida daqueles que esquecem o passado, negligenciam o presente e temem o futuro. Quando chegam ao fim, os coitados entendem, muito tarde, que estiveram ocupados fazendo nada. E por que invocam a morte, não se pode provar que tenham vivido uma longa existência. Sua imprudência atormenta-os com sentimentos incertos, os quais direcionam para as próprias coisas que temem: desejam a morte porque ela os amedronta. Não é argumento para nos levar a pensar que desfrutam de uma longa vida o fato de, muitas vezes, acharem que os dias são longos, ou reclamarem de que as horas custam a passar até o jantar, pois, se estão sem ocupação, sentem-se abandonados e inquietam-se com o ócio sem saber como dispor do mesmo ou acabar com ele. Assim, desejam uma ocupação qualquer, e o período de tempo entre dois afazeres é cansativo. E, certamente, é isso que acontece quando o dia do combate dos gladiadores é marcado, ou quando as aguarda qualquer outro evento ou espetáculo: desejam pular os dias que ficam no meio. Toda a espera por alguma coisa lhes é penosa, mas aquele momento que aspiram é breve e passa rápido, tornando-se muito mais breve por sua própria culpa, pois transitam de um prazer a outro sem permanecer em apenas um desejo. Seus dias não são longos, mas insuportáveis. Ao contrário, nos braços das prostitutas, ou entregues a bebedeiras! Talvez daí resulte o delírio dos poetas [Desde Platão, os poetas são criticados] que alimentam os erros dos homens com histórias nas quais se mostra Júpiter, embevecido pelo desejo do coito, duplicando a duração da noite. De que se trata, senão de exaltar os nossos vícios, já que os encontramos nos deuses e vemos na divindade um exemplo de fraqueza? Podem estes não achar muito curtas as noites pelas quais pagam tão caro? Perdem o dia esperando a noite; a noite, com medo da aurora.

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