Ninguém nas ruas, ninguém no trabalho, ninguém na Internet. Onde estão todos? Reunidos: em família, entre amigos, ou a sós; mas pode crer que estão ligados focados num único evento. - Ou seria um ritual? - Um Estádio, milhares de torcedores, 22 jogadores, 1 bola, 1 juíz, 2 bandeirinhas, equipe técnica, banco de reservas, demais arbitros, gandulas e, não menos importante, a mídia fazendo o papel de mediadores, levando até nós o que ali ocorre.
Mas como é dificil, muitas vezes, ver o futebol. O esporte em si vira um mero pretexto. O que rola mesmo, não é a bola, mas o espetaculo. Uma guerra de preconceitos que alguns chamam de patriotismo, quase que soando como um tipo de ódio pelo próximo. Em campo, era mesmo futebol? Busca pela vitória? Busca pela superação de seus limites? Fazer o seu melhor? Não forcemos a idealização. Mas sim era uma catimba quando se faz o gol, ou melhor, "segurar o jogo". - "Se chegar perto, dou um chutão para frente!", "Enrole até o juíz aptar." - O que falar da habilidade técnica de driblar o adversário? Era assim que pude ver Pelé fazendo, em função de fazer o gol, superação, fazer o melhor, era o modo de se passar pela pessoa. Mas ontem, pude ver Robinho, idolatrado por uns, dar um drible extraordinário no lateral da Costa do Marfim, tudo parecia ser mais um lance incrivel em função do objetivo de um gol, mas nisso, ele voltou atrás apenas para 'fitar' mais uma vez o adversário, e depois, sem a minima necessidade, mais uma, até que o bravo (provacado), o cavalou. Futebol? Ou isso era "tirar uma", desrespeitar/humilhar o próximo e elevar o próprio ego?
Se formos pensar em termos de relacionamento afetivo educativo, que nota daríamos para o que contemplamos numa copa do mundo? Falta de caráter, não importa, contanto que apenas não dê um carrinho por trás. Vemos relacionamento, amizade? Ou apenas algum tipo de negócio/interesse? - "Você é do meu time, ele não." - Onde vemos afeto? É quando alguem bate no seu companheiro e, invocadamente, raivosamente, você vai para cima sem afeto algum para com o agressor (ao mesmo tempo, dando uma de 'possível agressor', para ele temê-lo)? É quando se abraça, beija, comemora, carrega no colo o companheiro que fez o gol, mas que certamente, não abandonaria sua carreira, nem "milhões" para ajudá-lo? E a educação? O que aprendemos no jogo? Pessoas que enrolam, que fazem corpo mole, que entram solando, que dão o corpo para sofrer a falta, que finjem dor, que cavam faltas; sem contar os zilhões de palavrões, bate-bocas, agressões físicas, gestuais ou orais; e que, idolatrados, são considerados "grandes homens", pois aliás, são famosos, e ganham MUITA GRANA e luxo; fazendo o quê? O que um garoto de 8 anos faz na rua ou na escola. Até que ponto tais foram educados? Ou será que apenas não demonstram ser jogadores? Aliás, na tela da TV que vemos os soberbos, luxuosos, sem-educação, intemperantes, lascívios, assassinos, ditadores e os mais, talvez, (sem preconceito) a escória da humanidade desfilarem, pessoas quais deveríamos desviar nossa atenção. O que há de bom em contemplar tais? O que há para aprender de forma educativa?
Diminuindo o Zoom agora também observamos o Estádio e toda a platéia de torcedores. Muitos questionamentos poderíamos fazer sobre: "O que fazem ali?" "Deveriam estar ali?" Quais, pela mídia, pude observar muitas pessoas embriagadas, enchendo a cara, desfilando o corpo como no carnaval; ou mesmo focando na sensualidade de torcedoras, como a torcedora do Paraguai dos peitos grandes que enfiou 'ali' seu celular, e, em meio a um jogo de futebol, com crianças no mundo todo assistindo, a camera dá um zoom, um close, não no jogo, mas nas "duas montanhas" da torcedora com um decote que também não visava esconder nada [Aliás, "tudo que é bonito não é para se mostrar?" - Menos a senha da conta bancária.]. Bem, ali eles gritavam, ali fugiam da realidade e dos verdadeiros problemas e questionamentos da vida; talvez estavam pagando para fugir de si mesmo, fugir da razão e da vontade, e, como zumbis, deixar que seu corpo desfrutasse de toda agitação, desejos e prazer que aquilo pudesse, de algum modo, proporcionar.
Ainda ali no Estádio, pude ver um torcedor grego, daqueles "super bombados" exibindo todo seu corpo e músculos, além da cerveja (suponho), comemorando euforicamente com seus amigos; os quais certamente deveriam ter 'algum dinheiro'; não parecia nem um pouco preocupados com a realidade dura que se encontra seu país. E isto é o mesmo que vejo do lado de cá da televisão, um show de tediados e raivosos com a vida que parecem ter sempre um grito na garganta pronto para sair, barulhentos, agora com as vunvuzelas (mas de querer aprender a tocar um instrumento musical de sopro mesmo, nada), cheios de muito churrasco e cerveja, para pensar ainda menos e dificultar ainda mais a sobrevivência do organismo. E, assim se ligam na tela da TV.
Ora, a Copa na África, a tão sofrida África qual sofreu e sofre com inúmeros conflitos sociais e ideológicos, além de ser marcada por pobreza, miséria e fome; foi totalmente abarrotada. O que vemos na TV? A África do Sul, em cidades tais quais como seriam em países desenvolvidos de altissimo IDH e renda per capita; o luxo de modernos estádios, modernos onibús, modernas chuteiras, roupas; e todos parecem estar felizes e sorridentes. Da África, não fiquei sabendo nada nesta copa, apenas conheci sua elite, ou melhor os torcedores que vieram (em maioria, pois os africanos mesmo, mostram pouco nas filmagens) de outras nações, mas fiquei sabendo que o Maradona desfilaria pelado. - Oh! Que tamanha futilidade!
Crise fiscal, crise na Europa, drásticos problemas de poluição nas cidades, rios, uma quantidade colossal de petróleo vaza no Pacífico, enchentes aqui e ali, fome, miséria... tantas coisas! Mas tudo foi posto de lado, desvinculado da realidade do individuo. Como? Sedando-os, anestesiando-os com a Copa do Mundo qual conseguiu fazer com que fizesse de zumbis e fantoches milhões de pessoas (talvez bilhões). Pobre da política do "Pão e Circo" em Roma, mal atingiu 1 milhão de pessoas.
Após o jogo fui para a aula de música; bem, quase que ninguém compareceu. No culto, quase todos pareciam ter esquecido de Deus naquele dia, menos do jogo. Depois ainda dei uma breve caminhada pelas desertas ruas do centro de Santo André e para a minha surpresa, numa noite fria, pude ver e ouvir que em apartamentos pessoas ainda gritavam e comemoravam alguma coisa (ou simplesmente faziam barulho), haviam bandeiras, tiras verdes e amarelas, jovens embriagados que passavam rasgando pelas ruas com carros enquanto assopravam as 'vunzelas' mas que ali na calçada, na fria noite, havia um pobre morador de rua, no chão, tentando dormir, sem um cobertor! Todos encolhidos, claramente com frio, dormiam pela exaustão (creio que só assim conseguem dormir em tais condições); aspecto abatido, com fome, diferente, dos "patriotas torcedores" que a tal altura estavam já recorrendo as fármacias para aliviar os sintomas dos quilos de carne e cerveja ingeridos. Um deles, mal estava vestido, a calça tinha um rasgo que ia da bunda até o joelho, onde certamente entraria um vento frio revoltante. Mais alguns quarteirões e vejo uma mulher nas mesmas condições e que tirou o usado e desgastado tenis e meia, enquanto dormia naquela noite fria, com os pés muito inchados. Mas onde estavam as pessoas? Na copa. Comemorando o quê? A Pátria que em maioria eram homens ricos, que vivem no luxo, e, alguns, há anos, moram no exterior, longe da realidade do dia-dia do brasileiro; mas a Pátria, aquela formada pelo necessitado do outro lado da rua, dormindo no chão duro e gelado... nem podiam ver, apenas as imagens daquilo que a cerveja proporcionava em suas mentes. Com todo tipo de papos fúteis, frívolos, sedentarismo, consumismo, glutonaria, beberrice e gritaria.
E ao voltar para casa, o papo não era outro senão "Cacá" ou a cavalisse dos 'negões' marfinherios e ainda tive que ouvir bronca porque fugi da cultura da família e da sociedade, da qual, se reunir com a família para cultuar a copa do mundo e esquecer o resto do mundo, os deveres, necessidades, abstinência e a virtude; apenas para ali estar, preenchendo um espaço, o campo de visão e a audição, os quais, certamente não estavam dispostos para um relacionamento afetivo, muito menos educativo, apenas curtir a festa. O que me lembrou das palavras de Salomão: "Há mais sabedoria na casa de luto do que onde há festa."
Se formos pensar então nos ambitos espirituais. Se eu fosse Satanás, estaria também festejando com a copa do mundo, os gols do Brasil, as brigas em campo e até mesmo com a transmissão em High Definition; até diria com orgulho que perdi a conta das mentes que desviou da contemplação da Verdade, das coisas celestes (como Jesus nos rogou), da santidade, consagração, caridade, missão; até mesmo conseguiu fazer do Cacá virar piada de crente(cristão) e levar a blasfêmia Deus atra'ves da frivolidade que passaram a tratar os dízimos e ofertas com a piada; e que conseguiu promover com grande sucesso o entorpecimento da mente, do fígado, a algazarra, a frivolidade, a vaidade, a futilidade, a literal perca de tempo, desvio da oração vigilante e da Palavra de Deus. - Que tamanho sucesso! Deve estar contabilizando os ganhos ainda.
Assim foi meu dia, o que para alguns foi festa, para mim, uma tarde de domingo perdida (apesar de ter dormido no primeiro tempo, e ter perdido parte do segundo tempo enquanto estava tomado pela atenção num canal de documentários). E no final do dia, uma frase retomei do livro de Rudy Maxwell, algo assim:
"O mundo está rindo enquanto caminha para o inferno. E os cristãos também."