No estudo anterior, conversamos um pouco sobre a Natureza Pecaminosa. Agora iremos avançar para um dos temas ou pontos mais polêmicos. Antes uma nota especial para contextualizar.
Nota Introdutória
A Teologia do Perfeccionismo prega algo que praticamente todas denominações religiosas pregam: 'o cristão deve buscar/produzir/viver um caráter perfeito como o de Cristo'. Até aí tudo bem. O grande problema em que surge infindáveis discussões se decorre quanto as definições/conotações, o entorno, aplicação e desenvolvimento das seguintes perguntas:
- O que é caráter?
- O que é perfeito?
- O que é 'caráter perfeito'?
- Como era o caráter perfeito de Cristo?
- Como buscamos isto?
- Como obtemos isto?
Eu acrescentaria uma outra pergunta, que em nenhum momento observei ninguém fazendo:
- Até onde devemos nos preocupar com isto?
No decorrer da História Cristã, desde os anos 400 d.C, e olha lá, já surgiam cristãos influentes com uma resposta para estas perguntas, do tipo (1, 3, 5, 8, 1, 3) e então desenvolviam uma teologia em cima disso e saia em ensinando. Foram, através desta, dentre outras, respostas - como (2, 0, 3, 2, 9, 9) - que se introduziu várias ideias e heresias absurdas da fé cristã.
O principal componente das teologias consideradas perfeccionista é a sua semelhança/aproximação com o Legalismo dos escribas e fariseus. Isto não quer dizer que concorde com as coisas que tais diziam que o homem devia fazer. Mas concordavam com os escribas e fariseus quanto a ideia mais primordial do tipo: "O que eu devo fazer para ser salvo?", "Que ações, atos, obras, posso fazer para ser salvo?". Ou seja, há sempre um certo tipo de apelo, ou reconhecimento, ou tendência no homem olhar para si mesmo como um instrumento ou operador da própria salvação. O lado da Graça, a ação de Jesus, tem quase que um sentido de 'segundo plano', ou algo no tipo: "Deus te dá força e os recursos para trabalhar e conseguir isso. Então agora faça. É com você. É sua parte."
Quando comecemos a mergulhar o pensamento nesta esfera de pensamento, não é difícil entender como que a Igreja Primitiva, séculos depois, pregava a Venda de Indulgências, a Autoflagelação, u mesmo '20 aves Maria' para um pecado ser perdoado, dentre diversos outros tipos de salvação pelas obras. Também, nos lança um olhar para observar como a Igreja Católica estava profundamente mergulhada em concepções legalistas; de modo que foi totalmente chocante as Teses de Lutero sobre Justificação Pela Fé.
Fé e Obras
Ainda assim, séculos após, nos dias de hoje, ainda há muitos que creem que fé e obras, dão na mesma. Pois, afinal, não conseguem 'ver' a Fé, mas conseguem ver 'as obras'... então acabam dando a credibilidade de que a única maneira de se garantir que você está exercendo a fé é através do reconhecimento das obras. Uma evidente distorção das palavras de Tiago em que primeiro deixou por expresso que uma coisa é uma coisa e outra coisa é outra coisa, e que somos salvos pela fé e não pela obras. Mas deixou como um adentro de que a fé sem obras é morta.
A melhor analogia que imaginei para isso é um Nadador. A Fé faz de você um nadador. Você é um nadador. Inclusive quando não está nadando. O que Tiago quis dizer é que se você é um nadador, mas há 50 anos não entrou numa piscina... tem alguma coisa de errado. Será que você realmente é num Nadador? Os Perfeccionistas/Legalistas colocam então que, o único modo de saber e garantir isso é procurar estar sempre nadando, e cada vez nadando mais perfeitamente.
Uma adição a isto é que alguns perfeccionistas - descobri que não são todos - que seguem uma linha de pensamento mais arminiana acreditam que só conseguimos Nadar porque na verdade Deus coloca boias especiais em nós, assim como Jesus colocou nos pés de Pedro, impedindo-o de afundar. Mas que nós devemos desenvolver nossas habilidades natatórias até chegar ao ponto de não precisar mais destas boias especiais, nós não mais afundamos por conta própria.
Isto é uma simples ilustração cheia de poréns. Mas serve de start nesta conversa.
O que é caráter?
Aqui está um o primeiro problema. A Bíblia não tem uma resposta. Em nenhum lugar da Bíblia encontramos um texto dizendo: "caráter [dois pontos] é". Na verdade, uma investigação mais aprofundada mostrará que muitos textos que hoje são traduzidos com a palavra 'caráter', nas línguas raízes usava-se outras palavras, ou junções de palavras. Ou por vezes, havia mais de uma palavras que trazia esta ideia usado em contextos diferentes. Os gregos introduziram muitas ideias profundas sobre a ideia de caráter que hoje o Ocidente mais se desenvolveu em cima. Como 'caráter' sendo algo no entorno da ideia de 'característica'. Mais profundo ainda, como algo 'gravado', 'qualidade que define', 'símbolo da alma'.
Fazendo uma super simplificação aqui, vamos definir caráter como 'uma marca da qualidade dos seus pensamentos, ações e gestos'. É ainda assim, uma definição tremendamente errada ao meu ver. Há diversos autores que fazem as suas definições.
Segundo o livro Face to Face With the Real Gospel (Face a Face com o Verdadeiro Evangelho) de Dennis E. Priebe, que estou usando (como nos demais estudos), como um tipo de referência para uma das linhas de pnesamento perfeccionista... caráter é definido como um Escolhedor. Isto é, se você escolher fazer A ou B, ou se você escolhe não fazer A nem B, ou escolher fazer A e B. É basicamente isto. Daí, as consequências naturais desta definição puramente axiomática é:
- Se Escolhedor escolhe algo que é errado/pecado, então Caráter = Falho;
- Se Escolhedor escolhe algo que é certo então Caráter = Correto.
Apesar da palavra 'caráter' na maioria das linhas perfeccionistas não ser a palavra ou o ponto em questão, estou falando dela, por ser o grande ponto polêmico no caso dos grupos adventistas envolvidos com esta linha de teologia. Pois tais se deparam com esta problemática frequentemente nos escritos de Ellen G. White por esta usar - como um vício de linguagem - a palavra caráter frequentemente, para descrever muitas coisas e com diversas conotações. Na maioria das vezes, num sentido semelhante com Moral.
E aqui questiono o leitor. O que é caráter? Escreva com as suas próprias palavras.
Ai vai uma ajudinha (ou para atrapalhar), segue uma lista do site Sinônimos:
- Traços psicológicos: índole, temperamento, natureza, personalidade, feitio, gênio, jeito, característica, compleição, fibra, entranhas, têmpera.
- Qualidade específica: especificidade, peculiaridade, particularidade, cunho, marca, traço, distintivo, individualidade, especialidade, originalidade, qualidade, feição, atributo, propriedade, jaez, sabor.
- Firmeza moral: hombridade, honestidade, dignidade, integridade, probidade, honradez, respeitabilidade, retidão, seriedade, decência, decoro, presença, firmeza, determinação, resolução.
- Caráter tipográfico: sinal, letra, caracteres, tipo, bloco, figura, número.
Bem, veja que provavelmente, a maioria dos usos que queremos usar gira em torno de algum tipo de arranjo entre as ideias 1, 2 e 3. (que já são muitas... uma combinação matemática destes números de ideias, nos trariam milhares de significados únicos). Mas então, como avaliar os usos mais 'gerais' e 'primordiais' usados por Ellen G. White? Ou seja, o que, geralmente, na maioria das vezes, Ellen G. White, tinha em mente, quando usava a palavra 'caráter'? Fiz uma longa busca, e este foi a melhor resposta que encontrei do que seria mais próximo de uma definição que ela usa para 'caráter':
"... o caráter se revela não por boas ou más ações ocasionais, mas pela tendência das palavras e atos costumeiros" Ellen G. White, Caminho a Cristo, 57,
Caráter = Vetor 'Diretor'
Vetor diretor é uma ideia matemática desenvolvida principalmente por René Descartes. Até então, o homem (incluindo matemático), apenas conseguiam conceber o mundo a partir de uma Geometria Cartesiana, entrelaçada as ideias mais elementares de Euclides, encontrados numa das mais famosas obras do mundo, que só concorre com a Bíblia: Os Elementos, de Euclides. Escrita em torno de 300 A.C. Até então, um Ponto A era descrito como a combinação cartesiana das referências (x, y, z) = (0, 1, 5) por exemplo. Com o Vetor, a história muda. Não estamos mais limitados apenas a esta concepção geométrica que apenas nos remete a ideia de um tabuleiro de xadrez. O vetor, conseguimos referenciar o ponto, e não só isso, mas saber o seu 'tamanho' (norma), direção e sentido. Ou seja é um tipo de 'objeto orientado'.
O gráfico acima seria uma representação visual de um vetor do Ponto A, definido pelas referências (a, b) ou (x, y). Repare que ele tem uma um tamanho grande em laranja, uma orientação na diagonal e apontando para nordeste.
Esta ideia de vetor, é amplamente usado na Matemática e suas ferramentas. Logo também é usado por muitas ciências, como no exemplo abaixo.
Matematicamente, vetor diretor tem uma outra ideia da que irei introduzir agora. Pensemos no vetor diretor como um vetor que manda na coisa. Ou seja, no mapa acima, se você colocar uma bexiga num ponto A, onde essa bexiga irá parar? Trace uma linha reta entre o ponto A e este ponto X, esta trajetória ou orientação, ou que na matemática seria a soma resultante dos vetores, ou vetor resultante, seria o que chamo de Vetor Diretor.
No texto acima, Ellen G. White declara uma ideia semelhante. O caráter é como um Vetor Diretor. O caráter não é julgado/avaliado/caracterizado pelas variações, ou por ir mais para um lado, depois mais para o outro. Mas para o resultado final para onde está indo.
Veja, o mapa abaixo da travessia que Amir Klink:
Amir Klink viajou de Luderitz (Namíbia) até Salvador (Bahia). O Vetor Diretor no caso seria a flecha rosa enorme. Mas o caminho que ele de fato fez foi o de linha vermelha. Ou seja, ele deu uma enorme volta. Mas, no caso era o melhor caminho por n motivos (alguns até geométricos, devido a planificação do Globo).
O que Ellen G. White quis dizer em suma no texto acima é que, um olhar simplório e legalista, olharia para Amir Klink logo nos primeiros quilômetros e diria: "Amir, você está indo para direção errada. Você está cometendo um grande erro." E, logo, julgaria que "Este cara tem um péssimo caráter. Vive insistindo em ir para outra direção." Não devemos olhar com estes mesmos olhos de quem olha o exterior das pessoas e quer apontar o dedo julgá-la. Devemos olhar para o Vetor Diretor que está sendo formado com o passar do tempo. E, sobretudo, o final. E repare que, se tentarmos ser precoces e avaliar os vetores intermediários - durante o caminho - em verde claro, julgaríamos pior ainda. Diríamos que o caráter de Amir Klink não é um direcionado para Salvador na Bahia, mas para New York, nos EUA.
Ainda mais, a curva/trajetória que cada um de nós fazemos na nossa caminhada espiritual é distinta e diferente uma do outro. Jesus é o nosso maior Vetor Diretor que buscamos seguir e nos orientar. Mas a rota, na pratica, nunca é como imaginávamos que de fato seria. Sempre há alguns 'desvios'.
Agora, observando novamente o trajeto de Amir Klink, como uma analogia ao caráter de uma pessoa pergunto: Amir Klink fez um trajeto perfeito?
Caráter Perfeito
Alguns, erroneamente, diriam que Amir Klink apenas obteve um caráter perfeito ao chegar em Salvador-BA. Quando de fato surge o Vetor Diretor rosa gigante. Mas a grande verdade, no sentido espiritual que encontramos na Bíblia e no Espírito Profecia. É que em todo o momento deste caminho, ou pelo menos na maior parte dele, foi perfeito.
Se você ler o livro dele, verá que de fato houve diversas vezes que ele cometeu vários erros. E quase morreu algumas vezes. Ou arrastou um trator, ao invés de surfar pelas ondas, por ter negligenciado uma limpeza do casco. E até se desviou um pouco da rota uma vez ou outra; e houve dias que nem conseguiu levantar da cama, ou, devidos as condições exteriores, não ter condição alguma de fazer coisa alguma, nem mesmo medir e saber onde estava precisamente; ou para onde estava indo. Por vezes, teve que esperar dias para saber qual estava sendo seu 'vetor diretor', se estava mantendo a direção certa, ou próximo dela, ou se afastando muito. E a conta matemática é simples, se a soma de todos os vetores não for perfeita, não adianta, ele não teria parado em Salvador na Bahia por nada.
Outro ponto importante sobre perfeição de caráter seria esta 'navegação'. O Legalismo e Perfeccionismo diz que Deus te dá braços super musculosos para atravessar o mar. Isto eles chamam de fé, ou o poder concedido pela graça. E você tem este poder de em cada escolha remar rumo a Salvador (o nome foi proposital). Pois Jesus é apenas o Modelo, a direção que você deve seguir... tem uma trilha de sangue no mar, que basta seguir o Modelo que você chega lá. E na visão legalista, resumidamente é isto. Um dia você chega lá. Contanto que não vacile em usar o barco, os remos e os braços que Jesus te deu.
Obs: Algumas linhas de Perfeccionismo diz que Jesus também vai te perdoando no caminho. Isto é, apenas apagando seu trajeto errado no passado, para depois não te acusar/dizer/cobrar: "Olha você errou aquele caminho. Não merece estar aqui."
Quando na verdade. A História é muito diferente. No modelo mais profundo que encontramos na Bíblia e no Espírito de Profecia, Jesus é quem constrói o barco. Jesus é quem te coloca no barco. Jesus é quem te faz flutuar. Jesus é quem põe os remos nas suas mãos. Jesus é quem te faz remar. Jesus é quem cuida e promove a sua direção. E, muito mais do que isso. Amir Klink escolheu este trajeto vermelho, sobretudo por um motivo bem especial: "Se fosse depender dos seus braços e remadas. Ele nunca chegaria no Brasil." Seria impossível. Ele precisou sobretudo das marés.
Foi a maré que levou Amir da África até o Brasil.O trabalho que o braço dele foi sobretudo para se manter alinhado devidamente com as marés, ou incrementando um tanto X de velocidade. Pois, afinal, mesmo que ele ficasse o dia todo remando, uma hora cansaria e precisaria dormir por diversas horas. O que seria o suficiente para todo o trabalho ser em vão. Do mesmo modo, Jesus também é a maré que nos leva da África até Salvador. Mais do que isso, Ele governa os mares.
Mesmo que às vezes por 'indisposição espiritual' nossa deixemos de remar como Ele instruiu. Ele tem infinitos modos de corrigir isto, o percurso, sem o menor esforço. Isto mesmo, os méritos de você chegar até o destino são absolutamente de Jesus. Nenhuma remada sua tem nenhum tipo de mérito.
Por que alguns não alcançam Salvador?
Ao mesmo tempo, há um enorme Cruzeiro, cheias de mulheres lindas e peladas, com música alta, com a melhor comida e música navegando ao lado de Amir. E o capitão do navio: "Larga disso Amir. Vem aqui pro meu navio. É muito mais divertido. E eu te levo sem você se preocupar para os melhores portos e águas deste mundo." Bem, há muitos Amirs que desistem do pequeno barco a remo, e dos dias e dias de remadas. Ou, por vezes, o capitão do navio, ou até mesmo outros remadores, ficam criticando, acusando, e infernizando tanto a vida de Amir, que num momento de raiva ou depressão ele acaba escolhendo desistir. Ou as vezes, tenta remar devolta para Luderitz (África); e só consegue voltar, não pelo próprio esforço e remadas. Mas porque Jesus o permite de exercer sua escolha e dá a ordem para a Maré (ok... ele insiste que quer voltar para lá) parar. E aí vem o capitão do navio e dá uma carona para ele para Luderitz.
É apenas uma analogia. Mas pense bem nisso. E nas ideias aqui. E compare com as ideias perfeccionistas. Veja que há grande teor de legalismo nelas.
Reparei que uma das maiores indagações/preocupações de algumas das pessoas que seguem esta linha de pensamento teológico são ansiedades e perguntas do tipo:
- Como sei que estou a salvo?
- Como sei que estarei entre os que chegarão a Salvador?
- Como posso saber que não sou um dos que não chegaram em Salvador?
- Como diferenciar o Joio do Trigo?
- Como sei se o outro está andando em pecado ou em conformidade com a Lei?
- Como sei se sou santo?
- Como sei se meu caráter está perfeito?
- Reproduzi o caráter de Cristo em minha vida?
A ansiedade se torna tamanha, e a "?" é tão forte e visível em suas mentes. Que a única coisa que consegue lhes sustentar é confessarem para si mesmo infinitas vezes: "Isto sim é perfeição cristão. Eu estou sendo perfeito.", "Ainda não sou perfeito. Mas estou no caminho. To chegando lá. Uma hora chego.", e para isto, tem que ficar sempre se confirmando "Esta teologia é verdadeira. Eu estou certo. 'Eles' estão errados. Estou cooperando com Deus para que através da graça de Jesus e das minhas boas obras que Ele está promovendo através de mim, eu serei salvo.", "Eu sim. Eles não.", Eu estou certo. Eles errado."
Com o tempo, isto vai se tornando tão estressante e desgastante, que a coisa muda de categoria. O perfeccionista começa a dizer a si mesmo: "Isto só pode estar certo. Tem que estar certo.", "Não é possível que estou me sacrificando tanto a toa. Não. Deus há de compensar. De aceitar meu esforço.". O tempo continua passando, e a pessoa chega num dos piores níveis, ela não tolerá que ninguém ouse questionar o que ela está fazendo e vivendo. As respostas e explicações passam a ser cada vez mais curtas, diretas, até mesmo 'ríspidas', intolerantes. Passam a acusar 'os outros'. Ou seja, precisam provar para si mesmo que a outra religião é que está errada, que a crença dos outros é que está errada. Que os outros é que estão no caminho errado. Que a igreja dos outros é que 'adulterou', se desviou. Passa a quase que conviver tão somente com pessoas ou linha de pessoas com a mesma crença... só aceita conversar com elas... se encorajam a acreditar que estão fazendo a coisa certa. Precisam insistir tanto, de modo que temas perfeccionistas como: 'caráter perfeito', 'natureza pecaminosa', 'natureza de Jesus', 'vencer pecados', 'impecabilidade', 'tenho que estar assim e assado para ser salvo', 'texto 1', 'texto 2' e texto 3'.... passam a ser quase que 99% do que eles falam, do que pensam, do que falam e refalam para os outros. É quase que um teclado de 1 tecla só. Sendo que a Bíblia e o Espirito de Profecia, numa simples contabilidade, não desprende nem 10% nestes temas.. que por vezes ficam quase esquecidos.
Uma Norma Ainda Mais Elevada de Perfeição
Eu tive uma grande surpresa quando reparei que o que os perfeccionistas modernas alegam é uma norma muito baixa de perfeição. Diferente de algumas outras teologias passadas, eles adaptaram ao perceber que 'algumas coisas' não dá para vencer. Então fizeram uma separação, de modo que quase que dizem: "O que, aqui e agora, eu consigo mentalmente dizer com 100% de confiança: isso é errado e não vou fazer." Então isto sim é a perfeição que me cabe. O resto é resto. O resto é "natureza pecaminosa", é algo sobre qual não tenho controle, não tenho o que pensar, decidir, escolher, discernir, então não me cabe responsabilidade nem culpa alguma. Me pareceu muito 'conveniente'.
Além disso, muitos deles buscaram se isolar socialmente de alguma maneira. Alguns até mesmo foram para um campo, por motivos estranhos, pois parece que buscam 'distanciamento social', 'das pessoas e mundo caido', ou buscando algum tipo de alienação. Para que, assim, sejam cada vez o minimo afetadas possíveis pelas variáveis exteriores; e possam controlar cada vez mais seu 'pequeno conjunto de parâmetros' e coisas. Com uma preocupação primária de que "Assim é possível aperfeiçoar mais meu caráter. É quase impossível naquela loucura urbana, com um monte de gente interferindo e trazendo problemas novos o tempo todo." [quase que escapa uma declaração contraditória a ideia que podem ser perfeitos tanto no meio da Praça da Sé no rush, quanto no meio dos pinguins da Geórgia.
É muito estranho. Este tipo de isolamento, parece produzir efeitos de narcisismo, de algum tipo de centrismo tão forte em si mesmo. Uma preocupação tão intensa na própria vida, na própria salvação, que me soa muito estranho.
A concepção de caráter perfeito como um conjunto minimizado de restrições e obrigações voltadas para 'promoção' (em algum aspecto) da própria salvação me parece uma ideia muito 'pequena'. Quando vejo os heróis da fé, na Bíblia, em Hebreus 11, vejo um contraste. Vejo acima de tudo, bravura. Pessoas não fugindo da luta. Não focadas em si. Não temendo se vão ou não pecar. Mas foram pessoas que foram lá e fizeram. No meu ver, as maiores características de caráter perfeito claramente indicados na Bíblia, não são as restrições, proibições, os 'não's... , e, mais longe de tudo, a ideia de 'não pequei hoje'. Antes, são as palavras do próprio Jesus que diz:
- "Nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros" João 13:35
- "Não existe maior amor do que este: de alguém dar a própria vida por causa dos seus amigos." João 15:13
E veja o que Moisés disse:
- "Agora, pois, perdoa o seu pecado; se não, risca-me, peço-te, do teu livro, que tens escrito." Êxodo 32:32
Uma coisa é um crente, cristão, dar a vida para salvar um amigo ímpio, pensando, ou com fé que mesmo morrendo agora, ressuscitará ainda para a vida eterna junto deste amigo, quem sabe. Outra coisa é o que Moisés fez. Moisés explicitamente rogou e pediu para Deus que trocasse a sua vida eterna para que aquele povo ímpio e idólatra sobrevivesse.
Podem me dizer o que for. Esta para mim é a maior norma de perfeição que eu conheço em toda as Escrituras. É quando tiramos os olhos do 'eu'. No se 'eu' sei se estou salvo ou perfeito ou não. Se serei salvo ou se estarei entre os salvos. É tirar os olhos em querer saber distinguir quem serão os que não escolherão a vida eterna. É esquecer totalmente desta história de justiça própria, impecabilidade, se ainda tenho ou não algum pecado. Ou qualquer tipo de pensamento e preocupação legalista/farisaica, pensando nas minhas ações e no meu estado e situação no cartório. É literalmente esquecer do 'eu' e deixar de me preocupar com ele. É o tanto faz se serei ou não salvo. Sim, sobretudo, é ter um coração profundamente apaixonado pelo próximo, olhando para Cristo, fazendo de tudo para salvá-los... oferecendo até a própria vida eterna se for possível no lugar. Independente se o outro acredita ou não, ou se o outro faz coisas que abomino. Eu, particularmente, vejo como o maior exemplo e lição, na Palavra de Deus, de perfeição de caráter, do caráter de Cristo, nesta passagem de Êxodo 32:32. É a plena misericórdia pelo próximo. O 'eu' (inclusive o 'meu caráter')... espero nem pensar nessas palavras.
Pense nisso.
Pense profundamente nisso.
O Oposto do Caráter Perfeito
Quando descobri que não há uma única doutrina sobre perfeição de caráter, percebi que não poderia me basear única no livro do Priebe para entender o que pensam. E sai perguntando para todas as pessoas que conheço que compartilham deste tipo de pensamento. E fui perguntando e perguntando. A fim de entender profundamente o que pensam.
Bem, para a minha surpresa, alguns deles ficaram irritados de eu fazer tantas perguntas. Sobretudo as perguntas de como eles lidavam com as implicações de suas afirmações [talvez porque não pensaram até eu ter perguntado].
Um certo rapaz, no meio das perguntas, disse em certo momento [sem eu ter falado nada sobre isso]: "Se não existe perfeição de caráter, como poderei distinguir que serão os falsos crentes que irão sofrer a morte eterna e os salvos?" [Repare no tipo de preocupação que saiu espontaneamente da boca. E afirmo que não estava no contexto da conversa.]
Daí eu respondi com o texto de João 13:35 e colocando que no meu ver, uma pessoa com tal caráter perfeito não irá se preocupar primeiramente se será salva ou não. Não vai dar muita bola para isso. Mas antes se preocupará mais com que o outro, o próximo seja salvo. Nem que isto custe a própria salvação. Em seguida, tal respondeu que para ele não fazia o menor sentido isto. Não faz sentido uma pessoa querer deixar de ser salva. [Pense nisso.] Após, lembrei-o deste caso de Moisés. Ele não mais se manifestou a respeito e apagou sua resposta anterior.
Em outro momento, durante as centenas de perguntas. A pessoa quase fez uma afirmação escancarada de legalismo. Então apenas fiz uma pergunta para entender mais precisamente a resposta dele. Bem, e não respondeu mais [talvez percebeu que não saberia responder sem usar de ideias legalista.] E, outra pessoa, que devia estar acompanhando a conversa, solta, do nada, um texto 'agressivo', 'impaciente' e 'acusador' a minha pessoa - implicitamente. Afirmo que em nenhum momento disse que eles estavam errados. Apenas questionava e pergunta sobre o que eles diziam. [Ok, um pouco de método socrático.] Veja:
Não estou aqui para acusá-los, muito menos expô-los (até censurei a id), não disse nem digo a que movimento pertencem; apenas digo que são dissidentes adventistas do sétimo dia, na linha de frente da propagação de ideais perfeccionistas pela internet e de combate aos pré-lapsarianos e adventistas institucionais.
Coloco isto para o leitor meditar e pensar. Tire as próprias conclusões. Questione-se a si mesmo. Eu gosto de fazer perguntas, recomendo que também faça perguntas sinceras para si e suas crenças. E espero que possa ter entendido um pouco mais sobre o que é, e o que não é caráter perfeito. E recomendo buscar, sobretudo na Bíblia, as respostas.
Sei que todos argumentos são insuficientes; pois depende da disposição do leitor. Se posso dar um conselho: Sai dessa. Tente ver o outro lado da moeda e depois compare.
Abra a sua Bíblia, deixe um pouco os livros de Ellen G. White de lado; faça uma profunda avaliação de si, dessas crenças, se se sustentam na Palavra, e nos frutos que estão sendo produzidos na vida dos outros e no seu amor e ação pelos 'ímpios'.
Leia os artigos abaixo. São excelentes!
Abraços.
Indicações Extras (Artigos de alto nível)
Próximos estudos:
- Introdução: Uma História; [Ver]
- A Natureza Pecaminosa [Ver];
- Caráter perfeito [Este];
- impecabilidade do homem [Ver];
- perfeição plena antes do fechamento da Porta da Graça;
- definições de palavras/ideias (pecado, dentre outros);
- Ellen G. White e os 'outros textos esquecidos' sobre isso;
- natureza e vida de Jesus;
- >> Caso Encerrado [Ver].
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