07 junho 2013

Saber = Morrer

Nós só pensamos quando temos um problema.
Só nos movimentamos quando somos incomodados.
Só construímos e crescemos quando não nos acomodamos.
Exemplo: Pensar no caminho
Se você sempre foi levada por seus pais de carro para todos os lugares, ou pegou taxi, ou motorista particular. Certamente não prestou muita atenção nos caminhos, alternativas e rotas. Nunca se preocupou com isso. E provavelmente se tiver que guiar alguém ou a você mesmo se um dia precisar, irá se perder ou não saber por onde ir.
Se você é um motorista, e sempre pega o mesmo caminho, por 10 anos indo e voltando do trabalho, passando pela mesma avenida, estrada, ruas. Em algum momento irá se tocar que você nem ‘pensa’ mais no que está fazendo, o caminho que faz. Como um instinto sabe onde está cada buraco e desvia deles de olhos fechados. Sabe o tempo de cada farol sem perceber, sabe inclusive qual estará fechado. Consegue até fazer outras coisas tranquilamente enquanto dirige, pode até dormir no volante, que opa!, quando acorda tá em casa.
Mas se um dia, naquela estrada, há uma barreira policial. Uma Blitz. Instantaneamente acende em você a chama. A curiosidade, o pensamento.
- Quando foi a última vez que bebi? – diz a si mesmo.
Começa a se preocupar, pensar, mobilizar seus neurônios buscando entender o problema, as implicações, as alternativas.
Se o guarda te para, em poucos segundos já pensou se há alguma irregularidade com o carro, as multas não pagas, os pontos na carteira. Aliás, está vencida? E se te levarem para a delegacia? Que horas vai chegar em casa...
E daí, precisa sair por uma rua diferente dali, e um fogo consome seus pensamentos racionalizando varias ideias e hipóteses tentando imaginar qual é o caminho, o melhor caminho, a direção que deve seguir e etc.
A vida é assim. As pessoas são assim.
Infelizmente empacam.
“Ah eu SEI o que quero.”
“Eu acredito nisso.”
“É assim, porque é assim e ponto final.”
Consideramos que já “sabemos” de alguma coisa, e com isso morremos.
Quando dizemos que sabemos de algo, morremos.
Saber é morrer.
Saber é parar, é estagnar, é não andar, é não questionar, é atrofiar...
Corremos o risco de nos acomodar no nosso estilo de vida, trabalho, crenças,
E com isso, morrermos.
De certo modo, este é o grande tédio da vida: morrer nossos pensamentos.
Você pode viajar por todo mundo, porém morto.
Do mesmo modo, pode passar 40 anos na prisão, porém vivo.
Salomão diria:
“Aquele que não continua a aprender, esquece o que já sabe.”
Sócrates diria:
Aquele que sabe alguma coisa, não sabe nada. Aquele que não sabe nada, sabe alguma coisa.
Não saber é viver. Pois enquanto não sabe está ali lutando, indo atrás, movendo a mente, a razão, tentando descobrir e entender.
E o mais intrigante. É que na vida muito dificilmente, talvez nunca, encontraremos respostas, algo positivo digamos, iremos saber ‘o que é’. Mas por outro lado, encontraremos muitas negações. Iremos descobrir ‘o que não é’.
Nunca descobriremos o que é a verdade, o bem, a justiça, o amor, a confiança, a amizade, a família.
Mas a cada vez que exercitamos mais o logos, mais iremos saber o que elas não são. Vamos refinando. E desta forma, por muito não saber o que é, temos alguma noção ou direção do que viria a ser.
Devemos ser a Mosca
Sócrates equipara as pessoas, a sociedade como a um cavalo. Um cavalo que poderia ser rápido, correr, se exercitar, se tornar forte, saudável, inteligente.
Mas ele é por vezes devagar, burro, empacado.
Daí vem a mosca. Ela fica zumzunando no ouvido. O perturba, o pica. E assim, o cavalo começa a andar, a se mexer, nem que seja para fugir daquela mosca.
Esse foi o papel de Sócrates.
Foi uma mosca na sociedade, por décadas.
Elas não aguentaram aquela ‘mosca infernal’ que não parava de zuzunar e o mataram. Mataram a mosca.
Interessante que se realmente temos algum real interesse por nós e pelas pessoas, pela Verdade. Seremos como moscas.
Devemos ser uma mosca com nós mesmos.
E uma mosca com os outros.
Todavia,
Estarmos preparados.
As pessoas odeiam moscas.
Elas as matam.
Um tributo a Sócrates. Que de muito zunzunar... morreu... mas direcionou e tornou o mundo como o é, inclusive como pensamos, sempre com um senso de que há e devemos seguir uma verdade. Só não sabemos muito bem o que é.

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