27 dezembro 2012

Observação e Interpretação

Poucas leituras me influenciaram tanto quanto a obra "Observação e Interpretação" do grande pensador Norwood Russell Hanson, mais conhecido por Hanson. Nelo nos deparamos como um impactante questionamento que nos tira o sono de modo que somos - sem saída - ter que concordar com ele:

"Existe olhar antes de intepretar?"

Em outras palavras: "Existe observação antes da interpretação?" Isto pode parecer algo como falar de coisas sem importância. Todavia, isto importa TUDO; pois afeta todo o ser humano e nossa compreensão, na perspectiva tanto na CAUSA quanto no EFEITO.

Isto fica mais claro quando olhamos exemplos mais exagerados. Como por exemplo, uma criança de 2 anos e um PhD em Ótica, ambos juntos, no mesmo lugar, na mesma situação, observação uma mesma coisa. No caso estão olhando para um instrumento que solta vários pulsos de feixe de lazer em alguns espelhos que muda sua direção. Bem, é certo que ambos, tanto o cientista quanto a criança estarão observando o mesmo fenômeno físico, mas certamente o bebe não terá a menor noção de que aquilo é um espelho, das propriedades físicas do espelho, do lazer. Possivelmente, para a jovem criança, apenas se tratará de alguma coisa colorida particular que lhe chame a atenção. Enquanto que para o físico  apenas de observar todo o aparato era elaborar muitas questões que nem imaginamos serem possíveis de se pensar. Questões por exemplo, da polidez da superfície do espelho; que tipo de espelho, se é plano, concavo ou convexo, irá pensar sobre a máquina que gerou o lazer, a potencia dela, e nível de pureza do lazer, a velocidade, diversas condições, além disso, apenas de olhar o aparato, irá automaticamente, o alinhamento das partículas  de forma subjetiva, começar a raciocinar e tentar deduzir qual o propósito do experimento, o que este está tentando testar ou demonstrar.

Como se pode ver, não se trata apenas de 2 interpretações diferentes, mas, sobretudo de 2 observações diferentes, de um objeto apenas (físico, estrutural, metafisico e transcendentalmente falando); mas que semanticamente, se trata de 2 objetos diferentes.

Exemplo mais claro disso é o desenho no inicio desse texto. Você poderia me dizer do que se trata tal imagem? Muitos irão olhar primeiro e dirão: "Um coelho"; outros já dirão: "Um pato". Pouco tempo depois, instantes depois, talvez a pessoa irá reconhecer os dois. Ao mesmo tempo, que haverá algumas poucas pessoas que podem acreditar, ter a mais pura fé, de que se trata de uma imagem ambígua  mas por mais que se esforcem, seu sistema nervoso não consegue interpretar a segunda imagem, ou melhor dizendo, NÃO CONSEGUE OBSERVAR o segundo objeto da mesma imagem.

Não vou me estender neste assunto que renderiam boas páginas e livros. Mas aqui destaco 3 coisas:

1. Como que fica as grandes questões tão importantes, na nossa vida, não só coisas produzidas pela ciência, mas por coisas filosóficas ou mesmo religiosas? É extremamente comum vermos pessoas fazendo comentários totalmente absurdos a respeito de pessoas religiosas; por outro lado, do mesmo modo, pessoas religiosas fazendo comentários totalmente absurdos de pessoas não-religiosas - ou sobre crenças distintas. Comparando, ao exemplo anterior, é o bebe querendo criticar as observações do PhD. E quantas vezes nestas discussões, há coisas teológicas envolvidas quais a mera pronuncia como "justificação pela fé", para o PhD é como observar detalhadamente o espelho, e todas as suas características  enquanto que para o outro, não tenha significado algum? Ou seja, muitas vezes, buscamos dialogar/discutir com as pessoas sobre crenças, e usamos de 'imagens' quais apesar de nós termos a capacidade de observá-las, o outro, provavelmente não terá, e o mais certo, ele não verá como nós vemos.



2. Reconhecer este fato imediatamente nos faz ter mais cuidado e atenção quanto a lidar com pessoas, seja no ponto de vista delas, seja no ensino. Exemplo, um professor ao ensinar requer que o aluno reproduza características que este esperaria 'poder observar'. E etc. Este é um ponto crucial em questão a ter paciência com as pessoas, inclusive paciência com nós mesmos. Ninguem nasce Onisciente como Deus, e ninguem nunca será. Com o tempo vamos apreendendo, com o tempo, vamos apreendendo a observar e apreendendo a observar. Observe a figura ao lado. Qual imagem você vê? É comum nesta imagem, a maioria das pessoas verem a garota jovem e ao mesmo tempo possuem dificuldade de ver a velha, já os que observam a velha, ou após conseguirem observar a velha, passam a ter uma tendencia natural a sempre verem a velha e terem que fazer um certo 'esforço' para verem a moça. Ou seja, temos que ter paciência com as pessoas, e sempre buscar novas maneiras de mostrar-lhes sentido, fazê-los conseguir observar o que vemos e nós o que eles vêem. Isto pode exigir muitos testes, não foi inventado/descoberto nenhuma regra universal até hoje de metodologia - Platão dizia que não existia. -. Ou seja, pode demorar muito tempo e os resultados nunca serem os esperados. Mas ao mesmo tempo, temos que ter humildade e reconhecer que estamos na mesma situação, pois para diversas coisas não temos a observação, interpretação e compreensão que outros possuem, e estamos no mesmo caminho de cada vez descobrir, poder ver melhor a verdade; o que não podemos, é desistir, e parar no meio do caminho. Pois temos, um mundo infinito para se ver a nossa frente, e quando deixamos de apreender, deixamos de ver, estamos dizendo adeus para coisas que nunca vimos, sentimentos que nunca sentimos, sons que nunca ouvimos, idéias quais ainda não se inventaram palavras para descrever. Eis o mundo das idéias, mundo das palavras que está ali, trancado, e a cada dia nos perguntando "Trouxeste a chave?", mas para cada dia, apenas conseguimos obter 1 palavra diferente.


3. Reaprender. Há alguma música, algum livro, alguma conversa, história, lugar, que você sempre gosta de re-experimentar? Diga-me, quantas vezes teve impressões diferentes, observações diferentes, conseguiu verificar algo que antes não percebia? Ou melhor ainda dizendo, já teve a impressão de sempre que lia o livro, se tratava de um livro novo? Segundo Hanson, é um sistema cíclico  quais nossos sentidos vão interagindo com os objetos, as coisas sensíveis, vamos a cada passo a cada nova capacidade de interpretar, observando novas coisas, e a partir de tais, vão se gerando juízos, razões, interpretações, conceitos, e estes, por si, formam de 'base', 'suporte', um 'novo alicerce', um 'óculos' com qual podemos fazer novas observações, mesmo que da mesma coisa/figura/objeto. Se não está convencido disso, olhe as imagens ao lado. Talvez, você mesmo julgue "imagens matemáticas", "figuras geométricas". Bem, observe o quanto de 'interpretação, de base' já não está carregado este julgamento?! Agora, faça a experiencia de de mostrar tais imagens para diversas pessoas, de todas as idades, de todos os níveis de escolaridade, e diga para elas anotar num papel como elas descrevem tais. Pergunte para pessoas que nunca teve aula de matemática na vida. E depois compare as respostas, irá se surpreender. Com o tempo, com nossas experiencias, com nossas observações, com nossas interpretações, com os nossos estudos, cursos, e etc, tudo o que já se passou por nossa mente, nos dá uma visão (um 'óculos' - digamos assim) estritamente ÚNICO, seja o que vemos, seja o que interpretamos. Mas isto não para, ou melhor dizendo, não deveria parar. Mas com o tempo tudo vai se alterando, nossas capacidades vão ou melhorando, acurando, ou deteriorando e atrofiando (se não a praticamos - como já dizia Salomão: "Aquele que para de apreender, esquece o que já sabe.", algum verso do livro de Provérbios). Por fim, com o tempo, releia os livros, refaça seus caminhos, reouça as suas músicas, reanalise a sua filosofia de vida, aquilo que você crê, estude novamente as crenças da sua religião, reveja os amigos, reveja os lugares... e assim, cada vez mais sua mente irá se expandir e conhecer cada vez um Universo mais amplo de imagens e idéias quais nunca sonhou existirem. Por outro lado, cuidado, cuidado para não EMPACAR, e deixar de progredir, pois o mesmo, é regredir. É comum as vezes se deparar com pessoas que dizem 'ah! Já li esse livro!" ou até mesmo entre cristãos "já li esse verso ou história da Bíblia", como que isso fosse uma 'desculpa' para não reler. Todavia, os que estão sempre apreendendo, vendo novos horizontes, novas idéias, novas imagens, estão sempre relendo, se associando ao próximo em busca de compreensão e tentar compreender, e cada vez é como uma experiência inédita, novas observações, novas interpretações. Cuidado para não se sedentarizar naquilo que te ensinaram até terminar a sua faculdade, ou em outras áreas do saber e da vida. Busque desenvolver todas as faculdades físicas e mentais ao máximo.


Extra
Gostamos daquilo que conhecemos. Não digo que gostamos de bosta de carneiro se conhecemos bem isso. Mas gostamos do conhecimento. Gostamos daquilo que conseguimos ver. GOSTAMOS DE RECONHECER QUE VEMOS! E sobretudo, GOSTAMOS DE RECONHECER QUE AGORA ENXERGAMOS ALGO QUE ANTES NÃO ENXERGÁVAMOS.

Um exemplo muito claro disso para mim foi na música. Quando entrei no Coral nos meus 16 anos, a pessoa que nos ensaiava batia uma nota no piano, cantava uma silaba... a fim que reproduzíssemos vocalmente. Mas aquilo não significava nada para mim. Não compreendia aquele som. Não conseguia vê-lo. Muito menos, reproduzir com a minha voz. Pois era como desenhar às cegas. Mas com o tempo, pegava isto facilmente, inclusive conseguia reparar alturas de notas diferentes numa harmonia. Passou o tempo e com 21 anos, apreendi a ler partitura! Como é maravilhoso quando nos tornamos alfabetizados na música, poder ler música! É como um novo mundo diferente do de saber ler um idioma. Depois de alguns anos, apenas de ouvir uma música, eu conseguia identificar a  "fórmula de compasso" (aliás, você repara que a maaaaaaioria das músicas são 4/4) apenas de ouvido; músicas que antes ouvia, mas nem imaginava. Depois, comecei a reparar mais no timbre dos instrumentos. Há mais de 6 anos toco trompete, e hoje basta ouvir uma música que consigo saber se há ali um trompete no meio, mesmo que fazendo um ppp, ou ainda, ter uma noção do tipo de instrumento que está usando, a afinação do instrumento, ou de numeração de bocal, ou da articulação na língua usada pelo tocador, ou notas que ele errou, ou engasgou. Já a mesma capacidade de observar, eu já não tenho para um oboé.

E como eu disse, quando mais conhecemos, mais nossa visão se expande, mais gostamos de enxergar e de reconhecer que vemos, logo, com isto, MUITO MAIS NÓS REPARAMOS. Daí surgem os famosos 'críticos' (não as pessoas malvadas), mas aqueles que se tornam referências na análise de livros, de uma história, de detalhes de um filme, de trilha sonora, de áudio  um especialista. Um especialista é um critico (alias fazemos faculdade para nos tornarmos um) e que acima de tudo sabe criticar a própria obra. Uma pessoa que é dentista há 30 anos, com certeza, toda vez que vê alguém tem uma tendencia e DESEJO de olhar e reparar nos dentes das pessoas e automaticamente tira várias conclusões e julgamentos: se está com tártaro  ou se está bem alinhado os dentes, a coloração, a gengiva etc. Um cirurgião bucomaxilo-facial certamente quando olha uma pessoa repara no seu rosto, na estrutura óssea  no queixo se possui prognatismo ou astigmatismo (eu que fui um paciente, me envolvi tanto com isso, que eu mesmo reparo isso em todos, e alguns até deduzo que provavelmente precisa de um tratamento cirúrgico , se tem assimetria facial, se o céu da boca é fechado etc. E assim vai... da mesma maneira um psicologo ao olhar para uma pessoa, deve reparar no estado emocional dela e já pensando os possíveis traumas que teve na vida e possíveis tratamentos, ou palavras para lhe dizer. Se você repara em muitas coisas, e cada vez repara mais! Isto é uma boa notícia. Mas não pare por aí. Agora se você não repara em quase nada, ou sempre a mesma coisa, cuidado, provavelmente está empacado e atrofiando. Mais perigoso ainda, é quando você se sente tão incapacidade de propor e reparar algo, que a única coisa que consegue é ser um 'passivo' e, normalmente, estes, acabam sendo fantoches da TV, cinema, vídeos, músicas, que apenas veem o que outros decidiram o que ele tem que ver, e pensa apenas o que estes lhe disseram para pensar. Mas possuem medo da palavra analisar, tirar as próprias conclusões, de tão atrofiadas que estão nisso.

Por fim, lembro-vos que quando se trata da capacidade de observação e interpretação do caráter, do coração, das intenções; nada equivale ao estudo da Palavra de Deus:

"Porque a palavra de Deus é viva e eficaz, e mais penetrante do que espada alguma de dois gumes, e penetra até à divisão da alma e do espírito, e das juntas e medulas, e é apta para discernir os pensamentos e intenções do coração." Hebreus 4:12




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