13 março 2016

Livro: O Capital (Análise)

Karl Marx, no século XIX, estava dentro de um contexto K social, político e econômico, possuía um conjunto R de dados. E a partir de tais, escreveu um dos seus 'tratados' mais famosos da história, o famoso O Capital. Bem, como seria se, quase 200 anos depois, Karl Marx, fosse rescrever seu livro, com o contexto K2, com um conjunto R2 de dados (além de computadores, Google, Estatística) para fazer suas análises e, um dos pontos mais interessantes: saber o que ocorreu após sua obra, reconhecendo que sua teoria fracassou sobre o colapso iminente do capitalismo.

Thomas Piketty, economista francês escreveu seu trabalho num best-seller que aparenta ser uma 'nova visão', 'atualização', dos passos iniciais dados por Marx. E que pretende manter a mesma linha de pensamento no grosso, mas com algumas 'adaptações', novos estudos de casos e abordagens que fazem o leitor refletir sobre algumas correlações interessantes e não casuais.

Bem, logo na introdução do livro (~40 páginas), Piketty deixa bem claro o que o leitor irá se deparar no decorrer da obra. Além disso, ele deixa por expresso que sua visão sobre a Economia, sobre o Capital, dentre outros, é uma visão 'a la francesa' (e que os economistas franceses estão em uma crise de irrelevância no mundo) e que ele não adere, antes, desconsidera, e despreza claramente o trabalho de outros (especialmente dos economistas norte-americanos). Como não dá credibilidade as ideias mais liberais.

Em grande resumo. O autor faz um grande enfoque de que 'o grande problema' a ser enfrentado é a Distribuição Desigual de riquezas. E minimaliza a ideia do Capital (como exclui o 'capital humano') o e do crescimento econômico, fazendo algumas relações bem simplistas, mas muito lúdicas. Além disso, sua principal métrica para mensurar a riqueza são dados obtidos por declarações de Imposto de Renda. Seu trabalho, estuda, especialmente, alguns poucos países (menos que 1 dúzia) - as principais economias do mundo.

A sua premissa de Ideal Justo encontra-se no subtitulo "O quadro teórico e conceitual", em sua Introdução: "Não me interessa denunciar a desigualdade ou o capitalismo enquanto tal - sobretudo porque a desigualdade social não é um problema em si, desde que se justifique, desde que seja "fundada na utilidade comum", como proclama o artigo primeiro da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão e 1789. ... O que me interessa é contribuir, pouco importa quão modestamente, para o debate sobre a organização social, as instituições e as políticas públicas que ajudam a promover uma sociedade mais justa. Para mim, isso só tem validade se alcançado no contexto do estado de direito, com regras conhecidas e aplicáveis a todos e que possam ser debatidas de maneira democrática." (p. 37)

O livro é recheado de exemplos e análises - muitas delas são muito interessantes e nos fazem de fato repensar sobre muitos processos que ocorrem no mundo, além de gráficos bem didáticos e pertinentes. Porém, que, infelizmente, para uma obra deste cunho, é fraquíssimo em abordar outras medidas e instrumentos em análise, como taxa de juros e inflação. O que nos impede de ter uma visão mais aprofundada do que os números de fato significam. De modo que, a única variável que fica mais embasa de análise é a questão das maiores concentrações. Porém, o livro foge da matemática, da estatística e de estudos mais profundos.

Por fim, a grande proposta do autor para melhorar o quadro mundial é a taxação de grandes fortunas, heranças e ganhos sobre capital. Até mesmo a implementação de um imposto mundial sobre as maiores fortunas. Porém, o próprio autor, evita de tratar sobre a destinação destes recursos (provavelmente o Estado) e de falar do Estado como uma máquina de concentração de riquezas. A visão sobre a produção/produtividade/meritocracia/propriedade privada, também é simplória (se presume, nas entrelinhas, que é uma questão secundária desprezível).

A grande conclusão pertinente que podemos tirar do livro é um claro sinalizador da gravidade do Acumulo de Riquezas e da Desigualdade Social em níveis alarmantes. E que, sim, precisamos pensar muito sobre isso e em como buscar melhorar este quadro.

Porém, é um livro que não agrada nem as linhas de pensamentos mais clássicas, (tachadas de 'capitalistas'), liberais e produtivas; tampouco, as linhas de pensamento mais comunistas e socialistas. Para os primeiros, este é um livro não dos mais relevantes. Para os segundos, comunistas ainda presos aos pensamentos, dados e pressupostos do Século XIX, é um livro quase que herege por contradizer Marx e até mesmo falar que ele errou; além do livro não demonstrar depositar suas fichas numa igualdade de distribuição de renda, nem do controle completo do Capital pelo Estado (a Máquina Pública). Além do livro fugir e recorrer para outras análises mais profundas sobre as questões que impactam a Economia e a Distribuição de Rendas do que meramente ao confronto/choque entre capital x trabalho (burgueses x proletário).


É uma obra, no meu ver, mais curiosa do que interessante. Ela não nos ensina muito sobre os pensamentos de Marx em sua obra original, nem muito sobre o comunismo mais moderno. Tampouco nos ensina para o outro lado. Mas o livro tenta fazer uma outra abordagem tentando focar o que o autor considera o coração do problema.


A obra Por que as nações fracassam é uma obra mais pertinente e abrangente. Pois, o que para Piketty é o cerne do problema, para Daron Acemoglu & James Robinson é uma entre as consequências de algo mais profundo. Porém, ambos ainda apostam suas fichas na Política.
Infelizmente, ambos best-sellers são pobres filosófica-teologicamente.

Dica: O livro 'A Revolta dos Injustiçados - Eustáquio & Tratado Sobre Envolvimento Cristão na Política' é uma obra complementar muito boa por abordar um outro aspecto totalmente desprezado pelos autores, que é a questão da luta que ocorre na mente do homem em seguir x desprezar um Ideal Máximo (o que envolve claramente um embate filosófico e religioso) .

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