07 maio 2014

Somos os mais fracos humanos que já habitaram a Terra

Como classe, somos os seres humanos mais fracos que já andaram no planeta. De acordo com uma nova pesquisa da Universidade de Cambridge (Reino Unido), a tecnologia pode ser a responsável por nos tornar mais lentos e fracos que todos os nossos antepassados.

Muitos aborígines australianos pré-históricos poderiam ultrapassar o recordista mundial Usain Bolt, nas condições atuais. Alguns tutsis, povo da Ruanda, já superaram o recorde mundial de salto em altura de 2,45 metros durante cerimônias de iniciação nas quais eles tinham que saltar pelo menos a sua própria altura para avançar para a idade adulta. Qualquer mulher Neandertal poderia ter ganhado uma queda de braço contra Arnold Schwarzenegger.

Por que somos tão fracos?
Segundo a pesquisadora Alison Macintosh, a evolução provocou mudanças na divisão do trabalho e na organização socioeconômica. Conforme homens e mulheres começaram a se especializar em determinadas tarefas e atividades, como o trabalho com metal e cerâmica, a produção agrícola e a criação de gado, isso afetou a mobilidade e força dos humanos modernos.

A pesquisa

Macintosh monitorou as alterações na estrutura óssea ao longo do tempo em esqueletos encontrados em cemitérios na Europa Central. O mais antigo datava de 5.300 aC e o mais recente de 850 dC.
A sua equipe chegou à conclusão de que os humanos modernos mostram um declínio na “mobilidade e resistência”, especialmente os homens.
A cientista descobriu que a mobilidade dos primeiros agricultores – 7.300 anos atrás – estava a nível de estudantes que são corredores profissionais hoje. Em pouco mais de três mil anos, nossa mobilidade foi reduzida para o nível de estudantes classificados como sedentários.
A teoria para explicar isso é que, com o tempo, nossos ossos da perna mudaram devido à atividade menos intensa.
“Ambos os sexos apresentaram uma queda em ântero-posterior, uma queda de fortalecimento do fêmur e da tíbia através do tempo, enquanto que a capacidade das tíbias masculinas de resistir à flexão, torção, compressão e caiu também”, disse Macintosh.
Ela acrescentou que, conforme os seres humanos fizeram a transição para a agricultura na Europa Central, a necessidade de viagens de longa distância e do trabalho físico pesado diminuiu. “À medida que as pessoas começaram a se especializar em outras tarefas, poucas estavam fazendo regularmente atividades que eram muito extenuantes para suas pernas”, afirma.
Os ossos das pernas das mulheres mostraram alguma evidência de mobilidade em declínio, mas essas tendências eram “inconsistentes”.
Ela acha que a variação pode ser devido ao fato de que as mulheres têm realizado mais “multitarefas” ao longo do tempo. Macintosh disse que havia evidência em dois dos mais antigos esqueletos femininos usados para análise de que elas realizaram tarefas com os dentes, o que significa que podem não ter feito trabalhos que requeriam ossos da perna mais fortes.

Perda explicável

De acordo com o Macintosh, os ossos são extremamente plásticos e respondem com uma rapidez surpreendente a mudanças.
Quando estão sob estresse, como longas caminhadas ou corridas, os ossos se tornam mais fortes, e fibras são adicionadas ou redistribuídas onde são mais precisas.
Macintosh afirma que, na Europa Central, a tecnologia e o aumento da especialização teve um grande impacto na nossa força nas pernas. “À medida que mais e mais pessoas começaram a fazer uma ampla variedade de atividades, menos pessoas precisaram ser altamente móveis, e com a inovação tecnológica, as tarefas fisicamente extenuantes foram provavelmente facilitadas”, disse. “O resultado global é uma redução na mobilidade da população como um todo, acompanhada por uma redução na força dos ossos dos membros inferiores”.

Os incríveis humanos do passado

Um novo livro, “Manthropology: The Science of the Inadequate Modern Male” (algo como “Homemtropologia: A Ciência do Inadequado Humano Moderno”, em tradução livre), escrito pelo antropólogo australiano Peter McAllister, concorda bastante com a pesquisa de Macintosh.
Na obra, McAllister fala sobre estudos que chegaram a conclusões sobre a velocidade de aborígines australianos 20.000 anos atrás, baseadas em um conjunto de pegadas de seis homens perseguindo uma presa. Uma análise levou os cientistas a estimar que os aborígenes corriam a uma velocidade de 37 quilômetros por hora por um lago lamacento. Bolt, por comparação, atingiu uma velocidade máxima de 42 quilômetros por hora durante seu recorde no 100 metros na Olimpíada de Pequim.
McAllister afirma que, com treinamento e sapatos modernos em uma faixa de corrida, os caçadores aborígines poderiam ter alcançado velocidades de 45 quilômetros por hora. “Se eles podem fazer 37 quilômetros por hora em terreno muito macio, suspeito que há uma forte probabilidade de que eles teriam superado Usain Bolt se tivessem todas as vantagens que ele tem hoje”, diz.

Aliás, essa é só uma evidência de pegadas fossilizadas, do que poderiam nem mesmo ser os mais rápidos caçadores aborígenes da época.
Passando para o salto em altura, McAllister afirma no livro que fotografias tiradas por um antropólogo alemão mostram jovens africanos saltando alturas de até 2,52 metros nos primeiros anos do século passado.
“Era um ritual de iniciação, todo mundo tinha que fazer isso. Eles tinham que ser capazes de saltar a sua própria altura para avançar para a masculinidade”, conta. “Era algo que eles faziam o tempo todo e tinham vidas muito ativas a partir de uma idade muito precoce. Eles desenvolveram habilidades fenomenais no salto”.
Além disso, McAllister escreve que uma mulher Neandertal tinha 10% mais massa muscular do que o homem europeu moderno. Se treinada corretamente, ela teria alcançado 90% do volume de Schwarzenegger em seu auge na década de 1970. “Mas, por causa da peculiaridade de sua fisiologia, com um braço inferior muito mais curto, ela iria ganhar dele à mesa sem nenhum problema”, explica.
Muitos outros exemplos são dados no “Manthropology”. Por exemplo, legiões romanas completavam mais de uma maratona e meia por dia transportando mais de metade do seu peso em equipamentos, enquanto Atenas teve 30.000 remadores que podiam superar as conquistas de todos os remadores modernos.
McAllister apoia a mesma teoria de Macintosh sobre o declínio humano. “Nós simplesmente não somos mais expostos às mesmas cargas ou desafios que as pessoas no passado antigo e mesmo no passado recente eram expostas. Mesmo nossos atletas de elite não chegam perto de replicar isso. Estamos tão inativos desde a revolução industrial que realmente retrocedemos em robustez”. [Voanews, Independent]

Fonte: Hypescience

Nota: A suposta "evolução" do pensamento e habilidades do 'homem moderno', na verdade o está degradando: aumentando suas fraquezas e sua dependência das tecnologias. Algo a se pensar. [Evandro]

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