14 maio 2014

Os Filhos de Hurin, J. R. R. Tolkien

Os Filhos de Húrin é sem sombra de dúvidas um dos mais sombrios e trágicos livros que li em todos os tempos. Ao mesmo tempo, uma obra prima em termos de literatura.

Resumidamente, o livro conta sobre a Maldição de Morgoth sobre a familia de Húrin. Pois Húrin, um dos mais bravos e formidáveis homens, o enfrentou, de modo que foi o único ser, em eras, que conseguiu feri-lo, enfiando uma espada em seu pé, fazendo com que Morgoth ficasse manco pelo resto da existência sobre a forma humana. Além de enfrentá-lo em não se suceder a sua vontade, seu domonio, suas ofertas. Então Morgoth se enfureceu e lançou uma grande maldição sobre a familia de Húrin, e ao mesmo tempo, lançou um feitiço para que este ficasse no alto da montanha, petrificado, onde poderia contemplar tudo o que ocorreria sobre a terra-média, porém, sem poder se mover, expressar, e não morreria, até que fosse libertado do feitiço, para assim contemplar a conclusão da obra de Morgoth.

Daí, a história se foca em Turin, seu filho. Um homem bravo, muito forte. Que se tornou o mais formidável guerreiro. Ninguem era pareo para ele. E tinha o forte desejo de reencontrar sua mãe e filha e enfrentar Morgoth. E então, através dessa história, Tolkien explora diversas questões muito profundas, fortes e horripilantes para a causa humana.

Há poucos meses tive o privilégio de ler a fantástica obra Os Filhos de Húrin, obra de ilustre J. R. R. Tolkien. O livro - pertencente a saga do anel, a Terra Media - é uma das mais profundas e sérias obras, até mesmo sombria. Porém, de tempos muito anteriores ao do Hobbit. O livro conta a história da família de Húrin, especialmente de seu filho Túrin. Porem de uma forma sombria e trágica. Ao invés de contar sobre a magnífica história - talvez uma das melhores escritas por Tolkien - farei mais uma análise de seus conteúdos.

Os Cabeças Duras - Teimosos e Obstinados

Túrin filho de Húrin é o que mais se enquadra neste perfil. Homem vigoroso, se tornou o mais poderoso dos homens, sua força e habilidades eram inigualáveis, sem contar possuir grande e profundo conhecimento. Jovem e implacável, Túrin por muitas ocasiões não dava ouvido aos conselhos mais sábios, pois a coragem o dominava.

E assim prosseguia Túrin Turambar, um homem, de certo modo, escravo do seu orgulho e obstinação por encontrar seu pai e atacar Melkor (um poderoso calar que aprisionou seu pai e amaldiçoou sua família). Melkor querendo destruir e acabar com a honra da, família de Húrin, aproveita do orgulho de Túrin, e começa a "alimentar seu orgulho". Como? Dando-lhe vitorias. E assim enviava pequenos grupos orcs atrás de Túrin ou no seu caminho. E Túrin sempre tia vitória. Todos os que se colocavam em seu caminho morriam. Sobretudo devido a sua poderosa espada Anglachel, qual não deixaria por vivo a quem ferisse. E todos temiam seu nome e sua espada.

Porem essa obstinação, orgulho e mesmo ser precoce em muitos atos, levou vez pós vez, a maldição de Melkor se confirmar. Seus amigos morriam, alguns pela espada de Túrin, "no susto". Outros povos sofreram como os Noldors, um povo élfico que teve seu reino destruído pelo terrível Glaurung, o maligno dragão de Melkor. Como? Túrin se tornou o principal guarda e conselheiro de guerra dos Noldor, que ficavam numa alta montanha cercada por um profundo e feroz rio, era uma fortaleza intocável. Mas o orgulho de Túrin, e suas grandes vitórias, persuadiu o rei de construir uma ponte. Porem. Sem saber, que apenas, cumpria os propósitos de Melkor, pois numa batalha ainda maior, lançou sua verdadeira força oculta a Túrin, um grande e poderoso exército liderado pelo dragão Glarung. Que dizimou os noldors, e através da ponte, invadiram sua fortaleza e a tomou, aniquilando a todos que estivesse ali ou levando como escravo para Agband. As Artimanhas da Mentira

Não bastasse isso, o dragão podia enfeitiçar profundamente aquele que ouvisse suas tão meticulosas mentiras ou olhasse para seus olhos cheios de astucia.

Desse modo, Túrin acabou por dar ouvidos ao dragão. E foi para o ermo, onde apenas o afastou novamente de sua família encontra-lo. Já por outro lado, sua irmã caiu no feitiço do dragão. Foi tomada por uma, sombria loucura. O medo a perseguiu onde quer que fosse. O pavor e as trevas foram tão intensas que o dragão lançou em seu coração, que ela esquecera o próprio nome, os motivos, as palavras, o idioma, perdeu a fala e a memória, como se estes ficassem aprisionados por um manto de trevas em sua mente. E apenas uma coisa lhe restou, sair correndo desesperadamente para o leste, sem parar, sem rumo ou destino, como se estivesse fugindo de uma sombra que a perseguisse. Ela corria mais desfiguradamente do que um animal, nua, suja, com olhar vago e amedrontado.

Após isso e mais um grande tanto. Túrin acabou por matar o dragão quando este vinha a seu encontro em uma caçada heroica, porem que levou a morte seus companheiros novamente. O dragão, mesmo aparentemente vencido, ainda assim lançou um olhar sobre sua irmã e esta, no espanto, remorso e loucura, se suicidou nas correntes do rio Teiglin. Já Túrin, infelizmente deu-se por este ato, alem de alguns entendimentos e orgulhos do povo que terminaram por ruir seu coração e desejo pela vida. Suicidando-se com a própria espada que matara a todos que feristes.

A morte do dragão foi uma vitória sem comemoração. Para Melkor, o dragão nada importava, foi apenas mais uma criatura usada para seus desígnios. A maldição havia se concluído. Libertou Húrin do feitiço - a contemplação da miséria, ruina e fim de sua família e linhagem - e Húrin, foi ate o tumulo de Túrin, onde encontrou sua mulher, porem tarde demais. Esta também estava tão acabada e exausta que ali morrera. O livro é brilhante, e nada ingênuo ou infantil. Ele trata de assuntos muito sérios numa, narrativa excepcional que não te faz piscar os olhos. Mas sobretudo é um livro que trata sobre a maturidade, a obstinação, o negar os conselhos sábios e experientes, a arrogância e o orgulho. Como tais afetam a nossa vida e a dos que nos cercam.

Em contraparte, vemos nos desenrolar da historia, que se ouvissem os conselhos dos elfos, a maldição não teria se concluído, teriam defendido melhor os povos dos orcs, e a família teria se reencontrado não de maneira trágica. Porem Túrin representa o homem diante do seu pouco tempo de vida. Não vive por tanto tempo quanto os elfos. Ficar esperando? Eis o grande problema que assoma os homens. A impaciência da vida, por considerar haver pouco tempo de vida, e correr de forma louca atrás de suas realizações obstinadas, sacrificando as amizades, familiares e aqueles que cruzam seu caminho. E quanto maior o seu poder, maior é a maldição com qual afeta os outros. Pois no fim, temos um inimigo, Melkor, que lançou uma maldição contra nós, utilizando muitos artifícios para nos capturar em nosso orgulho, a fim de que a maldição se concretize.

É sempre bom lembrar que nessa obra, Tolkien tenta abordar temas humanos, da nossa vida. Alem disso, incluindo seus pensamentos religiosos, fortemente influenciados pelo catolicismo em que Melkor representa Satanás/Diabo. Alem disso podemos pensar mais claramente, na sua "criação maligna" o dragão não alado, que talvez poderíamos comparar a uma serpente gigante, qual tem, como principal e mais temível poder, o de enganar suas vítimas, e quem der ouvidos a sua influência estará correndo para a própria ruina e a dos outros que estão no nosso raio de influência. Já os elfos, são os conselheiros sábios, de muita experiência e anos de vida. Eles não sabem tudo, e nem podem prever exatamente como as coisas serão, mas, possuem sábios conselhos, tais representam os profetas e tutores.

Os Filhos de Húrin é um livro sem final feliz, que apenas nos faz pensar seriamente sobre a vida e nossas escolhas. É um livro para fortalecer o peito para enfrentar as trevas da vida. Alem de ser um épico, no qual é preciso ter coragem para ler. Pois as mensagens nas entrelinhas são fortes e, não poucas vezes, nos deixam atônitos pois nos identificamos com elas.

Pois dentro de todos há um Túrin. Temos um inimigo dentro de nós.

0 comentários: