18 maio 2014

Dê o dedinho

Todos já ouviram falar que "o tempo cura". Mas o queremos dizer com isso? E por que isso acontece?

Se olharmos bem, a resposta está no verbo 'mudar'. Estamos em contaste mudança, a todo instante.  Enquanto digito essas palavras. Apenas hoje, milhões de células minhas e suas morreram, outras novas surgiram, outras mudaram de lugar, como os glóbulos vermelhos em constante mudança por meio de nossas correntes, sempre a fluir.

O nosso pensamento também está sempre a mudar e fluir. Não só o pensamento mas nossos próprios sentidos e percepções. Repare como observamos um brinquedo quando tínhamos 6, 12, 16 e 25 anos de idade e como observamos agora. As coisas estão a mudar. E embora o passado tenha já existido, agora ele não existe mais senão em nossas memorias. 

Porém, por outro lado, fruto em parte do nosso pensamento estático, em parte ao racionalismo, ao cientificismo, naturalismo, entre tantas outras coisas, tendemos a sempre nos basear no passado. 

O presente, desse modo, é algo novo ou apenas uma projeção ou imagem desse passado? Talvez, estejamos sendo loucos ao ponto de perpetuar um passado em nossas vidas, ao invés de viver pelo novo. Mas, mais burros ainda, está diante do fato de que a maioria de nós tendemos a perpetuar os momentos ruins e difíceis do passado ao invés daqueles bons e maravilhosos, e a isso chamamos de traumas.

Fico a imaginar: ainda bem que os bebes não escolhem nascer. Pois, se antes de nascer, pudessem observar todo passado do mundo, e o carregassem para o presente, possivelmente não escolheriam essa vida ou este mundo, se lhe dessem esta oportunidade.

Porém, infelizmente, assim tendemos a lidar com as pessoas. Tendemos a carregar este passado até que "não o carregamos mais", ou seja, finalmente nos livramos dessa escravidão e nos abrimos para um novo mundo de possibilidades. E a isso chamamos de "o tempo cura", um certo tipo de esquecimento ou amadurecimento dos fatos e das emoções. 

Por que atribuímos ao tempo? Porque, como falamos, o passado apenas existe em nossas memorias. E como um sábio homem, chamado Salomão, certa vez disse: "quem não continuar a aprender, esquece o que já sabe." Nossa memoria está destinada ao esquecimento conforme vamos deixando essas lembranças, este passado de lado. E não me refiro apenas a memoria da informação, mas a emocional e sensorial inclusive. Com o tempo vamos deixando os traumas no passado e realmente nos abrindo para o futuro qual chamamos os dias invisíveis mas vivos em nossa mente. E assim, voltamos a abrir portas que um dia fechamos e não tivemos mais coragem para abrir.

Pensando nisso, uma das coisas que me deixa mais de queixo caído é o ensinamento bíblico do perdão. É o ensino para uma vida sem portas fechadas, sem carregar um passado duro. Uma vida sempre limpa e livre.

Veja o que a Bíblia diz quanto a uma pessoa que vai levar uma oferta a Deus: "Portanto, se você estiver apresentando sua oferta diante do altar e ali se lembrar de que seu irmão tem algo contra você, deixe sua oferta ali, diante do altar, e vá primeiro reconciliar-se com seu irmão; depois volte e apresente sua oferta.” (Mateus 5:23-24)

É simples: "Va logo fazer as pazes!" Por que esperar? Por que ir dormir com a cabeça quente, cheio de pensamentos que inflamam sua mente e bem estar? Por que passar o resto da vida com aquele 'espinho na carne' te incomodando? Podemos ser tão leves! Por que carregar inimigos pela vida?

Com o tempo e a mudança do amadurecimento, vamos percebendo isso. Percebendo não somente que o guardar rancor e magoas é uma tremenda besteira. Mas que nos corrói por dentro e que, no fundo, lá no fundo dos nossos pensamentos, está o desejo inerente de "resolver as coisas". De não termos inimigos, fazer as pazes, sentirmos leves. Se, carregar rancores no peito. É acalmar a consciência. Por que criar um inimigo? Por que não reconquistar um amigo?

O ensino do perdão é uma das coisas mais extraordinárias que pode existir, se formos ver. Porém, cada vez mais ausente da humanidade, que caminha para o isolamento e o sentimento solitário. Obstinados. Pensando que o grande valor da amizade está em não cometer um erro contra o amigo, enquanto, a verdadeira amizade se consiste em levantar nossos amigos quando caem, corrigir e aconselhar quando errar, fazer as pazes quando brigam.

Fiquei surpreso (num sentido negativa) com o rompimento de uma tradição antiga. Pois parecem que as novas gerações não sabem mais o que é isso. Quando eu era a criança, há 15 - 20 anos atrás, tínhamos o comum ato de "DAR DEDINHO". Dar o dedinho, apertar o dedinho um do outro, era um ato de perdão. Isso era ensinado. E todos o praticavam. E acredite, o "dedinho" era milagrosa. Da birra e cara emburrada, estavam jogando videogame e futebol minutos a seguir, como se absolutamente NADA tivesse acontecido que tivesse machucado a relação deles. Na verdade, pelo contrário, sentiam-se ainda mais amigos do que nunca!

Todos que um dia já reconquistaram uma amizade antiga, que há meses, ou anos, havia se perdido por algum triste motivo x, sabem do que estou falando.

Enfim, ensinemos o perdão. Ajudemos o mundo a se tornar melhor, ou, pelo menos, mais humano.

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