09 junho 2013

Como olhar as pessoas?

Me recordo de uma das aulas sobre Freud e a sua teoria psíquica  que o homem é formado a partir de TRAUMAS. Dentre eles, um dos especiais é o da criança, quando ele se dá conta que os seus pais não são super heróis, não são perfeitos, mentem, cometem erros. E esse trauma ocorre por volta dos 10 - 12 anos, para muitos, para outros até mesmo antes. Mas até então, a criança olhava para os seus pais e eles eram deuses, super heróis, quer ser igual ao pai, olha a mãe, e de certa forma até mesmo se imagina casando com a sua mãe, ou casar com alguém que seja igual a sua mãe (no caso dos meninos). Mas a partir desse trauma, quando se dá conta, há um rompimento, e geralmente, um certo afastamento dos pais, passa a não contar tudo para eles, passa a não confiar tantas coisas, coisas quais julgam que seus pais não lidariam muito bem com tal; e dessa faze então, começam a criar mais e mais confiança, empatia, mistificar os seus amigos, a roda de amigos. Chegou a adolescência. Criam laços, criam códigos do grupo... códigos nunca escritos por ninguém, ou mesmo mencionados, mas que de um modo ou outro, todos que fazem parte daquele grupo seguem aquele código, passam a aderir características  comuns, buscam viver muito tempo juntos, querem estar mais com os amigos do que com os pais, contam segredos e pensamentos dos mais profundos com ele. Até que nessas relações também sofrem grandes traumas, percebem também como facilmente esses amigos vão embora, e depois de um tempo, ninguém liga, percebe como aquele 'código' era sem valor. E então, chega uma fase que traumatizados, começam uma busca muito mais pessoal, estão perplexas e desenganadas de certo modo da pessoa e do mundo, sabem o que esperar deles, e que, de certa forma, a vida é muito mais individual, ela precisa contar muito mais consigo mesmo; que nenhum dos amigos tem 'A resposta', e então começa a essa busca de si, no que ela é, no que acredita, em quem quer se tornar, o que vai fazer da vida. E neste inicio da vida adulta, ela tem um trauma consigo mesmo, pois já reconhece que ela mesmo comete grandes erros, que ela mesmo já fez muitos males, ela não é um super herói, ela é, de certo modo um qualquer. E então entra na vida adulta, e é nessa fase que ao olhar no espelho vê a imagem de seus pais. Há um certo reencontro e maior afinidade com seus pais, sobretudo os adultos. São experientes e sabem que provavelmente todos já passaram pelas mesmas coisas, decepções e traumas na vida. Passam a ser muito menos exigentes do que quando adolescente e são mais sensíveis um a imperfeição do outro.


Todavia, há traumas que são mais fortes. E um deles, o mais forte é o de ver ou lidar com situações tão horríveis e traumatizantes por pessoas, que ela passa a ter, como uma forma de reação, e mesmo de proteção, generalizar um pensamento de se bloquear (se defender) com a máxima: todos são assim. Ex combatentes de Guerra constantemente tiveram isso. De modo, que após a uma guerra ficarem tão traumatizados que perdem a fé em si e nos outros, e isso é terrível. A vida não só social, mas a vida consigo mesmo passa a se tornar um inferno. A pessoa tem um certo nojo da humanidade, de si, e um terrível conflito interno de sentido a vida passa a ocorrer nela.

Traumas desse tipo podem ocorrer em menor e maior escala em vários aspectos da vida. Conheço uma pessoa que conta que passou vários anos namorando uma garota, sendo 'todo romântico bonzinho', até que tomou na cabeça. Aquilo foi tão traumatizante para ele, que após os 25 anos, passou a beber, fumar, frequentar mais de uma vez por semana baladas e com um simples propósito de pegar, fazer sexo com o máximo de mulheres possível, e se possível, nunca repetir 'a mesma carta do baralho'. Agora já nos 30 anos, ainda solteirão, sem perspectivas de sair dessa vida solteira, não imagina casar, tampouco ser fiel e monógamo. E isso tudo de certa forma foi a reação a um trauma.

Eu mesmo passei por diversos traumas terríveis. São dificílimos de se superar - como são! - Traumas no qual provocam esse olhar sem esperança e sem valor para pessoas e coisas que antes muito tinham, é um desencanto, falta de esperança. E tais tentem a produzir um sentimento e finalidade muito mais egoísta ou egocentrista em si mesmo. ... Isso é terrível. Vivemos num mundo de pessoas traumatizadas. O que me faz recordar daquela terrível profecia bíblica acerca dos últimos dias:

"E por se multiplicar a iniquidade, o amor de muitos esfriará." (Mateus 24)


Há um pensamento de que um grande homem é aquele que mesmo depois de tantos anos continua uma criança. Uma criança que não enxerga maldade nos outros, ou como se fossem 'bárbaros'; disposta a brincar, dar tudo de si, acreditar nela, brincar com elas com toda 'inocência' do mundo.

É difícil pensar e conceber isso depois de certo ponto da vida. Mas isso me fez pensar hoje como é intrigante o amor de Deus. Ele conhece a cada um de nós, sabe todos os nossos segredos mais ocultos, contemplou, viu, sabe - muito melhor do que nós ainda - cada ato, ação, pensamento que fizemos não só ontem a noite, mas em cada instante da nossa vida. E mesmo assim, apesar desse GRANDE TRAUMA, que certamente dá-lhe razões de sobra para perder a fé na humanidade e destruí-la de tão maus que somos, contrariamente, Ele nos amou, amou a humanidade, amou essas pessoas destruídas, de corações traumatizados e destruídos, cheias de defeitos, falhas de caráter, comportamentos egoístas, maldosos e ímpios. ... Não só amou por cada um, mas lutou e tomou as atitudes mais impensadas por tais, para salvá-las desde 'homem destruído' querendo dar-lhe 'vida', querendo dar-lhes amor. O verdadeiro amor a si mesmo e um verdadeiro amor ao próximo.

Como isso é possível? Como é possível que Ele optou por morrer quem não dava a minima por Ele? Você hoje doaria seu rim por alguém que destruiu a sua vida? Pularia na frente do carro para salvar aquela pessoa promíscua, traidora? Levaria um tiro para salvar aquele marido infiel que você sabe que toda a noite trai sua mulher com prostitutas e outras que fazem sexo grátis? Entraria num prédio em chamas para tentar salvar aquele homem caloteiro que te roubou muito dinheiro e deixou no vermelho? Talvez não estamos dispostos nem a convidar para um amistoso jantar aquele cara que bateu no nosso carro, quanto mais essas coisas.

É intrigante pensar que Deus nos ama, não importa a condição que estamos. Não importa o quão ruim, sem caráter, quão mergulhados em paixões, erros, loucuras, vaidades, estejamos. Ele vem e morre por nós. Mas muito além disso, Ele nos olha com tanto amor e simpatia, que não pensa, não vê apenas quem somos; mas em quem podemos ser. Ele quer nos salvar de nós mesmos. Quer remover esse coração destruído e nos dar um novo coração. Quer nos dar verdadeira felicidade e amor para com nós mesmos e os outros. Quer nos restaurar novamente a esperança e a fé. Não em uma pequena porção apenas, mas na plenitude!

Este é o poder do Evangelho. O poder de transformar a vida de pessoas. O poder para dar um novo coração. O poder para te dar esperança, amor, felicidade e paz para com nossa relação com nós mesmos e com os outros.


Intrigante. Quem dera eu poder restaurar esses olhos. De ver as pessoas, como Deus as vê.

E você, o que vê?

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