20 janeiro 2013

A Fé e o Vírus


No primeiro século, um pequeno e nada influente grupo de pessoas começou a espalhar uma estranha mensagem. Dizia respeito a um deus que havia sido morto por homens e que depois havia ressuscitado. A hipótese era inédita e por isso mesmo absurda. A esperança que uma tal mensagem fornece não é tão intuitiva, não é, por assim dizer, fácil. Mesmo assim, aquilo se espalhou de modo viral. O pequeno grupo, num espaço curto de tempo, se tornou um grande grupo, capaz de incomodar o stablishment e de alcançar pessoas por todo o mundo helenizado.


No vigésimo primeiro século, um novo e espetacular meio de comunicação é inventado e popularizado. Quebrando paradigmas seculares, agora qualquer particular, por simples e humilde que seja, tem voz e pode falar a milhões de outras pessoas. Pode-se dizer que pela primeira vez na História é possível saber o que o mundo inteiro está falando, no que está pensando e o que está passando adiante, e a resposta é: fotos de gatos, gangnan style, memes, inócuos protestos políticos e frases de autoajuda.



Em "Acredite, estou mentindo", Ryan Holiday, um assessor de imprensa americano que se apresenta como "manipulador de mídias", conta como consegue tornar assuntos de seu interesse virais, alavancando filmes inexpressivos e personalidades obscuras. "Em 2010", ele conta, "dois pesquisadores da Wharton School examinaram mais de 7 mil artigos que chegaram à Lista dos Mais Enviados por E-mail do New York Times (...) De acordo com o estudo, `o mais forte preditivo de virulência é a quantidade de raiva que um artigo evoca' (...) Os pesquisadores descobriram que, embora a tristeza seja uma emoção forte, ela é totalmente antiviral. Tristeza, como a que sentimos ao ver um cachorro abandonado tremendo de frio ou um sem-teto esmolando dinheiro, é uma emoção não estimulante. (...) As coisas devem ser negativas, mas não demais. O desespero e falta de esperança não nos levam a fazer algo. Pena, empatia – estes nos motivam a fazer algo, como levantar do computador e agir. Mas raiva, medo, excitação e riso nos fazem espalhar conteúdo. Esses sentimentos nos impelem a fazer algo que nos faz sentir que estamos fazendo alguma coisa, quando na realidade estamos apenas contribuindo para aquilo que é, provavelmente, uma conversa superficial e absolutamente sem sentido".



Chegamos a uma realidade em que, ainda que tenhamos uma verdade palpitante e a fonte de nossas maiores esperanças, não a passamos adiante, porque isso não é o tipo de coisas que as pessoas passam adiante. Elas passam adiante só coisas que os outros podem sentir que fizeram algo clicando em "compartilhar" e mais nada. Passar coisas que as façam meditar que talvez não estejam vivendo da maneira correta é intrusivo e antipático, e não queremos que os outros deem um "não curti" no que estamos replicando, porque aí seríamos bloqueados.



Acho que não se trata de ser impertinente, mas de deixar claro o que é realmente importante para você, não importando as consequências. Se trata de não esquecer que na Bíblia existe este texto: "prega a palavra, insta, quer seja oportuno, quer não, corrige, repreende, exorta com toda a longanimidade e doutrina" (II Timóteo 4:2).


por Marco  Aurelio Brasil

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