25 janeiro 2013

ABSURDO! - Hospital ABC Recusa Pedido Socorro


Hoje, 25/1/13, por volta das 18h retornando de São Caetano do Sul para Santo André, havia um transito muito pesado na av. Dom Pedro II. Fiz uns caminhos alternativos, mas estava tanto transito que resolvi parar e ir a pé para o Parq Celso Daniel (antigo Duque de Caxias) correr enquanto havia transito. Mas para minha surpresa, no meio do caminho, eis que contemplo o motivo do transito: Havia uma vitima deitada no meio das pistas e um grupo de 5 - 7 pessoas (2 motoqueiros) bloquearam a pista para não atropelarem ela.

De imediato fui até o local, e por ser um lugar muito conhecido para mim, logo pensei: "Isto deve ter sido agora, pois é de frente para o hospital e ninguém veio atendê-la ainda." Bem, fui até eles, para a minha surpresa não havia nenhum enfermeiro do Hospital, apenas civis comuns. Logo observei os sinais vitais da mulher que aparentava entre 40 - 50 anos, 1,60m e uns 67kg. Ela estava com os sinais vitais estáveis nem sinal de ferimento na cabeça, ou roupa suja ou rasgada indicando uma possível queda com o tronco no chão, mas demonstrava nitidamente que estava sentindo uma dor tremendamente forte. Logo perguntei se ela estava sentindo dores nas costas, ou cabeça - tentando observar se as pupilas estavam dilatadas, mas ela mal abria os olhos para poder ver - e outra mulher que já estava com ela disse, que não, que ela não bateu a cabeça nem costas, que foi atropelada na perna, e ai ela caiu no chão deitando deste jeito.

[Neste momento começou a chover]
Disseram que apenas sentia muita dor na perna esquerda que estava abaixo (ela estava deitada de lado em cima da perna esquerda com ela dobrada, com uma calça jeans apertada, logo não tinha como observar nada. Além disso, os motoqueiros local cobriram ela com uma capa para proteger da chuva, e outra pessoa ficou segurando o guarda-chuva nela. Uma mulher colocou uma camisa dobrado para ela apoiar a cabeça, enquanto esperava lá o socorro.) Então não tinha como melhor avaliar o caso, ver se havia alguma fratura.

Passaram quase 5 minutos e eu achei estranho. Perguntei se não tinham pedido socorro. Que o HOSPITAL era ali, EM FRENTE (literalmente, estava de FREEENTE para o hospital). E disseram que sim, mas eu achei estranho, e fui imediato até o hospital. Na entrado o segurança, comentou com a maior indiferença do mundo (mesmo sendo um simpático senhorzinho de uns 50 anos) do atropelamento, e ainda reclamou que alguém deixou um carro parado em frente a entrada da ambulancia no Hospital (perguntou ainda se era meu). E falou para eu 'ir ver na recepção' (isto que ele estava com um rádio comunicador na mão). Fui até recepção. Falei do atropelamento para a recepcionista a qual disse:

"Ahh acabaram de vir falar. Mas NÃO PODEMOS FAZER NADA. Não podemos enviar nenhum enfermeiro nem equipamento do hospital para atendê-la. ..." Neste momento cortei ela e disse: "Mas a mulher está aqui em frente ao hospital agonizando de dor e vocês não podem fazer nada?!" A recepcionista começou a repetir o discurso normativo decorado, dizendo que tinha que 'aguardar o resgate que já foi solicitado e este encaminharia ela para um hospital que tivesse convenio ou público...'

Deu vontade de dizer "E se fosse a sua mãe?!". Mas deixei ela falando, me despedi cortando ela novamente: "Muito obrigado." - E me retirei apressadamente dali. -  Voltei para a cena. A chuva, os carros parados (pelo menos não estavam buzinando). Alguns motoristas perguntaram se não podia tirar ela um pouco para o lado para os carros passarem. Pois estavam todos tendo que entrar pela rua perpendicular ao lado e logico MUITO transito. Mas já os odiados motoqueiros, pararam mais deles para ajudar e bloquear a pista. Enquanto que nenhum motorista de carro ousou parar para bloquear e sair do conforto do seu veículo sequinho para enfrentar a chuva para ajudar. Difícil imaginar que entre a imensidão de carros e onibus que passaram por ali, não havia um médico ou enfermeiro entre eles.

De volta a cena, a mulher tremia os lábios de tanta dor e os olhos fechados segurando a choro e agonia, enquanto duas mulheres, uma que voltava do parque com seu marido, e sua conhecida tentavam consolá-la para ficar calma, aguentar. Logo perguntei se haviam chamado o resgate e disseram que sim. Enquanto outro, tentava desbloquar o celular dela para ligar para os familiares, mas por fim tiveram que pedir para ela desbloquear (se mexer). :/ Outro motoqueiro parou, perguntou se havia sido atropelada. E disse "Mas o hospital é ali!" e ai eu disse que se recusaram a prestar socorro. 

[...] a chuva intensificou e - resumindo a história -  aprox. 20 minutos depois chegou uma viatura da policia, que primeiramente chegaram falando 'vamos liberar o bloqueio, antes de chegar a vitima. Pois eu fui até eles para falar da situação. E meio que não deram a minima para o que eu falava. Ai eles chegaram viram a vitima, as poucas 5-7 pessoas que pararam ali no meio da chuva para ajudar e bloquear a pista, viram que ela estava deitada e com muita dor... e ai ouvi um deles comentar "Éé vamos ter que liberar o resgate".. [pensei: Como assim?! Só agora que vai vir o resgate!?]. Um dos policiais voltou a viatura e se comunicou. Enquanto isso, começou haver outro problema pois algumas pessoas começaram a vir nessa rua alternativa de lá para cá travando tudo... tomei a frente e fui até eles, fiz os darem ré, ajudei-os a voltar e liberar mais o transito ali. uns 7min. depois um dos policiais veio fazer isso no meu lugar.

Quase 10min. depois a chuva deu trégua  E finalmente chegou uma ambulância do SAMU, pela contramão, e nisto foi eu mais um motoqueiro acenar para as pessoas da outra mão a pararem, para assim a ambulância poder vir mais rapidamente. Os socorristas pareciam estar mais preocupados em tirá-la logo da pista do que em fazer um APH correto. Tentei dizer algumas coisas sobre o estado dela, mas parece não ter dado ouvidos apenas dizerem "vamos liberar logo a via", e "Daqui para frente, deixa com nós".
Logo já colocaram a prancha ao lado, e SEM COLOCAR O COLAR CERVICAL já tentaram por-la na mala. Mas ai eu disse: "Espera! Ela está com muita dor na perna." E logico, eles tinham que verificar e imobilizar uma possível fratura antes. (alias, eu sabia bem os procedimentos de APH do curso da SAMU que fiz em 2005 ou 2006). Ai eles, mesmo assim tentaram mexer a perna dela.. e ela começou a gritar e gemer de dor, o queixo e lábio dela tremia de tamanho dor! Ai eles realmente foram então ver a perna dela. Tentaram mexer a perna, tocar em alguns lugares e ai finalmente eles perguntaram "Onde você sente dor?" e ali ela levou a mão a altura um pouco acima do joelho. Ai então finalmente eles pegaram uma tesoura e cortaram a calça dela, quando chegou até a altura do joelho, e ai eu já vi uma pelota na perna, evidenciando um trauma, provavelmente uma fratura interna. Só então eles foram até a ambulância  pegaram os imobilizadores e um colar cervical. E ai, PORCAMENTE, fizeram uma imobilização bem mais ou menos na perna dela (bem diferente das que faziam no curso, parecia mais uma daquelas que os desbravadores faziam quando ensinavamos eles e dizíamos estar errado, para imobilizar direito). Ai me ofereci já tomando posição para ajudar a colocá-la na prancha. E eles pegaram de maneira sem muito buscar o conforto e minimizar a dor dela. (alias totalmente diferente de como foi no curso, simplesmente viraram ela na prancha (sem fazer toda aquela pegada que protege a coluna, que vi no curso) Só então, deitada na prancha é que colocaram o colocar cervical (sendo que no curso, era uma das primeiras coisas a se fazer). Depois colocamos ela na maca (ai me toquei que ela devia ter quase uns 70kg, mas a união de 4 pessoas pareceu papel)... e ai foi para a ambulância...

O motoqueiro que atropelou não fugiu. Ficou ali meio em choque o tempo todo na calçada, só quando chegou os policiais ele já assumiu que foi ele. Mas disse "ela entrou na frente" (detalhe estava em cima da faixa de pedestre). E ai ele começou a falar com o guarda e este pediu os documentos dele... e não dei mais atenção, mas em nenhum momento eu o vi tentando prestar socorro a vitima, só não fugiu. Mas parecia estar um pouco em choque e desorientado, direto ficou andando para lá e para cá desnorteado, deixando a moto em cima da calçada.

Mas a minha maior indignação, além da DEMORA - em torno de 30min. desde que cheguei a cena - PARA O SOCORRO (qual foi com péssima qualidade) foi a que me deixou  REVOLTADO: o HOSPITAL. Se trata de um Hospital qual tenho convenio e já fui muitas vezes quando criança - acho que até meus 16-17 anos 90% das vezes eu ia lá. Hoje, chama HOSPITAL ABC (mas já foi Amico, Focus...). É um Hospital Particular que SE RECUSOU A PRESTAR QUALQUER SOCORRO A VITIMA que estava LITERALMENTE a 10 passos da calçada do, EM FRENTE, AO HOSPITAL!!!

E se fosse eu, e se você você?! Como se sentiria se o hospital a sua frente não prestasse socorro a você. E te deixaria lá agonizando?! E se fosse um trauma mais grave, um que talvez houvesse lesão na cabeça ou hemorragia? 30min. poderia ter sido tarde demais e ter morrido NAS PORTAS do Hospital praticamente.
Em muitos aspectos a fisionomia da senhora lembrava o da minha mãe. Era uma mulher simples que estava voltando do trabalho. E ai eu fiquei extremamente revoltando pensando se caso fosse a minha mãe. Caso fosse a sua mãe. O Hospital qual tenho convenio, deixaria ela lá em frente agonizando de dor, por 30min., debaixo da chuva. E sem fazer absolutamente NADA!!! E eu, se fosse eu? E se estivesse inconsciente e não pudesse dizer que tinha convenio lá? Também me deixariam lá morrendo de dor, ou morrendo literalmente, sem mexer 1 dedo!!!

ALGUEM, POR FAvOR, ALGUEM ME EXPLIQUE:!!! COMO PODE HAVER TANTA FRIEZA E DESCASO PARA COM UM SER HUMANO !!!?? (e tudo por isso por dinheiro)

QUAL É A FUNÇÃO DE UM HOSPITAL!!!?? QUAL A FUNCÃO SOCIAL DE UM HOSPITAL??? PARA QUÊ EXISTEM MÉDICOS E ENFERMEIROS!!??


Um Sistema Precário
Conversei com algum amigos da saúde, enfermeiros e inclusive um residente em medicina. E fiquei sabendo que o problema não foi o Hospital. Mas sim o PROTOCOLO. Pois de fato, mesmo um Hospital Público precisa esperar que o Resgate ou SAMU retire a vitima da via publica e dê entrada ao Hospital. A menos que seja em caso de "morte iminente" o Hospital tem o dever de prestar socorro a vítima. Mas eles apontaram diversas falhas no sistema. Na verdade, um monte. Para começar, a precaridade do SAMU e Resgate. Compararam com os Estados Unidos em que o tempo entre o acionamento do resgate até a chegada deste para atender a vitima gira em torno de 3 a 5 minutos, e para entrada no Pronto de Socorro, 15 a 20 minutos. Mas que lamentavelmente, no Brasil, uma ambulância chegar ao local para o atendimento em 30 minutos é considerado "POUCO".

Há precariedade em todos os níveis de organização. Para começar na falta de um código de conduta, deveres de atendimento entre outros, que fossem mais abrangentes. Ainda mais se temos um cenário no qual o serviço de resgate leva 30 minutos ou mais para socorrer a vitima. É claro que outros mecanismos e um sistema mais amplo precisa ser desenvolvido. Por que não em cada unidade de saúde, seja Hospital Público ou particular, não tivesse uma equipe (e nem precisa ser muitos), especializada em prestar socorro como o SAMU, bombeiros, de modo a poder ser acionado se estes forem os mais próximos na região em questão (tempo necessário para se deslocar até a vitima)?

É um absurdo que em frente a um Hospital uma vitima seja deixada agonizando de dor a espera de um serviço de resgate para poder então ser encaminhada a um Hospital! Ora, se for particular, que o SUS reembolse tal se necessário. É tão absurdo que NÃO TEM COMO, é INCABÍVEL!!! É tão absurdo quanto uma regra estupida sem o menor bom senso. Ainda mais quando objeto em questão é o ser humano, o homem, a dor, a saúde. E as possíveis consequencias podem ser trágicas!
E se for caso de parada cardíaca qual precisa ser reanimado ou feito um RCP imediato! E se for Uma hemorrogia que precisa ser estancada em minutos e o volume sanguíneo recuperado com soro? E se for um trauma na cabeça? Ou uma obstrução nas vias aereas que precisa de uma traqueotomia emergencial?

Segundo meu amigo, o mais sensato seria pelo menos o Hospital ter enviado alguem para examinar e verificar a situação da vitima. Pois caso fosse de morte iminente, já tomarem procedimentos antes de chegar o resgate. Mas por n fatores (e eu destaco aqui: O financeiro) não houve essa proatividade de atender uma pessoa sofrendo que necessitava desta ajuda especializada.

Além disso, meu amigo, ele tambem ironizou: "Você acha que mesmo que se tiver um acidente ou alguem cair em frente ao Albert Einstein (um Hospital referencia e muito rico em São Paulo) eles irão lá atender ou querer prestar socorro? Vão nada. No máximo, vão fazer um PS básico e encaminhar para um Hospital Público."

Meu amigo também mencionou a corrupção no Governo que some com uma fortuna de milhões ou mesmo bilhões nos cofres públicos que seriam destinado aos Serviços de Saúde. O sistema de resgate escasso. Os plantões longos e jornadas de trabalho que deixam os trabalhadores do serviço de emergência muito estressados. Mas ele mencionou que ele mesmo ele é 'louco', meio que vai contra o sistema e sempre vai até a pessoa, mesmo que esteja presa num caminhão ajudá-la, examiná-la, por um colar cervical.

Outra amiga mais da area que cuida da fármacia do Hospital disse o problema das 'despesas': E quem vai arcar com as despesas? Custos hospitalares já é um grande problema. Ainda mais num sistema em que alguns médicos há salários exorbitantes. Fica óbvio que o Governo precisa rever suas questões fiscais quanto ao Sistema de Saúde. É preciso haver um Sistema mais completo que maximize o atendimento, o orçamento, e as despesas. As vezes, sempre comummente reclamamos de Politicos, deputados que tem um salário astronomico e clamamos para que se reduza o salário deles. Mas por que não também não reduzir ou estabelecer teto salarial para com médicos e o restante poder ser destinado há recursos instrumentais, remédios e etc?!

O objetivo final deve ser salvar vidas, atender, maximizar, dar mais conforto, melhores condições de vidas. E este episódio ficou claro para mim "que estamos fazendo isto de maneira errada".

E onde fica também o aspecto da solidariedade, do amor ao próximo. Nem tudo na vida é dinheiro?! Por que como pessoas daquele hospital não agiram mais como seres humanos e menos como CNPJ burocratas? Ora, se há gastos, endividamento, depois se dá um jeito com isso. Enquanto vivo há como correr atrás das coisas, de uma divida se preciso, mas morto, não tem nem a chance. E ainda fico com o pensamento; que no geral, todos arcam com o discurso institucional, CNPJ, "o protocolo é assim". O protocolo que sobressaí a Lei Divina que façais ao próximo como a ti mesmo, me soa como a Parábola do Bom Samaritano, mas que no caso, o bode espiatorio, toda a culpa, é depositada sobre os ombros do SUS e do Protocolo de Atendimento. Mas eu acredito que se fosse o filho de um dos médicos daquele Hospital Particular que tivesse sido atropelado ali em frente, eu DÚVIDO que o próprio médico não teria saído correndo para atender, socorrer seu filho, levaria uma equipe de enfermeiros com ele para levá-lo para dentro do hospital e fazer tudo o que fosse necessário pelo seu filho. E não que isso seja algo ruim. Pois ao meu ver, se não o fizesse, não seria uma pai que amasse seu filho como deveria. A questão que coloco aqui é o desvalor que é dado ao ser humano, é tanta indiferença para uma mulher atropelada na rua, agonizando de dor, pois é mais uma qualquer, mais uma pessoa descartável em nossas vidas; e ai o que importa é o SUS, é o Hospital, é o Protocolo... e não o meu amor por ela, a minha caridade.


Que reflitamos sobre isto. E que tomara que a sociedade se mobilize. Que a mídia se mobilize (informei do caso para imprensa). Que nossos legisladores, ministros, administradores se mobilizem. Que médicos, enfermeiros, bombeiros, engenheiros, matemáticos se mobilizem e se unam, para desenvolver um sistema otimizado e maximizado para fornecer o melhor atendimento possível para as pessoas.


E sempre pense. Que você, sua mulher, sua filha, sua mãe, poderia ter sido aquela mulher atropelada em frente ao Hospital, com a perna provavelmente quebrada, agonizando de dor (ou com algo ainda pior), aguardando por socorro que pode demorar dezenas de minutos, senão até mesmo horas, ou até mesmo 'tarde demais'.

Precisamos de mudança. E isso para o bem de todos.

E que Deus esteja com quem tomará a frente nessas questões. E me disponibilizo, se necessário a ajudar como for preciso, sobretudo com idéias, medidas, e meios para se desenvolver um sistema mais otimizado, maximizado.

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