21 outubro 2012

Ansiedade - Não nos devemos atormentar com o futuro

Hoje ao abrir o olho, me deparei com alguns livros que ficam ao lado da cabeceira da cama; dei uma olhada em alguns títulos, e logo me deparei com dois títulos de Sêneca, que já li há uns aninhos: "Da Felicidade da Alma" e "Das Relações Humanas". Por um momento tive um momento de relembrança das impressões e provocações que tais formidáveis obras deste filosofo estóico romano me causaram e me senti motivado a abrir o livro onde estava o Marca Página, e já me surpreendi com as palavras que havia grifado em tais:

"Somos, no mais das vezes, mais vítimas do nosso terror do que dos perigos reais, e sofremos mais com a idéia que fazemos das coisas do que com as próprias coisas."
Sêneca

Mais uma das máximas senecarianas, e logo me senti motivado a ler este capítulo, ou seja uma carta, pois este livro é nada mais do que uma reunião de cartas que Sêneca enviava para o seu discípulo Lucílio. E assim, compartilho convosco meus grifos deste capítulo:

Carta XIII

"Na verdade, antes mesmo de te teres fortalecido com a ajuda dos nossos salutares princípios que permitem vencer as dificuldades, tu bastavas a ti mesmo para enfrentar os golpes da sorte. [...] Nunca podemos ter confiança absoluta em nós mesmo antes que muitas dificuldades nos tenham sido apresentadas aqui e ali e mesmo que às vezes que não tenham tocado de perto: é quando se manifesta a verdadeira coragem, a que não depende de modo algum da vontade de outrem. É essa a prova de fogo!

[...]

Um atleta [...] depois de cada queda sempre se levantou mais decidido, só aquele vai para o combate cheio de esperança. Direi, para continuar com a comparação, que a sorte várias vezes já te abateu e que entretanto tu não te entregaste: retornaste o impulso e te reergueste, mais intrépido ainda. ...

Somos, no mais das vezes, mais vítimas do nosso terror do que dos perigos reais, e sofremos mais com a idéia que fazemos das coisas do que com as próprias coisas. [...] Na verdade, nós dizemos que tudo o que arranca gritos e gemidos não tem importância e é desprezível. Deixemos de lado essas grandes palavras, aliás muito justas, grandes deuses! Eis o meu conselho: não fiques infeliz antes da hora; os perigos cuja chegada iminente tu temes, talvez não cheguem nunca (de qualquer forma, nem sempre chegaram!). Alguns deles nos torturam excessivamente, outros cedo demais, outros ainda sem razão alguma. Aumentamos o nosso mal, nós o criamos inteiramente ou o antecipamos. [...] Veremos mais à frente se tais males nos atingem por sua própria força ou pela nossa fraqueza.

[...] Interroga-te mais: "Não é sem motivo que me atormento e me aflijo? Não estou criando um mal que não existe?"

"Mas como, tu me dirás, saberei que as minhas angústias são vãs ou fundamentadas?" [...] somos atormentados pela presente ou pelo futuro, ou por amos ao mesmo tempo. Pelo presente, é fácil resolver: se és livre, gozas de boa saúde e não sofres nenhum mal trato, a preocupação tem que vir só mais tarde; hoje, vai tudo bem. "Mas amanhã está chegando!" [...] Sim, meu caro Lucílio, rendemo-nos de imediato à opinião. Não refutamos o que nos leva a ter medo, não nos procuramos livrar dele: ao contrário, começamos a tremer e fugimos [...]. Não sei por quê, o falso perturba mais do que o verdadeiro: este tem sua própria medida; mas tudo o que é incerto está sujeito às conjecturas e aos caprichos de uma imaginação movida pelo temor. Não há medo mais funesto, nem mais difícil de se acalmar do que um medo pânico. Os outros tomam conta de uma alma que perdeu a razão, este, de uma alma que perdeu a própria inteligência.

[...] A vida não seria suportável, a infelicidade não teria limites, se temêssemos tudo o que de aborrecido pode acontecer [...] Se tens mais motivos para temer, tende para o lado da esperança, e pára de te atormentares [...], se tortura e queima de inquietude. [...] trememos por causa de rumores duvidosos que tomamos por certezas. Não sabemos manter a menor medida: a menor dúvida vira medo.

[...] Tu dizes isto: "Que venha, e depois? Veremos qual dos dois vai vencer. Talvez venha para o meu bem: A minha morte honrará a minha vida." [...] Mais uma razão para aumentares e embelezares o que é bom em ti.

[...] "Os tolos, entre outros males, são afligidos por este: estão sempre começando a viver." [...] O que há de mais feio do que um velhinho que começa a viver?

Sêneca, Carta XIII


Acredito que esta colocação de Sêneca pode ser considerado uma paráfrase de quando Jesus disse: "Não vos inquieteis, pois, pelo dia de amanhã, porque o dia de amanhã cuidará de si mesmo. Basta a cada dia o seu mal." Mateus 6:34

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