07 janeiro 2012

Admirável Mundo Novo

Estou lendo a incrivel obra “Admirável Mundo Novo” (Brave New World) de Aldous Huxley. Um grande clássico de ficção, publicado em 1932, que descreve o mundo no futuro, de modo de como as transformações que agora estão ocorrendo, de uma perspectiva consumista, utilitária, entre outros; de modo que extrapola mostrando claramente que espécie de futuro, de sociedade que estamos formando. E o admirável, é que o livro foi escrito por volta de 1930, ou seja, numa perspectiva de civilização daquela época. Com isto, hoje, 70 anos depois, vemos claramente que muitas das coisas propostas pelo livro (que talvez fossem utopias na época) hoje já são realidade, e outras, em processo.

1. Do controle populacional
Nesse futuro, as pessoas foram condicionadas a ter total repulsão em ter filhos, de modo que a anticoncepção tornou-se um valor intrínseco, tão elementar quanto dizer que ninguém quer passar fome. E deste modo, não existia mais o conceito de ‘familia’, de ‘mãe’, ‘pai’, tais passaram a ser considerados selvagerias do passado, de uma sociedade bárbara, que dá a luz 'como um animal’. Mas a nova produção de pessoas é totalmente feita em laboratório, muito controlado, com uma perspectiva Fordista (alias, Ford é considerado o Deus, na obra), de modo a maximizar a produção; e já atribuindo aos embriões as características das castas sociais a qual pertenceria. Todavia, para chegar neste ponto, a humanidade teve que passar por uma grande Guerra Civil, um grande extermínio de quando a população chegou a nível alarmante, de modo, que aqueles que eram contra a este 'novo modelo de sociedade', foram sendo exterminados brutalmente. Todavia, depois, perceberam, que era mais fácil e dava mais resultado apenas ir condicionando, convencendo as pessoas, através da propaganda. Ah, como ia me esquecer, e caso alguém por acidente engravidasse, havia o grande Centro de Aborto; e do mesmo modo, era óbvio fazer o aborto.

2. Do Utilitarismo
As pessoas eram produzidas a partir de uma demanda. Por exemplo: “Preciso de x engenherios”, ou “Preciso de y mineradores.”, ou “Preciso de w limpares de esgoto.” E por assim vai. E desde a escolha de como seria formado o feto, até como este seria produzido até ter então o ser humano pronto, tudo era pensando em função do seu trabalho, “da utilidade que exerceria”. E assim, mesmo quando bebe, e por assim vai, toda a ‘educação’ dele seria um condicionamento para exercer perfeitamente o trabalho que realizaria (alias, o ideal era produzir o maior número de gêmeos possível), só poderia ler livros sobre tal, seria condicionado de modo a considerar que isso, esse trabalho era a sua felicidade e a não desejar, nem imaginar ou pensar em realizar a função, trabalho de outra pessoa. Ao mesmo tempo, que o Consumo de coisas manufaturados era uma obrigação, fazia parte da utilidade, então eram condicionados também, a não admirar ou gostar de se divertir com a Natureza por exemplo, contemplar uma paisagem, as estrelas, ir numa cachoeira, observar as flores, porque isso não trazia vantagem financeira, não precisaria consumir coisas para isso, então eram condicionadas a odiar, detestar tais coisas; mas sim, a viver nas cidades, e a se divertir com brinquedos e esportes que tivessem que usar muitos objetos produzidos pela industria, e cada vez, que fossem se divertir, mais objetos.

3. Do fim da moral (ou melhor, a transformação)
Para ocorrer esses acontecimentos, seria, obviamente, também necessário controlar a perspectiva filosófica de vida destas pessoas. De modo, que então, se criaria vários clichês, frases com os conceitos do que queriam que as pessoas pensassem, o que queriam ter como perspectiva de vida, felicidade, do que era bom, e isto era repetido infinitamente em sua infância e adolescência, no dia-dia, até mesmo enquanto dormia, e tinham que exercitar, ficar repetindo 500 vezes, 2 vezes por semana, por 5 anos (não lembro os números exatos). E então, para eles, isto os convenceria, isto então FORMARIA UMA VERDADE. Qualquer verdade poderia ser produzida, bastasse repeti-la infinitas vezes, para toda a massa da população, impossibilitá-la de pensar diferente, e ai viraria tudo senso comum, e todos iriam acreditar que aquilo era verdade. E tudo isso tinha uma perspectiva Estadista (vamos assim dizer), de controle do Coletivismo, ou seja, o condicionamento consistia em criar as seguintes verdades, por exemplo:

- Não existe pior ato, ou mais depravado do que ser mãe, ou pai, ou ter família, dar a luz a um bebe;
- Todos são importantes para o todo, cada um tem que fazer a sua função e respeitar a do outro;
- Todos são de todos; ser individualista, pensar no ‘eu’, é imperdoável;
- É preciso consumir tudo o que é novo. Sempre jogar as coisas velhas fora e comprar um novo. É preciso Consumir, comprar coisas novas, de tudo. Consumir e consumir, quanto mais coisas, melhor. É melhor comprar uma roupa nova do que remendar.
- Se sentir um tiquinho de infelicidade, preocupação, insatisfação, dúvida, tome um pouco de soma imediatamente.

Nesses condicionamentos, temos as maximizações de alguns conceitos já presentes; que a grosso modo, achamos ‘bons’. Todavia, que não passam de modelos de controle social. Bem, consequente a essas coisas temos também que não haveria lógica permitir que ideias de filósofos, ou então, tampouco de religiões, sobretudo do Cristianismo, ocorressem. E tais coisas, foram erradicadas, abolidas, exterminadas como pensamentos nojentos dos selvagens primitivos do passado, dos incivilizados.

Toda a moral Cristã foi erradicada. E com isso, logicamente, temos então, os avanços máximos da tecnologia, que permitem tornar o homem plenamente satisfeito, feliz; e ao mesmo tempo, não frustrado, não ansioso. E com isso, tem a questão do ato sexual, ‘brincadeiras eróticas’ (como seria dito, é literalmente, uma brincadeira). Pois, as pessoas naturalmente tinham esse desejo, e aí, quando eles percebiam que tinham esse desejo, mas não conseguiam um parceiro(a), ou tal não aceitava, tal ficava frustrado, triste, chateado, até que então finalmente conseguisse. Ou seja, entre a consciência do desejo e sua realização havia um tempo. E quanto maior esse tempo, mais ruim é para o homem, mais frustra, mais infeliz. Logo, as pessoas foram condicionadas, e junto a tecnologia erradicar isso, e assim, por exemplo, em questão ao sexo. Todos eram de todos, não existia essa coisa de privacidade, de casal, união, era apenas brincadeira ao mesmo tempo, um dever civil, um dever como pessoa. E desde crianças, bebes talvez, eram condicionadas a ‘brincar’, ter inúmeros parceiros, “todos são de todos”. Se o Ricardo queria brincar de sexo com a Sheila, eles simplesmente iriam atrás da moita e faziam (atrás da moita porque o livro foi escrito em 1930, se fosse escrito hoje, bem, sigamos que na Holanda já é permitido fazer sexo em público - e livro nem faz menção há pessoas do mesmo sexo fazerem), não era algo pessoal, sentimental; era apenas a realização de um desejo, a satisfação. Todos eram condicionados a querer fazer, com todos, se alguém oferecesse, você tinha a obrigação de aceitar. E assim, era para todos os desejos que hoje poderíamos chamar de ‘carnais’ do homem. Alias, nisso, as mulheres de certo modo, eram mais consideradas, como mais status, mais desejada, aquelas que eram consideradas mais 'pneumáticas'.

4. O Fim da Vida
Do mesmo modo, as pessoas eram condicionadas a não ter outra perspectiva de vida senão a que foram condicionadas a viver. Os avanços da tecnologia (além de permitir 100% de sucesso no condicionamento) permitiram as pessoas envelheceram tão jovialmente quanto uma pessoa de 30 anos. Todavia, quanto chegava aos 60 anos, era hora de morrer, pois a partir daí ia perdendo sua utilidade, já era velho, ou seja, tudo que é velho tinha que ser jogado fora, para um novo ser consumido. Iam para o incinerador, e todo a constituição do seu organismo era reaproveitada, por exemplo, para fertilizante, ou para o armazenamento de cálcio. Era apenas o fim. As pessoas eram condicionadas de que eram apenas um ‘produto’ (um robô), fabricadas para um fim utilitarista na sociedade, viveriam felizes, e ai, aos 60 anos era o fim da sua validade, e morriam. Pronto. Ninguém questionava a isso. E todos foram condicionados a considerar isso como o natural, obvio, elementar, inquestionável. (claro, mais um motivo para terem abolido o Cristianismo).

5. Soma – O Remédio Para Tudo
Bem, inevitavelmente, sempre acaba acontecendo qualquer situação de desconforto, de infelicidade, tristeza, incerteza, insatisfação, seja com o que fosse. Fosse por exemplo: “Hoje não estou afim de fazer sexo.”, ou “Fui mal na prova.”, ou “Fui demitido.”, ou “Tenho duvidas existenciais”, ou “sinto tédio” (o que era impossível, pois existiam diversas atratividades), ou "Sinto dor, ou com fome, ou nojo". Bem, seja qual fosse o embaraço emocional, o problema. O que hoje, muitas pessoas recorrem as diversas drogas existentes no mercado, como por exemplo, o Alcool, crack. Bem, neste futuro, os engenheiros químicos conseguiram fazer a droga perfeita. Bastava engolir uma capsula (alias, todos estavam sempre bem abastecidos com várias delas no bolso) e imediatamente teriam todos os melhores efeitos das drogas e com absolutamente NENHUM efeito colateral para organismo. Ou seja, não fazia mal para ninguém; não deixaria ninguém viciado, ou doente, ou com sono, ou lelé da cabeça, ou seja lá, o que normalmente hoje tentam usar de argumentam para não usar [“faz mal a saúde”]. Ou seja, bastava tomar, e todos os seus problemas eram esquecidos, você se sentia nas nuvens. Se estivesse uma triste chuva, você veria um lindo sol brilhar. Ficaria super feliz, contente, se sentiria, absolutamente a pessoa mais feliz do mundo.

E deste modo, o Soma, se tornou o instrumento mais essencial para controlar as pessoas. Pois, bastasse elas sentir ou pensar qualquer coisa que soasse ‘insatisfação’ com o como é as coisas, a vida, o mundo, a sociedade, como elas agem, o que aconteceu e etc; e bastasse tomar uma capsula de soma, e tudo estaria resolvido. E assim, tudo era normalizado novamente. (alias, a bebida alcoólica é o Soma do Brasil, com qual o Governo ainda consegue controlar um pouco a população: "Carro, futebol, churrasco e cerveja.", e o brasileiro está feliz)

E assim, o controle era realizado pelos administradores desta sociedade. Permitindo o ciclo da sociedade estável, da estabilidade e da ‘felicidade’ sempre continuo.


Bem, a partir desta ficção sobre o futuro, pense sobre os processos que estão acontecendo no mundo hoje, na sociedade, na sua vida, na sua carreira, no seu trabalho, na sua educação, na mídia, e tudo mais. O que está acontecendo com as famílias. E então pense: “Para onde estamos indo?”, “Que tipo de mundo estamos formando?”, “O que estamos fazendo?”, “Em que tipo de pessoa ou PRODUTO estamos nos tornando?”

Uma observação (entre dezenas que poderia fazer com este livro):
Há certo momento do livro, em que os jovens estudantes, já bem condicionadas (ou seja, verdadeiros observadores e guardiães da ‘verdade’), tais são levados há um tipo de palestra no qual o D.I.C. é falado sobre o passado, de como consideravam absurdo as pessoas não praticar sexo quando simplesmente desejarem. Este trecho, creio eu que vale a pena redigir:

“Revelou a espantosa verdade. Durante um período muito longo antes de Nosso Ford, e até no decurso de algumas gerações ulteriores, os brinquedos eróticos entre as crianças eram consideradas anormais (houve uma gargalhada); e não apenas anormais, mas realmente imorais (não!); e eram, portanto, rigorosamente reprimidos.
A fisionomia de seus ouvintes tomou uma expressão de incredulidade espantada. O quê? As pobres crianças não tinham o direito de se divertir? Não podiam acreditar.
- E até mesmo os adolescenes – dizia D.I.C. –, os adolescentes como os senhores...
- Não é possível!
- Salvo um pouco de auto-erotismo de homossexualidade, às escondidas... absolutamente nada.
- Nada?
- Na maioria dos casos até terem mais de vinte anos. (o livro foi escrito em 1930)
- Vinte anos? – ecoaram os estudantes, num ruidoso coro de cetismo.
- Vinte anos – repetiu o Diretor. – Eu os preveni de que achariam isso incrível.
- Mas, então, o que acontecia? – perguntaram. – Quais eram os resultados?
- Os resultados eram terríveis. – Uma voz profunda e vibrante interpôs-se no diálogo, sobressaltando-os.
(...)
- Terríveis – replicou.”
Admirável Mundo Novo, cap. 3


Isso escrito em 1930, e hoje: O que diríamos disso? É comum, talvez a maioria, dos adolescentes de hoje, com 12 ou 13 anos, já iniciaram sua vida sexual, e suas ‘brincadeiras eróticas’. E a tendência é diminuir a idade ainda mais. Ao mesmo tempo, que as baladas, o ‘fica-fica’ do dia-dia entre os jovens, está cada vez mais comum, um tipo de atitude semelhante a essa perspectiva do autor, sexo sem compromisso, tudo apenas como uma ‘diversão’, está se tornando normal. Enquanto, que já está crescendo o número dos que ‘riem’, dos adolescentes, que não fazem, ou dos que só depois dos 20, ou depois de casar.

Como já dizia a Biblia, no fim dos tempos, o mundo seria como Sodoma e Gomorra. Disso, para pior. O que há 70 anos era ficção e utopia, hoje já é, em grande parte, realidade. A próxima geração que aguarde.


Apenas para deixar o gostinho:
O livro previu o surgimento da música sintética, a música eletrônica, de produtos tecnológicos que produziriam cheiros, paisagens e cores, no interiores de casas, prédios, quartos...

2 comentários:

Lex disse...

Uma coisa que achei impressionante nesse livro foi o que o autor descreveu sobre os relacionamentos. Já em 1932 Huxley conseguia perceber a filosofia do "ninguém é de ninguém" que vinha, insipiente, na sociedade. Na obra, as pessoas se envolviam em relações casuais, movidas apenas pelo interesse sexual. Alguns personagens, inclusive mulheres, possuiam vários desses relacionamentos simultaneamente sem qualquer expectativa de compromisso.

Retrata muito bem os dias atuais, nos quais muitas pessoas tem adiado, o quanto possível, o casamento (alguns até abandonam a ideia de se casar) para viver mais tempo em relacionamentos ocasionais, buscando sempre uma "nova" experiência. Na verdade, alguns, mesmo que se casem, acabam cedendo à vontade de viver da forma descrita acima.

Um choque de atualidade vindo dirtamente da década de 30... impressionante!

Ouvi dizer que "Regresso ao Admirável Mundo Novo", do mesmo autor, também é muito bom.

E. C. O. Schulz disse...

Obrigado Lex, incrivel colocação, não poderia fazê-lo melhor.

Mais uma das coisas anunciadas pelo autor em 1930 e que se tornara realidade.


Me falaram do "Regresso", mas ainda não o pude ler. Certamente, estará na lista das próximas leituras.