22 maio 2011

O Senhor dos Anéis - As Duas Torres

O livro basicamente é uma contradição ao filme. Em quase tudo, já faz quase 1 mês que o li, e só de relance algumas contradições que lembro:
- Não houve aquela batalha com os Wargs, no qual Aragorn caiu num penhasco e depois perambulou até chegar ao forte;
- Eomer não abandonou o rei Theoden de Rohan, ou foi expulso de modo que Gandalf foi atrás dele e só chegou naquela manhã do ultimo dia de batalha;
- Não foi Ginli quem tocou a trombeta, ele se separou dos demais junto a Eomer no meio da batalha, sendo encurralado para as cavernas; Mas no final ganhou na contagem de Legolas por um;
- Os Elfos não ajudaram Rohan na batalha;
- Saruman não morreu, não caiu da torre, como mostra na versão extendida;
- Faromir era muito honrado, ele não forçou Frodo, Sam e Gollun para as batalhas em Gondor, nem quis usar o anel, mas antes ajudaram-lhes;
- logo no inicio, os Orcs carregando Pippin e Merry não brigaram porque queriam comê-lo; na verdade foi um confronto entre 3 raças de Orcs, uns do Norte, outros de Mordor e outros de Orthanc, qual um queria ir para cada lado;

Bem havia vários outros.

Mas quanto ao livro em si, a vista grossa é difícil ver algo além de um livro épico, de uma grande história de aventura. Contudo, vemos algumas coisas interessantes, especialmente a questão da "companhia". O circulo de amizade e fraternidade sempre está muito presente. O que seria de Frodo sem Sam? Ao ler o livro eu fiquei extremamente impressionado com Frodo e Sam, especialmente Sam. Pois Sam é basicamente aquele simples hobbit (pequeno, nem 1metro e 20 de altura, simples, que por ele passava o resto da vida como um simples jardineiro), mas que fez feitos e de uma bravura extraordinária. E vamos assim dizer "POR AMOR A FRODO", mas Tolkien não fala de um amor corruptivel, de um amor erótico, vamos assim dizer, aquilo que levianamente, na mentalidade de hoje pensaríamos: Frodo e Sam formariam um belo casal. Não! Longe disso. Um mais genuino amor de amizade e companheirismo. E além disso, do outro lado da História, feitos semelhantes ocorrem entre Merrin e Pippin; e também com Aragorn, Legolas, Gimli e Eomer, entre outros Dedenadains que aparecem vindo do norte para seguir Aragorn.

Também outra questão tratada é quanto a cobiça do Poder (representado pelo anel). Pois muitos pensam, como Boromir, simplesmente: "Por que não pegar tanto poder e usar para o bem? Para lutar e acabar com a vontade maligna de Sauron?" Pois algo que até Frodo já notara é que, este poder o controlaria, a pessoa o usaria sim, para tais feitos, mas ao mesmo tempo, se tornaria um autoritário. E algo que eu pensei quanto a isso foi: Por que simplesmente Deus não pega um cristão bem fiel e consagrada e lhe dê muitos poderes, coisas absurdas, como um tipo de Superman, e ao mesmo tempo extraordinário intelecto que ninguem conseguiria debater contra ele? Por que não dá riquezas para aqueles cristãos super humildes, simples, que trabalham e se dedicam muito para suas coisas, para a obra, para a igreja, mas que ao mesmo tempo, possuem uma vida de miséria, ou que precisam se matar de trabalhar; pois ai poderiam dedicar ainda mais tempo e recursos para tais frentes? E o Frodo então até mesmo chega a concluir que o próprio desejar estas coisas já é uma corrupção.

Mas talvez o que mais me surpreendeu no livro foi quanto aos Ents, as pastores de arvores. Tais que eram mais antigos que os Elfos, criados pelos Valar. Eles possuiam um idioma muito especial. Veja:

[Disse Barbárvore:] "Não se arrisquem a se embrenhar na floresta de Laurelindóreman! É assim que os elfos costumavam chamá-la, mas agora eles encurtaram o nome: Lothlórien, é como a chamam. Talvez estejam certos: talvez ela esteja sumindo e não crescendo."

Em outro momento Bárbavore explica mais sobre o seu idioma, extremamente único, comprido, longo. A pronúncia de seu próprio nome levariam séculos para ser dito. Porque para ele, os nomes, as palavras, deveriam carregar a História daquilo que se refere. É uma idéia incrível, eu achei extraordinário. Pois ultimamente tenho pensado muito sobre idiomas, linguas, a pronuncia, significado das palavras, principalmente a música me incubiu tal pensamento, ao pensar na relação da palavra, do seu som, pronúncia e a idéia, a ligação de tudo isso, acho que é mais facil de se desenvolver ao pensar numa música meramente instrumental. Aliás, Beethoven não chegou certa vez a dizer que achava 'a fala' algo inútil, pois a máxima expressão se conseguia obter pela música, sendo que a fala (palavras) são extremamente limitadas.

Aliás, o livro é uma grande lição de Tolkien sobre linguagem e idioma.

- Essa, eu acho, é a língua dos rohirrim - disse Legolas -; pois é parecida com a própria terra; em parte rica e suave, mas ao mesmo tempo dura e austera como as montanhas. Mas não consigo adivinhar o significado das palavras, embora perceba que estão carregadas com a tristeza dos Homens Mortais.

Outra questão muito ótima, que eu realmente gostei. É uma contradição a Karl Marx, um protesto de Tolkien para muitos pensadores pró-revolucionários socialistas, com a sua idéia fixa na cabeça de "luta de classes", e de acabar com a idéia "daqueles que tem autoridade sobre outros e dominam". Pois no Senhor dos Anéis, especialmente em Rohan, vemos um caso em que as coisas podem funcionar, com um Rei, um bravo rei que ama seu povo, e dá do seu sangue, e de sua familia para lutar e salvar a vida dos seu povo, e ser justo, e manter a paz. O que nos faz lembrar de Salomão, em seus provérbios que diz que quando um rei ruim morre, o povo se alegra, e quando uma boa pessoa é coroada como rei, o povo se alegra. Aliás, idéia qual vemos no livro A Arte da Guerra, quando diz que um homem capaz de amar milhões de pessoas e a morrer por eles, esta pessoa está então capacidade para se tornar o governante deste povo.

Também há a questão da traição, do amor pelos nossos inimigos. Gollum era na cara uma criatura má, traiçoeira, que estava só esperando o momento certo para agarrar seu pescoço e esmagá-lo. Mas ainda assim, precisavam de certo modo dele. E num desses momentos de fúria contra Gollun, Frodo lembra das palavras de Gandalf:

- É uma pena que Bilbo não tenha apunhalado aquela criatura vil, quando teve a chance! - disse Frodo.
- Pena? Foi justamente Pena que ele teve. E misericórdia. Não atacar sem necessidade. - disse Gandalf.
- Não sinto nenhuma pena de Gollum. Ele merece morrer.
- Merece! Suponho que sim. Muitos que vivem merecem morrer. E alguns que merecem viver morrem. Você pode dar-lhes vida? Então não seja tão ávido para condenar à morte em nome da justiça, temendo por sua própria segurança. Nem mesmo os sábios conseguem ver os dois lados.

Tais palavras é um verdadeiro balde de água vida no ridiculo sendo de justiça dos homens. Aliás, qual já admito que sou contra a pena de morte, e até mesmo prisões, nos moldes como é. Pois, apenas Deus tem a verdadeira capacidade de poder julgar. Aliás, o que costumamos usar de desculpa? Lógico, "Segurança". Mas que ridiculo. Falamos de segurança como se fosse algo bom, nesse sentido. Quando na verdade queremos falar sobre o nosso medo, e o desejo de não sofrermos ou morrer. Quando a verdadeira segurança é aquela que nos impele a morte, e a sacrificar a própria vida independente de nosso medo. É quando superamos todos os nossos temores, simplesmente ao confiar que Deus é justo Juiz e fará perfeita justiça a todos.

Faramir também tem um discurso, em poucas palavras, sobre como olha para a Guerra, a Paz e a Tradição:

"A guerra deve acontecer, enquanto estivermos defendendo nossas vidas contra um destruidor que poderia devorar tudo; mas não amo a espada brilhante por sua agudeza, nem a flecha por sua rapidez, nem o guerreiro por sua glória. Só amo aquilo que eles defendem: a cidade dos homens de Númenor, e gostaria que ela fosse amada por seu passado, sua tradição, sua beleza e sua sabedoria presente. Não que ela fosse temida, a não ser da maneira que os homens temem a dignidade de um homem velho e sábio."

O temor dos sábios. Salomão fala muito sobre isso, sobre o temor a Deus, e que tal é o princípio da sabedoria. Bem, Faramir diz bem aqui, "da maneira de um homem velho e sábio". Não é aquele simples 'medo' que alguns falam. Não é uma atitude e/ou emoção ruim, perjorativa de algum modo amarga e destruidora para o que teme. Mas totalmente pelo contrário, é algo ótimo, edificante, e até mesmo doce, que nos enche de gosto, esperanças, energia, como o respeito que temos por alguem que admiramos muito; mas é num nivel muito acima do significado destas palavras. Aliás, acho que é bem a idéia do que trata o finalzinho da 4ª sinfonia de Bruckner.

Há alguns outros aspectos e detalhes. Mas prefiro deixar para a conclusão final, em O Retorno do Rei.

Novamente, afirmo: O livro é 1000x melhor que o filme. Acho que verei com desgosto o filme da próxima vez.

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