27 fevereiro 2011

2ª Sinfonia de Mario Ficarelli

Não quero fazer uma critica ao compositor brasileiro, que nada conheço, Mario Ficarelli, mas sua 2ª sinfonia. Contudo, como alguns consideram a arte como a expressão do coração, então talvez, haja algo que certamente podemos atribuir ao compositor.

Bem, eu não conhecia a música, não encontrei na net, e ouvi hoje interpretada pela Orquestra Sinfonica de Santo André. Tirando alguns engasgos na articulação de alguma trompa, de terem derrubado um instrumento da percussão no meio da música, nada a reclamar quanto a execução pela Orquestra. Quanto a composição da música, eu não consegui ver nenhum elemento regionalista da música brasileira (talvez algum na percussão), mas era um verdadeiro bolo que seguia a receita de uma música moderna; contudo, não percebi nenhuma originalidade na composição, ao meu ouvir, fora uma grande mistura de elementos das Sinfonias de Shostakovich, muitos elementos da música de Stravinsky (principalmente a Sagração da Primavera), algum elemento "astrólogo" da música de Holst, e uma busca de fazer algo grandioso tão quão Mahler, e tentar superá-lo em questão a grandesa. Mas forçou a barra para todos esses elementos. Não ficou muito conexo, mas fragmentados, quase que independentes, a mesmo tempo presentes no mesmo local. De certo modo, acho que até mesmo faltou inspiração. Muito me pareceu que o compositor estava escravo de uma enorme "lista" de elementos da música contemporanea e de um arsenal de "timbres e efeitos" (a percussão que o diga), e ai, se sentiu obrigado a usar todos, e teve que de algum modo colocá-los no meio da música, e assim, subordinar a música a "esses elementos", ao invés do contrário, da inspirarão da música, requerer tais elementos.

Quanto a música, a música em si, eu simplesmente detestei (talvez "odiei" seria a melhor palavra). Por quê? Bem, apreciei muito a quantidade de timbres novos, sons tirados, harmonias, e muitos elementos e coisas feito, que certamente contribuirão para o meu conhecimento técnico de música. Mas o que detestei, é a parte que realmente me interessa na música, que a grosso modo, chamo de "a parte filosófica".

Bem, de inicio, a música começa com o tema "Paraiso". Contudo, já de cara ficou claro que não é um "Paraíso Cristão", mas alguma coisa muito exótica, distante, vaga, lenta, calma, tranquila, mas sem virtude, apenas algum tipo de contemplação da paz; mas amarrada a distancia. De certo modo, um Paraíso muito semelhante com a idéia de Nirvana do budismo; mas cheia de um elemento frio, gelado, oculto (qual ficamos pensando 'o que é?', 'quando vai se revelar?') que muito lembra elementos nas sinfonias de Shostakovish. Contudo, é absurdamente claro que este Paraíso é diferente do que poderíamos ver no 3º movimento da 9ª de Beethoven.

Aí então, passa a acontecer o movimento, a ação, a criação em si, do Universo, e da vida. Mas fica evidente que é uma proposta totalmente diferente da proposta cristã. Até mesmo, diferente da do Big Bang. Alguma idéia de criação de uma energia, do movimento das particulas, e que ai a agitação começa, e de repente surge a vida. Mas o que a música propõe como o elemento vida? A mera pulsação. É como o batimento do coração. É meramente isso. A vida é tratada como uma pura "animalia". Somos animais que fazem "tu-tum / tu-tum / tu-tum". Bem diferente da visão Bíblia que uma alma vivente, é a junção do corpo (do orgânico) + espírito qual provém e é dado por Deus.

No decorrer da música há uma grande negação a virtude. Principalmente, naquilo que poderiamos considerar virtuoso, como no caráter. A melodia é por muitas vezes opaca e ausente; mas apenas um movimento, movimento de átomos, de energia... é meramente isso. E as vezes, chega a ser terrível. Uma falta de propósito a vida, quase como um 'acidente', E se há algum elemento divino, esse é muito muito muito distante, como no deísmo; no qual, poderia até se dizer que a vida foi simplesmente criada ao acaso e deixada de lado; mas ela continua pulsando. E aí, inevitavelmente, essa vida é tomada pelo caos (como o movimento caótico, das colisões dos elétrons), se instaura ai a Teoria do Caos. E o Caos se torna o principal elemento que dura em toda a música, com raros e pequenos raios de luz de um possível concerto, ou esperança, ou de colocar as coisas no lugar.

A destruição se torna presente, e inevitavel. Os elementos e texturas seja lá do quê começam a ruir, desmoronar. E então, a vida entra em desespero, e com um falso arrependimento, no qual se arrepende pelas consequencias (não pelas causas), pelo ambiente caótico, inóspito e incomodo. E ai se refugiam a um grito, ao pedido desesperador de socorro. Mas a quem? Então fica essa coisa vaga, como que simplesmente "aos alienígenas". Mas só depois de muito tempo (sempre a 'demora' está presente), em meio a destruição e ao desfazer das coisas, e mesmo quando o ritmo cardiaco até muda para algo mais do tipo "arritmia"; de algum modo vem a Reconstrução. Incerto fica se é uma ajuda extraterrestre, ou se simplesmente uma reviravolta dos vivos. Mas uma reconstrução do quê? Não! NÃO DA ESPIRITUALIDADE. Tal é negada na música. Mas o que vem é simplesmente um habitat propicio para a pulsação. Repito, é sem espiritualidade. Não se encontra os elementos espirituais, que por exemplo veríamos em Bruckner... nem de longe. Isso me faz pensar num certo apelo ambientalista. Como se o caos, fosse meramente a destruição do habitat, e não o "mau". Na verdade, o dualismo não existe nessa música, se existe, o que predomina é o mau, o lado negro do caos, da corrupção, do instinto selvagem, da mera luta pela sobrevivência. Ao mesmo tempo, um ambientalismo no qual o homem pode reverter os danos, num longo e demorado prazo, de modo a poder fazer do habitat um lugar novamente 'bom' para a pulsação acontecer. Este é o único elemento da esperança, qual é bem antropocentrista - nada de teo.

Durante a longa sinfonia (de aproximadamente 50min), por muito tempo ansiei para que terminasse logo. Contudo, no final, após a música, eu estava tomado por uma certa depressão por ela. Quase que uma lavagem cerebral, no qual tentou acabar, eliminar da minha "alma". No sentido, da alma, que pode apreciar uma melodia, uma música, a qual deseja querer ouvir coisas belas, harmoniosas e até mesmo simples. A música tentou me convencer de que não existe MÚSICA e a Virtude (segundo Platão), mas apenas uma mera combinação de sons, vazios em si, e que tudo o que apenas existe é a pulsação de uma energia, criada e feita por mero acaso, sem propósito, e se foi por 'deuses', eles deixaram de lado, deram apenas o chute inicial - Deísmo. Por fim, a música sugeriu, tentou, tirar a espiritualidade da música.

Que coisa.
Por isso, detestei-a. Visto, que para meus ouvidos, se não contem o elemento espiritual, nem é música. Se Corpo + Espirito = Alma Vivente, segundo a Biblia. Para mim, Música = Combinação de Sons + Espiritualidade(nos moldes do Deus cristão).

2 comentários:

Mario Ficarelli disse...

Prezado Evandro de Oliveira. Adorei os seus comentários a respeito de minha obra (Sinfonia nº2 - "Mhatuhabh"). A considerar o tamanho da sua crítica, a expressão contida no seu pensamento,e a profundidade filosófica e espiritual que imprimiu ao seu escrito, concluí, para felicidade minha, que essa música mexeu com você. Que ela não não passou incólume, que ela, de algum modo, o "balançou". Apenas não sou Mozart, nem Beethoven, (longe de mim pretender isso) mas procurei no curso desse trabalho ser o mais autêntico e fiel ao meu pensamento musical. Se resvalei em lembranças de Shostakovitch foi porque sou um filho musical dele e por isso necessáariamente guardo em meu espírito alguns genes dele assim como de Holst e de outros pais musicais que venero. Diante disso tudo convido-o a conhecer melhor essa obra (ouvindo-a em meu site www.marioficarelli.com , com o próprio Maestro Moreno e a Sinfônica da USP) Acredito, sinceramente, que uma nova audição, poderá fazê-lo repensar alguns pontos e quem sabe, oxalá aconteça, passar a apreciá-la um pouco com o coração aberto.
Muito obrigado por ter escrito o que escreveu porque senti sinceridade. Ouça-a outra vez, sugiro.
Com estima,
Mario Ficarelli

E. C. O. Schulz disse...

Muito obrigado, senhor Ficarelli, foi uma grande honra ter tido seu comentário no meu blog, e de ter apreciado minha critica.

Provavelmente a ouvirei novamente, essa que me recomenda. Só espero ter deixado claro, que meu desgosto por ela foi no modo 'filosófico' como mexeu comigo. Mas no musical, me impressionou muito por muitos elementos que eu nem imagina existir e serem possíveis de ser produzidos por uma orquestra.

Muito obrigado mesmo.